sexta-feira, 28 de novembro de 2014

PREPARAR OS CAMINHOS



2º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

 

Is 40,1-5.9-11; SI 84; 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8
Os dias do Advento vão gradualmente recompondo a história da salvação, quando recuperam a profecia e a expectativa da vinda de um messias. São os cristãos que, a partir da mediação universal de Cristo, releem o Primeiro Testamento e nele já veem sinais indicando a vinda da salvação. Jesus é a salvação de Deus que se encarna e cumpre as profecias. Ele se torna o redentor de todo gênero humano, quando destrói todo o pecado na cruz. Por isso, o Natal sempre reacende em nós uma nova esperança.
Solidários no sofrimento
Parece que a humanidade depara-se sempre com uma situação dramática quando se confronta com sua finitude. Essa realidade toca a dimensão individual (saúde, doença, morte) e coletiva (injustiça, fome, violência, exploração...). Como falar de Deus numa situação de dor e de sofrimento?
Na experiência do exílio, a classe dirigente, de Israel foi forçada a usar os óculos do povo, cujo sofrimento ignorava quando estava no poder. Ante essa prostração, o profeta universaliza a reflexão sobre o sofrimento. Partindo da mentalidade do povo, que via no sofrimento um castigo por seus pecados, o profeta deseja superar essa mentalidade de retribuição. No livro da Consolação de Israel (c. 40-5 5), o segundo Isaías, ao anunciar o fim dos sofrimentos, deseja conduzir o povo à fé de que, em Deus, o tempo do sofrimento não é eterno. Deus em sua bondade vem em seu socorro para resgatá-lo.
A parábola do caminho deserto e solitário revela que a ausência do povo em relação a Deus é provocadora de sofrimento. Suscitando a esperança, o profeta deseja fazer o povo compreender que Deus virá ao seu encontro se ele o buscar com sinceridade de coração. A busca da vontade de Deus leva à saperação das diferenças, nivelando as estradas pela prática da justiça. Ao viver em fidelidade à aliança, o povo será expressão viva da glória de Deus que se manifesta na justiça. A fé como prática de vida, portanto, encerra o tempo de sofrimento e renova a esperança. Na medidá em que vive a fé como valor moral, o povo se torna sacramento da presença de Deus (Israel), conduzindo os seres humanos a uma paz sagrada, verdadeira (Jerusalém). Em outras palavras, o povo encontrará consolo e força, quando cumprir a missão para qual é chamado, isto é, construir a paz na justiça.
O precursor...
Os estudos bíblicos apontam o evangelho de Marcos como o mais antigo dos evangelhos canônicos (Mt, Mc, Lc, Jo). Seu autor torna-se assim o criador do gênero literário bíblico denominado evangelho (cf. 1,1). O núcleo do evangelho de Marcos é o anúncio da paixão de Jesus. Para o autor do segundo evangelho, Jesus é a verdadeira boa-nova (Evangelho) de Deus, cuja morte nos traz a salvação
O trecho da liturgia de hoje resgata a profecia de Isaías, atribuindo a João Batista o papel de transição entre as primeira e segunda alianças. Ele chama o povo a conversão e a transcender a fatalidade da situação (preparar o caminho do Senhor) Dessa forma, ele antecipa a visão de Jesus (Filho de Deus), como sendo Deus que vem ao encontro do povo em sua necessidade de vida.
As vestes e a alimentação de João o caracterizam com a imagem dos antigõs profetas de Israel. Em épocas dificeis, a presença do profeta sempre reacendia a esperança do povo. Por isso, o anúncio de joão ainda e um convite fortemente ligado a primeira aliança Na visão do evangelho de Marcos, através da figura de João e da esperança que ele suscita, toda a experiência da fé de Israel e do Primeiro Testamento ordena-se em função da vinda de Jesus. Ou seja, a experiência do povo de Israel torna-se, assim, uma grande preparação para o acontecimento salvífico que é a pessoa e ação de Jesus Cristo.
O batismo de João, na perspectiva dos banhos rituais de purificação, vincula-se à questão do reconhecimento do pecado e visa a obtenção do perdão, Realizado com água, elemento “purificador”, ele ainda é provisório. Prefigura o batismo definitivo de Jesus, realizado no Espírito eque comunica a vida de Deus ao fiel. O batismo de Jesus, embora assuma os elementos da conversão e do perdão dos pecados, é uma realidade nova, que supera esse batismo ritual. Ele sinaliza a nova e definitiva aliança, realizada no Espírito, através da entrega de Jesus na cruz. O batismo de Jesus supera o batismo de João em qualidade e finalidade, porque na força do Espírito comunica ao(à) discípulo(a) a própria vida de Cristo.
Um Deus que salva
Quando na liturgia lemos o Primeiro Testamento na perspectiva de Cristo, compreendemos que o plano de salvação de Deus é eterno e, portanto, ja esta presente desde a criação do universo Essa macrovisão leva-nos a superar a visão de Deus muito presa a questão do pecado Desde sempre Deus é justo, não porque nos pune pelo pecado, mas porque sua presença em nossa história sempre abre possibilidadë de salvação. Por essa razão, a conversão verdadeira não se reduz a mero abandono do pecado e consequente cumprimento da lei. Aconversão verdadeira é a abertura do ser humano a Deus, acolhendo sua graça e buscando viver segundo a verdade.
O nascimento de Jesus instaura no presente o “Dia do Senhor” como abertura da graça de Deus a humanidade As catastrofes não significam destruição das pessoas (2a leitura). Elas são símbolos de que a vinda de Cristo quer decretar o fim do pecado e da morte. O nascimento de Jesus é o nascimento de uma nova humanidade. O novo céu e a nova terra são indicadores dessa nova humanidade convertida a Cristo, que retoma sua relação com Deus, construindo para si uma vida de pureza e de paz.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

