terça-feira, 31 de outubro de 2017

COMEMORAÇÃO DE TODOS OS FIÉIS FALECIDOS - FINADOS

A MORTE, UM MISTÉRIO



A Igreja dá à data litúrgica de 2 de novembro o título de “Comemoração de todos os fiéis defuntos”. É um dia no qual nós, cristãos, rezamos principalmente pelos nossos irmãos na fé, ou seja, os batizados em Cristo, que já morreram. Claro que toda a humanidade – e não só os cristãos – são objeto da oração e solicitude da Igreja, que é Corpo de Cristo, o Salvador de todos! Diariamente, na Santa Missa, a Igreja recorda não somente os “nossos irmãos que partiram desta vida”, mas também “todos aqueles cuja fé só vós conheceis”!

Seja como for, o Dia de Finados coloca-nos diante de uma questão fundamental para nossa existência: a questão da morte. Nosso modo de enfrentar a vida depende muito do modo como encaramos a morte, e vice-versa! Atualmente, há quatro modos possíveis de encará-la, de colocar-se diante da realidade da morte. Senão vejamos:

Há aqueles – e não são poucos – que cinicamente a ignoram. Vivem como se um dia não tivessem que morrer: preocupam-se tão somente com esta vida: comamos e bebamos! Em geral, quando vão a um sepultamento, conversam o tempo todo sobre futebol, política ou quaisquer outros assuntos banais e rasteiros. São pessoas rasas, essas; pessoas que nunca pararam de verdade para se perguntar sobre o sentido da vida e, por isso mesmo, não vivem; sobrevivem, apenas! Estas, quando tiverem que enfrentar a própria morte, que vazio, que absurdo encontrarão! É o preço a pagar pelo modo leviano com que viveram a vida! Isto é triste porque quando o homem não pensa na morte, esquece que é finito, passageiro, fugaz e, assim, começa a julgar-se Deus de si mesmo e tudo que consegue é infernizar sua vida e a dos outros. São tantos os exemplos atuais…

Há ainda aqueles que diante da morte se angustiam, apavoram-se até ao desespero. A morte os amedronta: parece-lhes uma insensatez sem fim, pois é a negação de todo desejo de vida, de felicidade e eternidade que cresce no coração do homem. Estes sentem-se esmagados pela certeza de um dia ter que encarar, frente a frente, tão fria, tirana e poderosa adversária. Assim, querendo ou não, podem afirmar como Sartre, o filósofo francês: “A vida é uma paixão inútil!”

Há também um terceiro grupo: o dos otimistas ingênuos. Vemo-los nessas seitas esotéricas de inspiração oriental e em todas as doutrinas reencarnacionistas. A Seicho-no-iê, por exemplo, afirma que o mal, a doença, a morte, são apenas ilusão: a meditação, o autocontrole, a purificação contínua, podem libertar o homem de tais ilusões; o Espiritismo, proclama, bêbado de doce ilusão: “A morte não existe. Não há mortos!” – É esta a afirmação existente num monumento ao nascimento do Espiritismo moderno, em Hydesville, Estados Unidos. Não há morte para nos agredir; há somente uma desencarnação!

Mas, há ainda um último modo de encarar a morte, tipicamente cristão. A morte existe sim! E dói! E machuca! Não somente existe, como também marca toda a nossa existência: vivemos feridos por ela, em cada dor, em cada doença, em cada derrota, em cada medo, em cada tristeza… até a morte final! Não se pode fazer pouco caso dela: ela nos magoa e nos ameaça; desrespeita-nos e entristece-nos, frustra nossas expectativas sem pedir permissão! O cristão é realista diante da morte; recorda-se da palavra de Gn 2,17: “De morte morrerás!” Então, os discípulos de Cristo somos pessimistas? Não! Nós simplesmente não nos iludimos: sabemos que a morte é uma realidade e uma realidade que não estava no plano de Deus para nós: não fomos criados para a ela, mas para a vida! 

