sábado, 7 de dezembro de 2013

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELLI GAUDIUM

25 passagens publicada pelo Papa Francisco:



-- O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem.
-- Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados.
-- Posso dizer que as alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar.
-- Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?
-- Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar «descentralização».
-- Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até a humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro de ovelha», e estas escutam a sua voz.
-- Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade.
-- Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização.
-- No seu constante discernimento, a Igreja pode chegar também a reconhecer costumes próprios não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns muito radicados no curso da história, que hoje já não são interpretados da mesma maneira e cuja mensagem habitualmente não é percebida de modo adequado. Podem até ser belos, mas agora não prestam o mesmo serviço à transmissão do Evangelho. Não tenhamos medo de os rever! Da mesma forma, há normas ou preceitos eclesiais que podem ter sido muito eficazes noutras épocas, mas já não têm a mesma força educativa como canais de vida.
-- Aos sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível. Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correto de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades.
-- A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.
-- Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!
-- Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.
-- Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início à cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».
-- Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarraigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranqüilidade.
-- O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais. Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos «a carregar as cargas uns dos outros» (Gal 6, 2).
 
-- Há certo cristianismo feito de devoções – próprio duma vivência individual e sentimental da fé – que, na realidade, não corresponde a uma autêntica «piedade popular». Alguns promovem estas expressões sem se preocupar com a promoção social e a formação dos fiéis, fazendo-o nalguns casos para obter benefícios econômicos ou algum poder sobre os outros.
-- A nossa tristeza e vergonha pelos pecados de alguns membros da Igreja, e pelos próprios, não devem fazer esquecer os inúmeros cristãos que dão a vida por amor: ajudam tantas pessoas seja a curar-se seja a morrer em paz em hospitais precários, acompanham as pessoas que caíram escravas de diversos vícios nos lugares mais pobres da terra, prodigalizam-se na educação de crianças e jovens, cuidam de idosos abandonados por todos, procuram comunicar valores em ambientes hostis, e dedicam-se de muitas outras maneiras que mostram o imenso amor à humanidade inspirado por Deus feito homem. Agradeço o belo exemplo que me dão tantos cristãos que oferecem a sua vida e o seu tempo com alegria.
-- Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre.
-- O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal.
-- Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projeto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho.
-- Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotada pelos povos europeus num determinado momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos limites de compreensão e expressão duma cultura. É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério da redenção de Cristo.
-- A homilia não pode ser um espetáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um gênero peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição.
-- Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Temos de nos convencer que a caridade «é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos». Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos. E porque não acudirem a Deus pedindo-Lhe que inspire os seus planos? Estou convencido de que, a partir duma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade política e econômica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social.
-- A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria?
 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO — ANO C


SOLENE ENCERRAMENTO DO ANO DA FÉ
ABERTURA DA CAMPANHA NACIONAL PARA A EVANGELIZAÇÃO
DIA DO LEIGO

A celebração de hoje marca o ponto de chegada do nosso ano litúrgico. Celebramos, neste período, os mistérios da vida de Jesus Cristo, desde seu nascimento até sua morte e ressurreição, sua ascensão, Pentecostes, a memória da Virgem Maria e dos Santos, conduzidos, neste ano, pelo evangelista Lucas. No último domingo do ano litúrgico celebramos a Festa de Cristo Rei, significando que na caminhada de mais um ano de fé, queremos coroá-lo como nosso Rei. Por isso, a liturgia nos convida a contemplar a realeza e a divindade de Cristo: é o Rei da paz, do amor, da justiça, da santidade. Neste domingo, concluímos o Ano da Fé, instituído pelo Papa Emérito Bento XVI, em 11 de outubro de 2012, quando celebramos os 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II. A Igreja no Brasil comemora hoje o dia dos leigos, os missionários do Reino de Deus nas diferentes áreas e atividades que tecem a vida humana, religiosa e social. Louvamos a Deus por tantas mulheres e homens que vivem profundamente sua vocação batismal, colocando-se inteiramente a serviço da Boa Nova, anunciada, vivida e celebrada.