DEUS VEM COMO REDENTOR



1º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7; SI 79; I Cor 1,3-9; Mc 13,33-37
O EVANGELHO SE ENCARNA
A cada Advento, inicia-se sempre um novo ciclo para o(a) cristão(ã). Em um movimento constante de conversão e de adesão a Cristo, de forma progressiva, perfazemos o caminho da salvação. Nos passos e atitudes de Jesus, o ano litúrgico ajuda o(a) cristão(ã), através da liturgia, a viver em seu presente o mistérió de sua própria redenção e o de toda a humanidade. Da expectativa e acolhida a Jesus que nos chega no natal, processualmente somos chamados a participar da nova humanidade em Cristo (Natal) e, nele, receber a vida eterna (Páscoa).
Deus respeita nossa liberdade
(Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7; SI 79;)
Deus é o princípio da vida e da dignidade de Israel (Pai). Sua ação redentora supera o pecado do povo e o conduz à liberdade. A partir desse pressuposto, o profeta Isaías conclui que a distância de Deus endurece o coração do povo e o faz rejeitar a aliança. Embora o poema afirme que Deus que se distancia, a ideia do autor sagrado é fazer um convite para o povo voltar à fidelidade. Sentir a necessidade de Deus e ir ao seu encontro.
De forma pedagógica, o profeta reafirma a iniciativa de Deus de vir ao encontro do povo, dando relevância à proximidade dele da vida de cada pessoa. A presença de Deus torna-se assim a garantia da justiça, Ele traz a salvação que o povo espera.
Ao falar que Deus deixa o povo à sua consciência, no sentido das escolhas que ele faz, Isaías esclarece que a maldade é fruto das ações. humanas que distanciam e separam a humanidade de Deus, levando muitos à morte. O poema profético termina com a afirmação da confiança em Deus, comparado à imagem do oleiro. Ele é o pai, fonte de vida, que age no coração humano que se abre a seu amor, moldando-o segundo a bondade e a justiça, portas de um mundo novo.
As diferentes Igrejas, por reforçar a doutrina do pecado, acabam oferecendo uma visão catastrófica do dia do Senhor, como um tempo de um juízo terrível. No entanto, os escritos bíblicos de caráter apocalíptico têm por finalidade provocar esperança e confiança no coração dos fiéis. Não se conquista a conversão pelo medo, mas pelo amor que gera confiança e faz a pessoa abandonar o mal e seguir o caminho, do bem O nascimento e a ressurreição de Jesus são polos que indicam a grandeza e verdade do. dia do Senhor. A primeira vinda de Jesus mostra que Deus vem ao encontro da humanidade e oferecelhe os meios necessários para a vida. Cristo é a graça encarnada e mediador único entre Deus e a humanidade. Ao mesmo tempo, optar por Jesus, assumindo a experiência da cruz como purificação, torna-se o elemento decisivo no processo de redenção da humanidade.
(Mc 13,33-37)
O evangelho de Marcos é a apresentação de Jesus como a boa-notícia de Deus (1,1) para a humanidade De forma sintetica, fala da necessidade de vigilância. Ao afirmar que o tempo de Deus é surpreendente, Marcos quer expressar que o ser humano com sua ciência não pode controlar Deus Ele e incontrolavel, porque e liberdade absoluta, que gera vida
O tempo de Deus, dessa forma, e o tempo presente Cristo, vindo em nossa carne, ensina-nos que devemos vivê-lo segundo a vocação de cada um. Ou seja, o tempo presente é o momento em que, vivendo nossa vocação, devemos com nossa vida realizar os designios de Deus Por isso, vigiar não significa viver uma experiência de insegurança, medo, coação Significa agir segundo a consciência da fe e o compromisso com a missão Nossa expectativa torna-se assim uma espera ativa, na qual acolhemos a vinda de Jesus como presença da graça divina que resgata nossa condição de filhos(as) de Deus
Chamados à esperança
I Cor 1,3-9;
O tempo do advento como memorial da primeira vinda de Cristo nos prepara para sua segunda vinda, tempo da salvação definitiva (ressurreição). Enquanto peregrinamos na história, Cristo nos oferece a direção. Por ele recebemos a graça de Deus que nos enriquece pela Palavra e conhecimento, que nos ajudam no testemunho de nossa fé.
Entregando-nos seu Filho unico, Deus não nos deixa faltar os dons necessarios a nossa salvação Enquanto vivemos a expectativa do Reino Definitivo de Cristo, e o proprio Deus que nos da perseverança ate o fim No misterio do natal em que celebramos a encarnação do Verbo, chegamos a revelação definitiva do misterio divino da salvação e compreendemos que pelo nascimento e ressurreição de nosso Salvador, somos chamados a plena comunhão com Ele E a essa esperança que somos chamados a cada início de ano litúrgico.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"CRISTO, SENHOR DOS TEMPOS E DOS HOMENS"