Deus não é o autor da morte, não a quer nem se conforma com ela! Por isso mesmo enviou-nos o seu Filho, aquele mesmo que disse: ”Eu sou a Vida; eu sou a Ressurreição!” Ele morreu da nossa morte para que nós não morramos sozinhos, mas morramos com ele e como ele, que venceu a morte! Para nós, cristãos, a morte, que era como uma caverna escura, sem saída, tornou-se um túnel, cujo final é luminoso. Isto mesmo: Cristo arrombou as portas da morte! Ela tornou-se apenas uma passagem, um caminho para a nossa Páscoa, nossa passagem deste mundo para o Pai: “Ainda que eu passe pelo vale da morte, nenhum mal temerei, porque está comigo!” Em Cristo a morte pode ser enfrentada e vencida! 

Certamente ela continua dolorosa, ela nos desrespeita; mas se no dia a dia aprendermos a viver unidos a Cristo e a vivenciar as pequenas mortes de cada momento em comunhão com Senhor que venceu a morte, a morte final será um “adormecer em Cristo”.
Por tudo isso, o Dia de Finados é sempre excelente ocasião não somente para rezar pelos nossos irmãos já falecidos, mas também para pensarmos na nossa morte e na nossa vida, pois “tal vida, tal morte!


terça-feira, 22 de novembro de 2016

VIGIAI

INÍCIO DE UM NOVO ANO LITÚRGICO 

I DOMINGO DO ADVENTO ANO A

O Ciclo do Natal se inicia com o Advento e neste tempo nós começamos nossa preparação para a comemoração do Nascimento de Jesus, para a chegada do Menino Deus e Rei em nossas vidas. A cada ano celebramos esta chegada e proponho uma chamada de consciência para verdadeiramente aceitarmos Cristo como nosso único Rei e Salvador, Caminho, Verdade e Vida.


(Is 2,1-5) - (Rm 13,11-14) - (Mt 24,37-44)

O primeiro domingo do Advento é o início do ano litúrgico. Para os cristãos, é o verdadeiro “ano novo”, pois a nossa vida de fé é marcada e ritmada pela celebração do Mistério de Deus. O Advento é tempo de preparação para o Natal; tempo que deve ser vivido numa dupla atitude: intensificar a leitura e a meditação da Palavra de Deus e a penitência.

O texto da liturgia de hoje é parte do discurso escatológico de Jesus (Mt 24,1–25,46); discurso sobre o fim. Entenda-se fim não como término, mas como aquilo que é definitivo para a existência humana. Normalmente, a linguagem utilizada para este tipo de discurso é a apocalíptica, que tem um tom um tanto dramático e, por vezes, causa certo medo nas pessoas que não ultrapassam o sentido primeiro do texto.

Em nosso caso, o discurso é exortação aos discípulos a colocarem a sua confiança naquilo que não passa. O precursor deste tipo de linguagem na Bíblia é o livro de Daniel (Dn 7–12), escrito em meados do segundo século antes de Cristo.

A evocação do tempo de Noé e o dilúvio servem para colocar os discípulos, destinatários do discurso (cf. Mt 24,1), de alerta e para os convidar a uma atitude de engajamento e coerência com sua vocação cristã. O dilúvio, como evento de purificação, é água divisora entre um antes e um depois. Parece que o dilúvio os faz abrir os olhos quanto ao modo como viviam: nada percebiam, “até que veio o dilúvio e arrastou a todos” (v. 39). A vida do ser humano não se encerra nos limites da história, nem se resume em comer e beber, nem em procurar “aproveitar a vida”.

Na descrição sumária do tempo de Noé, Deus não aparece; é como se ele não contasse para nada. A excessiva preocupação com questões relativas à vida de cada dia e com o bem-estar pode não só nos distanciar das coisas do céu, como também nos fazer prescindir do próprio Deus ou até ignorar sua presença. A história do tempo de Noé, antes do dilúvio, serve para ilustrar esta situação e interpelar os discípulos a que mantenham a vida referida a Deus.

A fé em Deus exige uma vida conforme a sua vontade: “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor!, entrará no Reino dos céus, mas o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). A vida de quem crê deve ser a expressão da fé que ele professa e do Deus em quem ele põe a sua esperança e confiança. O principal é buscar o Reino de Deus, que antecede todas as coisas, e por Deus o necessário é dado (ver: Lc 12,22-31).

A imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem exige uma atitude diferente das pessoas do tempo de Noé, anteriores ao dilúvio (cf. v. 39b-41). A atitude requerida é a da vigilância (cf. v. 42). Vigilância é trabalho de discernimento, é empenho na atividade cotidiana que engaja o homem na sua missão, fruto do seguimento de Jesus Cristo. “É hora de despertarmos do sono”, diz Paulo, “abandonemos as obras das trevas, e vistamos as armas da luz; procedamos honestamente como em pleno dia […]. Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,11-14).

O tempo litúrgico do Advento convida-nos à preparação para acolher o Senhor que vem. O apelo insistente da Igreja questiona a tendência dos cristãos a serem acomodados, quando não contaminados pela mentalidade mundana, centrados na busca desenfreada do prazer e na consecução de interesses pessoais.

Desconhecendo o dia e a hora em que o Senhor virá, o discípulo deve estar sempre pronto para recebê-lo. A prontidão cristã é feita de pequenos gestos de amor, na simplicidade do quotidiano. Nada de ações mirabolantes nem de tarefas heróicas a serem cumpridas! Exige-se do discípulo apenas amor sincero e gratuito a Deus e ao próximo.

O episódio bíblico acerca da figura de Noé e do dilúvio ilustra a atitude contrária àquela do discípulo do Reino. A devastação diluviana tomou de surpresa a humanidade. Ninguém, além de Noé e de sua família, deu-se conta do que estava para acontecer. Por isso, comia-se, bebia-se e se celebravam bodas, na mais total ignorância da fúria destruidora da natureza que se abateria sobre a Terra.

O Senhor espera encontrar os discípulos do Reino vigilantes, quando de sua chegada. A menor desatenção pode revelar-se perigosa. Por isso, o egoísmo jamais poderá ter lugar no coração de quem quer ser encontrado pelo Senhor. Só existe uma maneira de preparar-se para este momento: amar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

DEUS TORNA JUSTO QUEM O BUSCA COM FÉ

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

1ª Leitura – Eclo 35,15b-17.20-22ª – Sl 33,2-3.17-18.19.23 – 2ª Leitura 2Tm 4,6-8.16-18 – Evangelho – Lc 18,9-14

Todos os homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não pode entrar sozinhos na amizade de Deus. O primeiro ato de verdade que o homem deve fazer é reconhecer-se ser pecador, impotente para se salvar, e abrir-se pois, à ação de Deus.
O fariseu e o publicano: dois modos de dialogar com Deus
Vemos, na parábola, dois modos de conceber o homem e sua relação com Deus. A oração do fariseu é uma ação de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um pretexto para louvar-se a si mesmo e não a Deus, comprazer-se a si mesmo por não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso se considera justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é seu oposto. O publicano, ao contrário, está “na verdade”: consciente de sua culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia A sua é verdadeira oração. Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a oposição entre dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realiza-la pelo comprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé já se encontra delineado nesta parábola.
Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente homem justificado pela fé em Cristo, naquele que é ao mesmo tempo dom substancial do Pai e homem entre os homens e que pôde dar a única resposta agradável a Deus. É este motivo pelo qual a fé em Jesus salva. De fato, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o destino do homem. De si, como, de seus irmãos, Jesus exige renúncia absoluta, que implica na fidelidade à condição de criatura: renúncia até a morte e, se necessário, até à morte de cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; ao mesmo tempo, ele é homem entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade filial. A resposta ativa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa divina da salvação. Como homem,
A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo nos torna capazes da mesma “fidelidade filial” até a cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na qualidade de filho adotivo. A salvação é dom divino; torna-se, no homem, fonte de uma atividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na expectativa da condenação à morte, reflete sobre sua vida. Sua experiência de Cristo termina por um malogro humano: todos abandonaram, nenhum o defendeu em juízo. Mas ele “conservou a fé” combateu por Cristo e permaneceu fiel até a meta final. Sua esperança o leva à certeza da “ recompensa” que receberá de Cristo por sua dedicação e amor a exemplo de Jesus. Hoje a suficiência farisaica
não é mais observância de uma, lei: toma outro nome.
Em muitos ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a mais arte...É por isso mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo, Cristo como salvador. A salvação que traz não se opõe à salvação humana. Mas a conduz à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a ação de Deus presente, com seu espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo, Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos sacramentos com espírito farisaico.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A FORÇA DE QUEM TEM FÉ

