segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

TESTEMUNHA DA LUZ



3º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

Is 61,1-2ª.10-11; Lc 1,46.54; 1Ts 5,16-24; J0 1,6-8.19-28
O terceiro domingo do Advento aprofunda a reflexão sobre a vinda de Jesus como boa nova de libertação. No imaginário de Israel, o tempo da libertação seria inaugurado quando Elias, o profeta idealizado, voltasse. Por essa razão, os escritos do Novo Testamento que buscam relatar os tempos imediatamente anteriores ao início do ministério de Jesus, retomam a figura de João Batista. Indicador da presença de Deus no meio povo, ele serve para mostrar a continuidade entre a primeira aliança e a nova aliança em Cristo.
O ano da graça...
No exíIio babilônico, os israelitas que foram deportados desenvolveram diversos elementos culturais e religiosos que mantiveram sua identidade de nação. Com isso alimentaram a esperança de retorno à região de Israel.
O chamado terceiro Isaías (c. 56-66), vivendo com os exilados as alegrias do retorno à terra, além de alimentar a esperança e robustecer a fé do povo, relê os fatos à luz da ação de Deus. O capítulo 61 pode ser chamado de “evangelho de Isaías”. A unção do Espírito, que sustenta a esperança do povo, leva-o a ser porta-voz da boa notícia da salvação-libertação.
Isaías traz o anúncio da boa-notícia aos humildes, a cura aos feridos da alma, a redenção aos cativos e a liberdade aos presos. Essas propostas expressam a situação e o espírito do povo durante o exílio. Não trazem apenas uma condenação às formas de opressão, mas colocados num paralelo servem como elementos que ajudam o povo a aprofundar o sentido de sua fé. Viver a experiência do sofrimento, provocado pela injustiça, leva o povo a amar a justiça, e a repelir de seu meio quaisquer práticas que possam reproduzir a situação de humilhação, prisão e ferida que viveu no exílio. Viver a mesma situação dos pobres e sofredores deve levar os fiéis à experiência da solidariedade.
A consequência de tudo isso é o anúncio do ano da graça de Deus. Embora ainda marcado por uma mentalidade de vingança (v. 2b), o profeta busca reconstruir sobre os escombros a dignidade do povo, O ano da graça do Senhor revela que Deus age para nos salvar, apesar de nossos pecados. A unção do Espírito (v. 1) reveste o povo de salvação e justiça. Passando pelo sofrimento, o povo é chamado à prática da justiça e da misericórdia. À medida que vive isso, mostra a fecundidade de Deus em seu meio. O ano da graça acontece quando livre de seu orgulho, o povo vive na prática o princípio da justiça e da solidariedade como expressão de sua fé.
Uma voz que clama...
O evangelho de hoje compõe-se de um recorte do preâmbulo do evangelho de João (1,1-18) e a narrativa sobre João Batista (1,19-28). Para João, Jesus é a luz que vem ao mundo, porque é a palavra de Deus que se encarna (1,14) e recobra sua força criadora, gerando uma humanidade nova na graça (1,1-4).
A imagem de João Batista é purificada. Sob a perspectiva da vinda de Jesus, ele é apresentado como “enviado de Deus” para dar testemunho da luz e conduzir o povo à fé. A relação entre luz e trevas, tão presente no evangelho de João, descreve não somente a oposição entre a vida e a morte, mas antecipa o conflito crescente entre a estrutura religiosa e Jesus. O apego a estruturas antigas e a negação da misericórdia correspondem às trevas que impedem as pessoas de se aproximar de Deus.
É próprio do evangelho de João que as personagens tenham identidades claras. Por isso, já de início, o Batista não é identificado com o messias, nem Elias ou um profeta. Tendo presente a profecia de Isaias (1,23), para o quarto evangelho, João é a profecia, que anuncia os novos tempos a serem inaugurados por Jesus Por isso ele e a transição que faz a primeira aliança desembocar (batismo) na nova e definitiva aliança em Jesus.
A ação e diálogo de João com os sacerdotes se dão em Betânia (1,28), local da ressurreição de Lazaro (11,1-45) Essa indicação geográfica já sinaliza o caráter do batismo de Jesus que cõmunica a vida, resgatando da morte o gênero humano. O cumprimento do desígnio salvífico de Deus realiza-se plenamente em Jesus, para- o qual João Batista nos aponta.
Uma humanidade nova
Como anúncio da vinda de Cristo, o tempo do advento é convite à confiança em Deus. Relacionando seu nascimento com o início de seu ministério (leituras), a Igreja expressa a razão de sua alegria e, de coração agradecido, vive o mistério do natal como a única e definitiva boa nova que nos vem de Deus por Jesus. Resgatando os elementos• explícitos da- profecia que sugerem a vinda de Cristo, convida os fiéis a percepção da linha de continuidade entre o anuncio do Primeiro Testamento e a vinda de Cristo. A partir dessa verdade que professa, o cristão e chamado ao discernimento, para escolher o que e bom e orientar sua prática segundo os valores do Reino.
A memória do primeiro advento quer levar-nos à compreensão de que Deus nos santifica (espírito, alma, corpo) em função da vinda de Çristo (2a leitura). Esse tempo de preparação para o natal é fecundo, põrque conduz a Igreja à esperança e ao anúncio da humanidade nova inaugurada em Cristo.
 

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