34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. 

As leituras deste domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei). Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no mundo que há-de vir. 
 
A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o “rei” Jesus a interpelar os seus discípulos acerca do amor que partilharam com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena, para o qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e atuará como Senhor de todas as coisas. 
1LEITURA – Ez 34,11-12.15-17
Leitura da Profecia de Ezequiel
Assim diz o Senhor Deus: “Vede eu mesmo vou procurar minhas ovelhas
e tomar conta delas. Como pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão.

Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repoursar- oráculo do Senhor Deus- Vou procurar ovelhas perdida, reconduzir a extraviada a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme direito.

Quanto vós, minhas ovelhas,- assim diz o Senhor Deus – eu farei justiça entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes”.
MENSAGEM
No Antigo Médio Oriente, o título de “pastor” é atribuído, frequentemente, aos deuses e aos reis. É um título bastante expressivo em civilizações que viviam da agricultura e do pastoreio. A metáfora expressa admiravelmente dois aspectos, aparentemente contrários e com frequência separados, da autoridade exercida sobre os homens: o pastor é, ao mesmo tempo, um chefe que dirige o seu rebanho e um companheiro que acompanha as ovelhas na sua caminhada para as pastagens onde há vida.
Além disso, o pastor é um homem forte, capaz de defender o seu rebanho contra os animais selvagens; e é também delicado para as suas ovelhas. Conhece o estado e as necessidades de cada uma, leva nos braços as mais frágeis e débeis, ama-as e trata-as com carinho. A sua autoridade não se discute: está fundada na entrega e no amor.
É sobre este fundo que Ezequiel vai colocar as relações que unem Deus e Israel.
A este Povo a quem os pastores humanos (os reis, os sacerdotes, a classe dirigente) trataram tão mal, o profeta anuncia a chegada desse tempo novo em que Jahwéh vai assumir a sua função de pastor do seu Povo. Como é que Deus desempenhará essa função?