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Hab 1,2-3;2,2-4 – Sl 94 – 2Tm 1,6-8.13-14 – Lc17,5-10

Cristianismo é fé é característica específica. “Nós afirmamos muito facilmente, com pressuposto, que religião e fé são a mesma coisa. Mas isso só é verdade até certo ponto...Por exemplo, o Antigo Testamento se apresentou, em seu conjunto, não sob o conceito de fé, mas de lei. Encarna primariamente um gênero de vida, no âmbito do qual o ato de fé vai continuamente adquirindo maior importância. Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se emita um ato de fé no sobrenatural; ele pode, decerto,faltar sem. Por isso, diminui a religião. Sendo a religião essencialmente um sistema de ritos, o elemento determinante é representado a seu olhos pela minuciosa observância das cerimônias”.
O justo viverá pela fé
A história da fé começa em Abraão. Sua atitude diante de Deus é de fé. Ainda que nosso pai nafé não tenha percebido distintamente o objeto de sua fé, teve, entretanto, todas as condições pessoais necessárias a fé. Respondeu prontamente “sim” ao chamado de Deus, que derruba seus planos, disposto a dar-lhe tudo, até o filho, desprezando todo cálculo humano. Superou as aparentes contradições para entregar-se somente à palavra de Deus, e nela viu a verdade que salva. Durante toda história do povo de Deus, os profetas foram os arautos da fé; convidaram a superar as seguranças e alianças humanas para se apegar com confiança à palavra dada pó Deus. Crer é dar-se a Deus, Vemo-lo na 1ª leitura: Deus “parece” ausente da história. O profeta o interroga sobre o enigma da opressão e da injustiça que invadem a sociedade em que vive, tanto dentro de Israel como entre as nações pela quais os fracos são esmagados. Deus responde que a fé e o único caminho para compreender o mistério da história. A resposta de Deus, porem, não é fácil consolação: fala de espera ainda longa. O que importa é permanecer firmemente ancorados só em Deus; crer no seu amor apesar de todas as aparência contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar.
A fé é adesão incondicional à pessoa de Jesus
No Novo Testamento o objeto da fé atinge a plenitude: o Filho de Deus se manifesta a seu reino é constituído. Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos para entregar-se a Deus com toda fidelidade. A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. A fé é, portanto obediência a Deus, comunhão com ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer torna-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã.
Fé como libertação de todos os ídolos
É também conhecimento novo, modo de ler a realidade com olhar de Cristo. “A fé é virtude, atitude habitual da lama, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo com espontaneidade e vigor”. O cristão animado pela fé, nela encontra a crítica permanente a todas as ideologias e a libertação de todos os ídolos. “Esta é a vitoria que venceu o mundo, a nossa fé. O cristão vive hoje num mundo secularizado do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele. Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança. A fé cristã é posta diante de um desafio: torna-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo. Portanto, é mais do que atual para os cristãos a invocação dos discípulos; “Senhor, aumentai a nossa fé”
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A RIQUEZA QUE ALIENA DOS BENS DO REINO

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Am 6,1ª. 4-7 – Sl 145 - 1Tm 6, 11-16 – Lc 16,19- 31

Pobreza e riqueza são tão antigas no mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à sorte e ao acaso. Os que veem na pobreza o sinal da incapacidade e da desordem moral, e na riqueza e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros, é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho do homem? Como mudar a ordem das coisas?
Felizes os pobres, ai dos ricos
Na Bíblia também encontramos dupla leitura da pobreza e da riqueza. Por um lado, a pobreza é escândalo, um mal a ser eliminado, um mal que é como cristalização do pecado, enquanto há na riqueza o sinal da bênção de Deus. O amigo de Deus é o homem dotado de todos os bens. O pobre é aquele no qual se manifesta a desordem do mundo.
Mas há também toda uma linha profética que termina no ai de vós os ricos! De Jesus e que vê na riqueza o perigo mais grave de auto -suficiência e de afastamento de Deus e insensibilidade para com o próximo. E em contraposição ao ai de vós, os ricos! Há o felizes os pobres: a pobreza se torna uma espécie de zona privilegiada para a experiência religiosa. O pobre é o amado de Deus; a ele é anunciado o Reino. O pobre é o primeiro destinatário da Boa-nova. A pobreza não é mais a desgraça ou escândalo, mas bem-aventurança. A bem-aventurança do pobre será plenamente revelada depois da morte, com uma inversão da situação (evangelho).