SOLENIDADE JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO SENHOR DA PAZ E DA UNIDADE
Cristo é chamado a dirigir o povo de Deus, a ser condutor; sua realeza é de origem divina e tem primado sobre tudo porque nele o Pai pôs a plenitude de todas as coisas. No entanto, o evangelho de Lucas apresenta a realeza de Jesus narrando a paródia de sua investidura como Rei dos Judeus na cruz, que lembra a outra paródia que se deu no pretório de Pilatos e narrada pelos outros evangelistas. A investidura real de Jesus se desenrola em torno da cruz, trono improvisado do novo Messias. Para tornar mais evidente essa aproximação, Lucas recorda a inscrição que encabeça a cruz, mas sem dizer que se trata de um motivo de condenação. Assim, a inscrição tem lugar da palavra de investidura, como o Pai que investe seu Filho no batismo. Além disso , Lucas introduz aqui um episódio que se refere a outro lugar e lhe acrescenta uma frase com qual a multidão espera que Jesus se manifeste como rei; mas ele não quer que sua realeza lhe advenha da fuga á sua sorte, e sim de sua fidelidade a ela!
CRISTO, REI DA RECONCILIAÇÃO
Como em todas as coisas importantes da lei mosaica, é necessário que a entronização seja reconhecida por duas testemunhas. Mas, enquanto as testemunhas da investidura real da transfiguração são dois entre as principais personagens do Antigo Testamento e as testemunhas da ressurreição são também misteriosas, as duas testemunhas da entronização de Gólgota são apenas dois vulgares bandidos. Investidura ridícula daquele que só será rei assumido até o fim o escárnio!
Lucas coloca a seguir deste trecho o episódio dos dois ladrões, como que a indicar que, para Cristo, o modo de exercer sua realeza sobre todos os homens, inclusive sobre os inimigos, é oferecendo-lhes o perdão. Lucas é muito sensível a está ideia em toda a narrativa da paixão, mas aqui ele chega ao máximo. Com esse perdão, Cristo se a apresenta como o novo Adão, aquele que pode ajudar a humanidade a reintegrar o paraíso perdido pelo primeiro homem. É preciso ainda que essa humanidade nova aceite o perdão de Deus e não se volte orgulhosamente sobre si mesma. Cristo em que poderá chega ao momento de sua vida, em que poderá inaugurar uma nova humanidade, libertada das alienações do pecado; oferece ao bom ladrão participar dela, porque a sua vontade de perdoar é sem limites. O reino de Cristo se manifesta sobre os convertidos.
CRISTO, REI DO PERDÃO
            Os termos Rei e Messias ressoam em torno da cruz em frases zombeteiras e assegura ao malfeitor arrependido a entrada no reino do Pai. Também diante dos adversários mais encarniçados, Jesus dirá palavras de perdão: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Jesus exerce pois, e manifesta sua realeza não nas afirmações de um poder despótico, mas no serviço de um perdão que busca a reconciliação.
Ele é o primogênito de toda criatura, e como todas as coisas foram criadas nele, “foi do agrado de Deus reconciliar consigo todas as coisas, por meio dele, estabelecendo a paz no sangue da sua cruz”. Cristo é rei porque, perdoando e morrendo para remissão dos pecados, cria uma nova unidade entre homens. Quebrando a corrente do ódio, oferece a possibilidade de um novo futuro.
UM REI QUE VEIO PARA SERVIR
Reconhecendo que Jesus é rei, cremos que com ele Deus manifestou plenamente que a realização do homem só se pode dar pela obediência á sua vontade. Não há ação do homem que não seja sob o juízo de Deus. Não pode haver lugar na história sem relação com Deus por meio de Jesus.
A doutrina do senhorio de Cristo nos ensina ainda que a vida a que somos chamados é a mesma que viveu Jesus Cristo; vida de serviço aos irmãos. Vivendo-a, confessamos seu senhorio e nos tornamos, como ele, homens de paz e de reconciliação.
Na Igreja de Cristo, como em toda comunidade, o ministério da autoridade é dado não para  afirmação pessoal, mas a função da unidade e caridade. Cristo, bom pastor, veio não para ser servido, mas para servir e dar a vida pelas ovelhas. Essas afirmações ajudam a evitar as ambiguidades inerentes ao conceito de realeza quando não compreendido no sentido da realeza de Cristo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

O REINO ESTÁ ENTRE NÓS, MAS AINDA NÃO SE COMPLETOU

(Ml 3 19-20ª) – (2 Ts 3,7-12) – (Lc 21, 5-19)

Ao nos aproximarmos do fim do ano litúrgico, meditamos sobre o fim dos tempos. Como na semana passada, seguimos refletindo sobre as nossas realidades últimas.

As leituras deste domingo pedem uma boa interpretação. É preciso ter cuidado para que a linguagem apocalíptica não seja tomada ao pé da letra, para que a Palavra de Deus não seja motivadora do medo. Note-se a dramaticidade da primeira leitura: “esse dia vindouro haverá de queimá-los...” Textos apocalípticos nos convidam a pensar na seriedade da vida, mas não devem nos assustar. O nosso Deus é misericordioso, compassivo, amável. Ele não pode dizer uma coisa e depois entrar em contradição. Se lermos o Evangelho com atenção, saberemos que quando Cristo vier, virá com todo o amor que lhe é próprio. A Palavra sobre o fim quer nos dar esperança. As palavras duras servem para ressaltar a seriedade do fim dos tempos.