Deus vai cuidar das suas ovelhas e interessar-se por elas. Neste momento, as ovelhas estão dispersas numa terra estrangeira, depois dos acontecimentos dramáticos que trouxeram ao rebanho morte e desolação; mas Deus, o Bom Pastor, vai reuni-las, reconduzi-las à sua própria terra e apascentá-las em pastagens férteis e tranquilas (vers. 11-12).

Mais: Deus, o Bom Pastor, irá procurar cada ovelha perdida e tresmalhada, cuidar da que está ferida e doente, vigiar a que está gorda e forte (vers. 16); além disso, julgará pessoalmente os conflitos entre as mais poderosas e as mais débeis, a fim de que o direito das fracas não seja pisado (vers. 17).

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23)
Refrão: O Senhor é o pastor que me conduz;
Não me falta coisa alguma.
Pelos prados e campinas verdejantes*
Ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha*
E restaura as minha forças.
Preparais á minha frente uma mesa,*
Bem vista do inimigo,
E com óleo vós ungis minha cabeça;*
O meu cálice transborda.
Felicidade e todo bem hão de seguir-me*
Por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei*
Pelos tempos infinitos.
II LEITURA – 1 Cor 15,20-26.28
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: na realidade Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem, veio morte, e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segunda uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.
A seguir, será o fim, quando Ele entregar a realeza  a Deus Pai, depois de destruir todo principado e todo o poder e força. Pois é preciso que ele reine, até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.
E, quando todas as coisas estiverem submetidas, a ele, então o próprio Filho se submeterá áquele que submeteu todas as coisas, para que Deus seja tudo em todos.
MENSAGEM 
Frente às objecções e dúvidas dos coríntios, Paulo parte da ressurreição de Cristo (cf. 1 Cor 15,1-11), para concluir que todos aqueles que se identificarem com Cristo ressuscitarão também (cf. 1 Cor 15,12-34).
O nosso texto começa precisamente com a afirmação de que “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (vers. 20). A sua ressurreição não foi um caso único e excepcional, mas o primeiro caso. “Primeiro” deve ser entendido aqui, não apenas em sentido cronológico, mas sobretudo no sentido do princípio activo da ressurreição de todos os outros homens e mulheres. Cristo foi constituído por Deus princípio de uma nova humanidade; a sua ressurreição arrasta atrás de si toda a sua “descendência” – isto é, todos aqueles que se identificam com Ele, que acolheram a sua proposta de vida e o seguiram – ao encontro da vida plena e eterna (vers. 21-23).
O destino dessa nova humanidade é o Reino de Deus. O Reino de Deus será uma realidade onde o egoísmo, a injustiça, a miséria, o sofrimento, o medo, o pecado, e até a morte (isto é, todos os inimigos da vida e do homem) estarão definitivamente ausentes, pois terão sido vencidos por Cristo (vers. 24-26). Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e actuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
A reflexão de Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente é a participação nesse “Reino de Deus” de vida plena e definitiva, para o qual Cristo nos conduz.
ALELUIA – Mc 11,9.10
Aleluia. Aleluia.
Bendito O que vem em nome do Senhor!
Bendito o reino do nosso pai David!
EVANGELHO – Mt 25,31-46
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo,
 disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, bem ditos de meu Pai;recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo.  Porque tive fome e destes-Me de comer;tive sede e destes-me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’ E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,a Mim o fizestes’.Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,  preparado para o demónio e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer;tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar:  ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’ E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna»