O evangelho é denúncia profética de toda ordem injusta

A parábola do rico e do pobre Lázaro ser considerada então como a aceitação fatalista de uma desordem constituída, na qual os ricos se tornam sempre mais ricos e pobres mais pobres, e em que o rico oprime o pobre? Como consolação alienante para os pobres deste mundo? A religião será o ópio que entorpece e mantém inquietos os pobres? Não é evangélico esse modo de ler a parábola; é uma caricatura do evangelho. O evangelho é denúncia profética de qualquer ordem injusta, e é revelação das causas profundas da injustiça. O pobre pode ser também rico em potencial, e lutar não pela justiça, mas para tomar o lugar dos patrões. O evangelho é apelo à conversão radical para todos, pobres e ricos, conversão a ser feita imediatamente.

...e força de transformação do mundo

A parábola mostra como perspectiva do futuro tem influência sobre o hoje e como relação do homem com o homem incide na sua vida definitiva na presença de Deus. O evangelho é uma força dinâmica de transformação continua. A aventura do amor, inaugurada por Cristo e prosseguida depois dele, convidando o homem a consentir ativamente na lei da liberdade, causou, de fato, mudança progressiva nas relações dos homens...Não é, porém, um manifesto revolucionário nem um programa de reforma em matéria social. É algo maior mais essencial. O evangelho não nos ensina nada sobre revolução. Tentar construir uma teologia da revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial. No plano dos objetivos e dos meios, os cristãos e os não-cristãos devem apelar para os recursos da razão humana, científica e moral; uns e outros devem procurar soluções eficazes, ainda que os comportamentos concretos possam divergir. Mas os cristãos, conquistados pela aventura do amor e só na medida que aceitam vive-la como Cristo e em seu seguimento, estarão mais atentos em fazer com que ela não degenere em novas opressões e novo legalismo.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A REDENÇÃO É LIBERTAÇÃO