 Vivemos desde já o fim dos tempos. Não se trata de um tempo cronológico, pois o fim do mundo não tem data marcada. Entre a Páscoa e a Parusia (vinda do Senhor) temos o nosso tempo (o tempo penúltimo), quando vivemos na espera pelo que virá. Antigamente, era comum nos perguntarmos: “para onde vamos?”, “teremos a recompensa do Céu?”. Hoje, o importante é refletir sobre o tempo presente: “Como acolher a eternidade que já vem a nós antecipadamente?”, “Em que medida a esperança da salvação nos faz viver esta vida de um modo comprometido?”.

Por isso, São Paulo alertou a comunidade de Tessalônica quanto ao desleixo com as coisas do mundo. Consideravam que era tão certa a vinda imediata de Cristo, que resolveram parar de trabalhar, cruzaram os braços. O apóstolo ensina que esperar a vinda não significa se esquecer da vida.

É preciso também ter prudência. Há muitos cristãos católicos (não só nas seitas) que gostam de falar de revelações sobre os últimos tempos: pregam uma série de práticas para se prevenir do fim do mundo, marcam datas, demonizam tudo e todos, falam do futuro da Igreja, do próximo papa... “Muitos dirão: o tempo está próximo! Não sigais essa gente!” (Lc 21,8c). É preciso preocupar-se com a vida presente e concreta e o modo como podemos contribuir para que o Reino aconteça, sem fugas.
 Neste tempo, será necessário enfrentar as tribulações da vida com esperança e fé: “Todos vos odiarão por causa do meu nome. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”. Não é possível fugir das dificuldades da vida. Mas, embora tenhamos cruzes, Deus não nos desampara. Ele nos sustenta em cada momento de nossas vidas. Assumir a vida com responsabilidade nos leva a enfrentar situações que se opõem a presença do Reino de Deus. É preciso confiar que, embora haja perseguição, o próprio Deus nos dará palavras acertadas (Lc 21,15).

Os discursos sobre o fim dos tempos nos remetem à seriedade da vida: nós vamos morrer um dia, o mundo será restaurado para que o Reino de Deus seja pleno. E nós? Cada um tem a sua tarefa, a sua responsabilidade no hoje, na construção do futuro de Deus. Ele poderia fazer tudo sozinho, mas no seu mistério de amor, deseja que cada um de nós seja seu colaborador. Note que a questão não é fazer o bem para angariar pontos para ir para o Céu, mas ser co-criador, co-laborador da obra de Deus que se chama Reino. Disto depende nossa eternidade, não porque o Senhor irá nos castigar pelos pecados, mas porque é nesta vida que vamos orientando o nosso coração para o amor ou para o egoísmo que nos afasta de Deus. O que vem depois depende desta orientação do coração. Ouçamos a voz do senhor que nos diz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).
 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO C)

O ENCONTRO COM DEUS VIVO PARA ALÉM DA MORTE

(2Mc 7,1-2-14) – (2 Ts 2,16-35) –( Lc 20, 27-38)

O homem é uma realidade histórica: vive no tempo; pôe-se em continuidade com o tempo decorrido, do qual tira as possibilidades de compreensão de tudo o que é uma riqueza para ele, tudo que constitui o seu valor; vive o presente como momento real da sua consciência e liberdade; dirige-se ao futuro para encontrar o sentido passado e do presente.
O futuro, o ainda-não, é para o homem a dimensão mais radical, porque condiciona as opções, determina suas realizações. O devir sempre foi o que põe á prova todas as ideologias, todas as esperanças, todos os ideais. Dá lugar a uma contestação de todos os mitos, dos absolutos que o homem ou a sociedade pode criar para si no presente.
A morte, naufrágio da vida
Que será o homem depois da morte? É o problema fundamental da existência. Pode o futuro recuperar o aparente fracasso da existência, ou ratificar sua inconsistência e vazio? Se a vida presente é tudo, se não há esperança para além da morte, é claro que está tudo definitivamente perdido.
Não há plano que possa impor, se todos têm um fim que os nivela. O progresso parece fatal e definitivamente desacreditado se termina no nada da morte.
O esforço, o trabalho, a alegria só têm valor se com eles realizamos algo. Mas se, com a morte, tudo termina e deles nada gozamos, se não podemos sentar-nos á mesa pela qual sacrificamos toda uma vida, então tudo parece ter uma inconsistência radical.
Se o dialogo de amor com as pessoas termina para sempre, o amor não é mais o cerne da vida do homem, mas simplesmente uma coisa entre muitas outras. O problema posto pelos saduceus mão era uma interrogação marginal. Eles perguntaram a Jesus o sentido, isto é, o que significa para o homem estar o mundo.