MENSAGEM
A parábola do juízo final começa com uma introdução (vers. 31-33) que apresenta o quadro: o “Filho do Homem” sentado no seu trono, a separar as pessoas umas das outras “como o pastor separa as ovelhas dos cabritos”.
Vêm, depois, dois diálogos. Um, entre “o rei” e “as ovelhas” que estão à sua direita (vers. 34-40); outro, entre “o rei” e os “cabritos” que estão à sua esquerda (vers. 41-46). No primeiro diálogo, o “rei” acolhe as “ovelhas” e convida-as a tomar posse da herança do “Reino”; no segundo diálogo, o “rei” afasta os “cabritos” e impede-os de tomar posse da herança do Reino. Porquê? Qual é o critério que “o rei” utiliza para acolher uns e rejeitar outros?
A questão decisiva parece ser, na perspectiva de Mateus, a atitude de amor ou de indiferença para com os irmãos mais pequenos de Jesus, que se encontram em situações dramáticas de necessidade – os que têm fome, os que têm sede, os peregrinos, os que não têm que vestir, os que estão doentes, os que estão na prisão… Jesus identifica-Se com os pequenos, os pobres, os débeis, os marginalizados; manifestar amor e solidariedade para com o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus e manifestar egoísmo e indiferença para com o pobre é fazê-lo ao próprio Jesus.
A cena pode interpretar-se de duas maneiras, dependendo de como entendemos a palavra “irmão”. Entendida em sentido genérico, a palavra “irmão” designaria qualquer homem; neste caso, a exortação de Jesus convida os que querem entrar no Reino a ir ao encontro de qualquer homem que tenha fome, que tenha sede, que seja peregrino, que esteja nu, esteja doente ou que esteja na prisão, para lhe manifestar amor e solidariedade. Entendida num sentido mais restrito, a palavra “irmão” designaria os membros da comunidade cristã… De qualquer forma, os dois sentidos não se excluem; e é possível que Mateus se refira às duas realidades.
A exortação que Mateus lança à sua comunidade cristã (e às comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) nas parábolas precedentes ganha, assim, uma força impressionante à luz desta cena final. Com os dados que este Evangelho nos apresenta, fica perfeitamente evidente que “estar vigilantes e preparados” (que é o grande tema do “discurso escatológico” dos capítulos 24 e 25) consiste, principalmente, em viver o amor e a solidariedade para com os pobres, os pequenos, os desprotegidos, os marginalizados. Em última análise, é esse o critério que decide a entrada ou a não entrada no Reino de Deus.
Esta exortação dirige-se a uma comunidade que negligencia o amor aos irmãos, que vive na indiferença ao sofrimento dos mais débeis, que é insensível ao drama dos pobres e que não cuida dos pequenos e dos desprotegidos. Como essas são atitudes que não se coadunam com a lógica do Reino, quem vive desse jeito não poderá fazer parte do Reino.
A cena do juízo final será uma descrição exacta e fotográfica do que vai acontecer no final dos tempos?
É claro que não. Mateus não é um repórter, mas um catequista a instruir a sua comunidade sobre os critérios e as lógicas de Deus. O objectivo do catequista Mateus é deixar bem claro que Deus não aprova uma vida conduzida por critérios de egoísmo, onde não há lugar para o amor a todos os irmãos, particularmente aos mais pobres e débeis. Um dos pormenores mais sugestivos é a identificação de Cristo com os famintos, os abandonados, os pequenos, os desprotegidos: todos eles são membros de Cristo e não os amar é não amar Cristo. Dizer que se ama Cristo e não viver do jeito de Cristo, no amor a todos os homens, é uma mentira e uma incoerência.
Deus condena os maus (“os cabritos”) ao inferno? Não. Deus não condena ninguém. Quem se condena ou não é o homem, na medida em que não aceita ou aceita a vida que Deus lhe oferece. E haverá alguém que, tendo consciência plena do que está em jogo, rejeite o amor e escolha, em definitivo, o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência – isto é, o afastamento definitivo de Deus e do Reino? Haverá alguém que, percebendo o sem sentido dessas opções, se obstine nelas por toda a eternidade?
Então, porque é que Mateus põe Deus a dizer aos “cabritos”: “afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos”? Porque Mateus é um pregador veemente, que usa a técnica dos pregadores da época e gosta de recorrer a imagens fortes que toquem o auditório e que o levem a sentir-se interpelado. Para além dos exageros de linguagem, a mensagem é esta: o egoísmo e a indiferença para com o irmão não têm lugar no Reino de Deus.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O REINO ESTÁ ENTRE NÓS MAS AINDA NÃO SE COMPLETOU



33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, ativa e comprometida desse projeto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.
O Evangelho apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os “bens” que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não põe a render os “bens” que Deus lhe entrega (dessa forma, ele está a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito).
Na segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projetos, empenhando-se ativamente na construção do Reino.
A primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O “sábio” autor do texto propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do “temor de Deus”. Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projetos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou.

