3º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B
O terceiro domingo do Advento aprofunda a reflexão sobre
a vinda de Jesus como boa nova de libertação. No imaginário de Israel, o tempo
da libertação seria inaugurado quando Elias, o profeta idealizado, voltasse.
Por essa razão, os escritos do Novo Testamento que buscam relatar os tempos
imediatamente anteriores ao início do ministério de Jesus, retomam a figura de
João Batista. Indicador da presença de Deus no meio povo, ele serve para
mostrar a continuidade entre a primeira aliança e a nova aliança em Cristo.
O ano da graça...
No exíIio
babilônico, os israelitas que foram deportados desenvolveram diversos elementos
culturais e religiosos que mantiveram sua identidade de nação. Com isso
alimentaram a esperança de retorno à região de Israel.
O chamado
terceiro Isaías (c. 56-66), vivendo
com os exilados as alegrias do retorno à terra, além de alimentar a esperança e
robustecer a fé do povo, relê os fatos à luz da ação de Deus. O capítulo 61
pode ser chamado de “evangelho de Isaías”. A unção do Espírito, que sustenta a
esperança do povo, leva-o a ser porta-voz da boa notícia da
salvação-libertação.
Isaías
traz o anúncio da boa-notícia aos humildes, a cura aos feridos da alma, a
redenção aos cativos e a liberdade aos presos. Essas propostas expressam a
situação e o espírito do povo durante o exílio. Não trazem apenas uma
condenação às formas de opressão, mas colocados num paralelo servem como
elementos que ajudam o povo a aprofundar o sentido de sua fé. Viver a
experiência do sofrimento, provocado pela injustiça, leva o povo a amar a
justiça, e a repelir de seu meio quaisquer práticas que possam reproduzir a
situação de humilhação, prisão e ferida que viveu no exílio. Viver a mesma
situação dos pobres e sofredores deve levar os fiéis à experiência da
solidariedade.
A consequência de tudo isso é o anúncio do ano da graça
de Deus. Embora ainda marcado por uma mentalidade de vingança (v. 2b), o
profeta busca reconstruir sobre os escombros a dignidade do povo, O ano da
graça do Senhor revela que Deus age para nos salvar, apesar de nossos pecados.
A unção do Espírito (v. 1) reveste o povo de salvação e justiça. Passando pelo
sofrimento, o povo é chamado à prática da justiça e da misericórdia. À medida
que vive isso, mostra a fecundidade de Deus em seu meio. O ano da graça
acontece quando livre de seu orgulho, o povo vive na prática o princípio da
justiça e da solidariedade como expressão de sua fé.
Uma voz que
clama...
O
evangelho de hoje compõe-se de um recorte do preâmbulo do evangelho de João
(1,1-18) e a narrativa sobre João Batista (1,19-28). Para João, Jesus é a luz
que vem ao mundo, porque é a palavra de Deus que se encarna (1,14) e recobra
sua força criadora, gerando uma humanidade nova na graça (1,1-4).
A imagem
de João Batista é purificada. Sob a perspectiva da vinda de Jesus, ele é
apresentado como “enviado de Deus” para dar testemunho da luz e conduzir o povo
à fé. A relação entre luz e trevas, tão presente no evangelho de João, descreve
não somente a oposição entre a vida e a morte, mas antecipa o conflito
crescente entre a estrutura religiosa e Jesus. O apego a estruturas antigas e a
negação da misericórdia correspondem às trevas que impedem as pessoas de se
aproximar de Deus.
É próprio
do evangelho de João que as personagens tenham identidades claras. Por isso, já
de início, o Batista não é identificado com o messias, nem Elias ou um profeta.
Tendo presente a profecia de Isaias (1,23), para o quarto evangelho, João é a
profecia, que anuncia os novos tempos a serem inaugurados por Jesus Por isso
ele e a transição que faz a primeira aliança desembocar (batismo) na nova e
definitiva aliança em Jesus.
A ação e diálogo de João com os sacerdotes se dão em
Betânia (1,28), local da ressurreição de Lazaro (11,1-45) Essa indicação
geográfica já sinaliza o caráter do batismo de Jesus que cõmunica a vida,
resgatando da morte o gênero humano. O cumprimento do desígnio salvífico de
Deus realiza-se plenamente em Jesus, para- o qual João Batista nos aponta.
Uma humanidade
nova
Como
anúncio da vinda de Cristo, o tempo do advento é convite à confiança em Deus.
Relacionando seu nascimento com o início de seu ministério (leituras), a Igreja
expressa a razão de sua alegria e, de coração agradecido, vive o mistério do
natal como a única e definitiva boa nova que nos vem de Deus por Jesus.
Resgatando os elementos• explícitos da- profecia que sugerem a vinda de Cristo,
convida os fiéis a percepção da linha de continuidade entre o anuncio do
Primeiro Testamento e a vinda de Cristo. A partir dessa verdade que professa, o
cristão e chamado ao discernimento, para escolher o que e bom e orientar sua
prática segundo os valores do Reino.
A memória
do primeiro advento quer levar-nos à compreensão de que Deus nos santifica
(espírito, alma, corpo) em função da vinda de Çristo (2a leitura). Esse tempo
de preparação para o natal é fecundo, põrque conduz a Igreja à esperança e ao
anúncio da humanidade nova inaugurada em Cristo.
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