1º DOMINGO DO TEMPO DO ADVENTO – ANO C

Jr 33, 14-16; Sl 24; 1Ts 3,12-4,2; Lc 21,25-28.34-36

Iniciamos hoje o Advento, tempo de expectativa e de esperança, mas, também, um tempo de vigilância e de oração. Abre-se agora uma ocasião muito especial para nossa conversão. É permanecendo atentos aos sinais dos tempos e esforçando-nos para viver a caridade que preparamos o Natal do Senhor. Em pé e de cabeça erguida, abramos nosso coração e deixemos que a justiça e a redenção aconteçam em nossa vida.
Neste 1º Domingo do tempo do advento, a Palavra de Deus apresenta-nos uma primeira abordagem á vinda do Senhor.
Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da aliança anuncia que é fiel às suas promessas e vai enviar ao seu Povo um “rebento” da família de Davi. A sua missão será concretizar esse mundo sonhado de justiça e de paz: fecundidade, bem-estar, vida em abundância, serão frutos da ação do Messias.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Messias filho de David, a anunciar a todos os que se sentem prisioneiros: “alegrai-vos, a vossa libertação está próxima. O mundo velho a que estais presos vai cair e, em seu lugar. Vai nascer um mundo novo, onde conhecereis a liberdade e a vida em plenitude. Estais atentos, a fim de acolherdes o Filho do Homem que vos traz o projeto desse mundo novo”. É preciso, no entanto, reconhecê-l’O saber identificar os seu apelos e ter coragem de construir, com Ele, a justiça e a paz.
A segunda leitura convida-nos a não instalamos na mediocridade e no comodismo, mas esperar numa atitude ativa a vinda do Senhor. É fundamental, nessa atitude, a vivência do amor: é ele o centro do nosso testemunho pessoal, comunitário, eclesial.
ATUALIZANDO
Em geral, quando se fala em fim do mundo, a sensação que temos é sempre de medo. A própria palavra apocalipse nos faz pensar apenas em catástrofes terríveis. Não é isso o que Jesus nos transmite com suas palavras. Ele quer que velamos esses acontecimentos trágicos como um tempo de libertação. De fato, quando Jerusalém foi destruída, os primeiros cristãos partiram para iniciar comunidades em outros países. Assim, o sofrimento transformou-se em redenção e em nova missão. Portanto. É preciso sempre erguer a cabeça, olhar para o alto e confiar no Senhor.
“Naqueles dias e naquele tempo farei desabrochar do tronco de Davi um germe de justiça; ele exercera o direito e a justiça sobre a terra” (Jr 33,15). Os profetas do Antigo Testamento geralmente anunciavam uma esperança próxima, sem perceber que de fato Deus os inspirava para anunciarem uma esperança que se realizaria somente com Jesus. Jeremias anuncia alguém que implantará o direito e a justiça sobre a terra. Jesus veio como germe de justiça sua palavra levará tempo para realizar-se, mas já transformou a vida de muitas gerações.
“Que Ele assim confirme vossos corações numa santidade irrepreensível diante de Deus, nosso Pai no dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos” (1Ts 3,13). Essa vinda gloriosa de Jesus é chamada de Parusia, que indica sua presença como o Senhor da história para finalizar a Redenção de todo o universo. Ele deseja nos encontrar numa “santidade irrepreensível”, isto é, praticando o mandamento do amor fraterno.
“Olhem para o alto e levantem a cabeça porque vossa Redenção está próxima” (Lc 21,28). O anúncio da vinda de Jesus, longe de provocar medo, deveria encher-nos de esperança. Diante das tragédias da história, Jesus pede que sejamos fiéis em nossas convicções e atitudes, e perseverantes na oração. Ele nos garante que todos esses fatos serão Sinai da Redenção final da humanidade. Por isso, ao invés de tristeza e pavor é a hora de levantar a cabeça e olhar para o alto. Jesus, o Filho do Homem, estará chegando para resgatar seus eleitos. Por isso, o Advento nos faz entoar, já agora, o Maranathá: “Vem Senhor Jesus” (Ap 22,20). 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

CRISTO, REI DE UM REINO DIFERENTE

JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – ANO B

Dn, 13-14; Sl 92; Ap 1,5-8; Jo 18,33b-37

Os reis da terra geralmente apóiam sua autoridade na riqueza e na força de seus exércitos, Jesus deixa bem claro que seu Reino não é assim. De fato, Jesus nos conquistou por dentro, quando assumiu todas as nossas fragilidades e nos libertou do poder do mal e da morte. Por isso, Ele é nosso Rei, é o Senhor absoluto de uma natureza humana ressuscitada. É preciso que nos unamos intimamente a Ele para pertencermos a seu Reinado de amor e de vida eterna.

“Vi alguém semelhante a um Filho de homem, vindo das nuvens do céu...foram-lhe dados poder, glória e reino”, Daniel usa a expressão ‘filho do homem’ para anunciar um personagem que virá para libertar o povo da violência dos reis da terra e estabelecer um reino que jamais será destruído. Jesus assume para si essa expressão, apresentando-se como ‘filho do homem’, evitando que o chamem de rei, porque Ele veio para libertar e não para dominar.

“Eu sou Alfa e o Omega, diz o Senhor Deus, eu sou Aquele que é que será e que vem. O Todo-Poderoso”. Jesus é a encarnação do Verbo eterno, aquele por meio de que o Pai criou todo o universo. Ele é o principio de tudo e é também a meta de toda criação. Assumiu nossa natureza humana para libertar o homem da corrupção do tempo e dar-lhe a vida eterna, Traz o tempo e o universo em suas mãos, numa atitude de paciência e de misericórdia infinitas, confiando que os homens o reconhecerão como Senhor.


“Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui” Quem é batizado pertence ao Reino de Jesus e não deveria mais ser súdito dos reinos deste mundo. Pelo contrário, muitas vezes deverá entrar em contradição com os reinos deste mundo em seu modo de pensar e de agir, porque o Reino de Jesus é comprometido com a paz e justiça. Jesus é o Rei de uma humanidade redimida e destinada á ressurreição, que pratica a reconciliação e a fraternidade e onde a preferência é pelos pobres e humildes.