LEITURA I – Prov 31,10-13.19-20.30-31
Leitura do Livro dos Provérbios
Quem poderá encontrar uma mulher virtuosa? O seu valor é maior que o das pérolas.
Nela confia o coração do marido, e jamais lhe falta coisa alguma. Ela dá-lhe bem-estar e não desventura,em todos os dias da sua vida. Procura obter lã e linho e põe mãos ao trabalho alegremente. Toma a roca em suas mãos, seus dedos manejam o fuso. Abre as mãos ao pobre e estende os braços ao indigente. A graça é enganadora e vã a beleza;
a mulher que teme o Senhor é que será louvada. Dai-lhe o fruto das suas mãos,
e suas obras a louvem às portas da cidade.
ACTUALIZAÇÃO
• Mais do que uma mulher virtuosa ideal, o “sábio” autor do texto que nos é proposto exalta todos aqueles – mulheres e homens – que conduzem a sua vida de acordo com os valores do trabalho, do empenho, do compromisso, da generosidade, do “temor de Deus”. São estes valores, na opinião do autor, que nos asseguram uma vida feliz, tranquila e próspera. Numa época em que a cultura do “deixa andar”, da desresponsabilização, do egoísmo se afirma cada vez mais, este texto constitui uma poderosa interpelação… Na verdade, por que caminhos é que chegamos à vida e à felicidade?
• O nosso texto sugere também uma reflexão sobre as nossas prioridades… Da mulher virtuosa diz-se que não se preocupa com os valores efémeros (a aparência), mas que se preocupa com os valores eternos (o “temor de Deus”). Quais são as prioridades da nossa vida? Quais são os valores em que apostamos a nossa existência? Os nossos valores fundamentais são valores que nos trazem felicidade duradoura?
• A referência à generosidade para com o pobre e o necessitado é questionante… Como é que consideramos e tratamos aqueles irmãos que nos batem à porta, a pedir um pedaço de pão, um pouco de atenção, ou ajuda para deslindar um qualquer problema burocrático? Temos o coração aberto aos irmãos e pronto para ajudar, ou fechamo-nos à caridade, à partilha, ao dom?
• A referência ao “temor de Deus” como valor primordial na vida da mulher ou do homem “sábio” e virtuoso também merece a nossa consideração. No Antigo Testamento, o “temor de Deus” é a qualidade do homem ou da mulher que ama Deus, que procura conhecer os seus planos e projetos e que cumpre – com obediência radical e com total confiança – a vontade de Deus. Esta dependência de Deus – diz-nos um “sábio” de Israel – não diminui a nossa liberdade, nem atenta contra a nossa realização; pelo contrário, é condição essencial para a realização plena do homem.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127
Refrão: Ditoso o que segue o caminho do Senhor.
Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida.
LEITURA II – 1 Tes 5,1-6
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos: Sobre o tempo e a ocasião, não precisais que vos escreva, pois vós próprios sabeis perfeitamente que o dia do Senhor vem como um ladrão noturno. E quando disserem: «Paz e segurança», são então que subitamente cairá sobre eles a ruína,
como as dores da mulher que está para ser mãe, e não poderão escapar. Mas vós, irmãos, não andeis nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão,
porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia: nós não somos da noite nem das trevas. Por isso, não durmamos como os outros, mas permaneçamos vigilantes e sóbrios.
ACTUALIZAÇÃO
• A questão fundamental que os cristãos devem pôr, a propósito da segunda vinda do Senhor, não é a questão da data, mas é a questão de como esperar e preparar esse momento. Paulo deixa claro que o que é preciso é estar vigilante. “Estar vigilante” não significa ficar a olhar para o céu à espera do Senhor, esquecendo e negligenciando as questões do mundo e os problemas dos homens; mas significa viver, no dia a dia, de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-se na transformação do mundo e na construção do Reino.
• A certeza da segunda vinda do Senhor dá aos crentes uma perspectiva diferente da vida, do seu sentido e da sua finalidade… Para os não crentes, a vida encerra-se dentro dos limites estreitos deste mundo e, por isso, só interessam os valores deste mundo; para os crentes, a verdadeira vida, a vida em plenitude, está para além dos horizontes da história e, por isso, é preciso viver de acordo com os valores eternos, os valores de Deus. Assim, na perspectiva dos crentes, não são os valores efémeros, os valores deste mundo (o dinheiro, o poder, os êxitos humanos) que devem constituir a prioridade e que devem dominar a existência, mas sim os valores de Deus. Quais são os valores que eu considero prioritários e que condicionam as minhas opções?
• A certeza da segunda vinda do Senhor aponta também no sentido da esperança. Os cristãos esperam, em serena expectativa, a salvação que já receberam antecipadamente com a morte de Cristo, mas que irá consumar-se no “dia do Senhor”. Os crentes são, pois, homens e mulheres de esperança, abertos ao futuro – um futuro a conquistar, já nesta terra, com fé e com amor, mas sobretudo um futuro a esperar, como dom de Deus.
ALELUIA – Jo 15,4a.5b
Aleluia. Aleluia.
Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós, diz o Senhor.
Quem permanece em Mim dá fruto abundante.

EVANGELHO – Mt 25,14-30
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens.
A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas, o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel.
Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel.Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’.O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu.Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».
ACTUALIZAÇÃO
• Antes de mais, é preciso ter presente que nós, os cristãos, somos agora no mundo as testemunhas de Cristo e do projeo de salvação/libertação que o Pai tem para os homens. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os publicanos e os pecadores do nosso tempo; é com as nossas palavras que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher os imigrantes que fogem da miséria e da degradação; é com as nossas mãos que Jesus continua a quebrar as cadeias que prendem os escravizados e oprimidos; é com os nossos pés que Jesus continua a ir ao encontro de cada irmão que está sozinho e abandonado; é com a nossa solidariedade que Jesus continua a alimentar as multidões famintas do mundo e a dar medicamentos e cultura àqueles que nada têm… Nós, cristãos, membros do “corpo de Cristo”, que nos identificamos com Cristo, temos a grave responsabilidade de O testemunhar e de deixar que, através de nós, Ele continue a amar os homens e as mulheres que caminham ao nosso lado pelos caminhos do mundo.
• Os dois “servos” da parábola que, talvez correndo riscos, fizeram frutificar os “bens” que o “senhor” lhes deixou, mostram como devemos proceder, enquanto caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus. Eles tiveram a ousadia de não se contentar com o que já tinham; não se deixaram dominar pelo comodismo e pela apatia… Lutaram, esforçaram-se, arriscaram, ganharam. Todos os dias, há cristãos que têm a coragem de arriscar. Não aceitam a injustiça e lutam contra ela; não pactuam com o egoísmo, o orgulho, a prepotência e propõem, em troca, os valores do Evangelho; não aceitam que os grandes e poderosos decidam os destinos do mundo e têm a coragem de lutar objetivamente contra os projetos desumanos que desfeiam esta terra; não aceitam que a Igreja se identifique com a riqueza, com o poder, com os grandes e esforçam-se por torná-la mais pobre, mais simples, mais humana, mais evangélica; não aceitam que a liturgia tenha de ser sempre tão solene que assuste os mais simples, nem tão etérea que não tenha nada a ver com a vida do dia a dia… Muitas vezes, são perseguidos, condenados, desautorizados, reduzidos ao silêncio, incompreendidos; muitas vezes, no seu excesso de zelo, cometem erros de avaliação, fazem opções erradas… Apesar de tudo, Jesus diz-lhes: “muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu Senhor”.
• O servo que escondeu os “bens” que o Senhor lhe confiou mostra como não devemos proceder, enquanto caminhamos pelo mundo à espera da segunda vinda de Jesus. Esse servo contentou-se com o que já tinha e não teve a ousadia de querer mais; entregou-se sem luta, deixou-se dominar pelo comodismo e pela apatia… Não lutou, não se esforçou, não arriscou, não ganhou. Todos os dias há cristãos que desistem por medo e cobardia e se demitem do seu papel na construção de um mundo melhor. Limitam-se a cumprir as regras, ou a refugiar-se no seu cantinho comodo, sem força, sem vontade, sem coragem de ir mais além. Não falham, não cometem “pecados graves”, não fazem mal a ninguém, não correm riscos; limitam-se a repetir sempre os mesmos gestos, sem inovar, sem purificar, sem nada transformar; não fazem, nem deixam fazer e limitam-se a criticar asperamente aqueles que se esforçam por mudar as coisas… Não põem a render os “bens” que Deus lhes confiou e deixam-nos secar sem dar frutos. Jesus diz-lhes: “servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde não lancei; devias, portanto, depositar o meu dinheiro no banco e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu”.