Um Deus vivo para homens vivos
A resposta é categórica: toda solução seria precária e continuamente desmentida se Deus não amasse verdadeiramente o mundo. Seu amor seria para nós uma ilusão se nos viesse a faltar no momento da nossa salvação. Não poderia chamar-se Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó,  e dos muitos que nos precederam, se esses não fossem mais do que um nome vazio. Se Abraão estivesse definitivamente morto, enquanto Deus se proclama seu salvador, está salvação seria uma ilusão.
A revelação de Cristo se manifesta, pois, fundamental como o problema que fora colocado. Deus é Deus vivo para homens vivos. Essa é a segurança da nossa vida hoje. Desta certeza nasce a alegria e a paz. A vida não termina, porque foi salva da morte.
O próprio Deus plenificará o empenhamento do homem na história para além da história, para ale morte, a qual não a limite, mas a manifestação, o inicio da definitividade daquilo que se realizou e a que Deus deu gratuitamente o acabamento. Para nós que vivemos no devir é difícil imaginar uma vida definitiva, Mas nós, com esperança, a aguardamos de Deus que verdadeiramente nos amou e nos prometeu uma consolação eterna e uma esperança feliz.
Jesus rejeita de modo absoluto toda representação que a imaginação humana possa fazer do reino Ed Deus, quando diz: “As pessoas deste mundo se casam e são dadas em casamento, mas as que forem admitidas ao outro mundo e á ressurreição dos mortos, não tornam mulheres nem são dadas aos maridos, porque não podem morrer mais; porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”.
Testemunho da ressurreição

Hoje, para muitos, custa crer numa vida futura. Isso é devido, por um lado, á critica marxista que vê na esperança da vida eterna uma evasão da responsabilidade na transformação deste mundo, e, por outro lado, á civilização do bem-estar toda voltada para uma felicidade hedonista neste mundo. Nós, cristãos, somos testemunhas da ressurreição; dizendo que nosso Deus é o Deus dosa vivos e não dos mortos, fazemos uma afirmação que não se refere Sá a vida futura, mas também ao presente. Deus dos vivos, dos que hoje já são verdadeiramente vivos, empenhados inteiramente na vida, para melhorar a situação da humanidade. Vida que não pode terminar, porque é a própria vida de Deus; vida que, portanto continua par além da morte física.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O LIVRO DO APOCALIPSE

 O Cristo Triunfante

O livro de Apocalipse retrata Cristo triunfante sobre Satanás e suas forças. É triste que esta mensagem confortante seja freqüentemente objeto de amargo debate. Estes artigos ressaltarão o propósito de Apocalipse, e não a especulação.

 Apocalipse 1:1-20

Indicações para interpretação:
ŒJoão escreveu o que ele viu (1:11,19), que era basicamente uma peça vívida, emocionante. Para entendê-la, precisamos visualizar as cenas em nossa imaginação.
Jesus enviou a mensagem de Apocalipse às sete igrejas (1:4,11) que estavam passando por um período de dura perseguição (1:9). Como em qualquer carta, nós a entenderemos melhor vendo a mensagem através dos olhos de seus destinatários originais. Em certo sentido, estamos lendo a correspondência de alguém.
Ž  O livro revela as coisas que aconteceriam logo (1:1,3; 22:6,10). Em todos os séculos, os intérpretes da Bíblia têm pensado que o Apocalipse descreve os eventos políticos de sua própria época. Na realidade, esses símbolos especiais e predições foram cumpridos pouco tempo depois de serem escritos. Considere: quando Daniel escreveu sobre acontecimentos que ocorreriam 400 anos mais tarde, ele selou as palavras porque elas se referiam a um futuro muito distante (Daniel 8:26). Quando João escreveu Apocalipse ele não selou as palavras porque o tempo estava próximo (22:10).
 Apocalipse foi escrito com símbolos (veja 1:20). Os candelabros que João viu, por exemplo, simbolizavam igrejas; as estrelas significavam anjos. Precisamos distinguir entre o que João viu e o significado do que ele viu. Livros como Daniel, Zacarias, Ezequiel e Isaías usam linguagem figurada semelhante.

Aparição de Cristo:
Em Apocalipse 1, Jesus apareceu a João. Que cena aterradora! Ele era enorme: sete estrelas em uma mão. Seu semblante resplandecia como o sol. Sua voz troava como as cataratas de Iguaçu. Seus pés eram como o bronze refinado no fogo, incinerando tudo em sua passagem. Seus olhos flamejantes poderiam penetrar como uma "visão raio X". Cristo tinha entrado no reino da morte e emergiu vitorioso possuindo as chaves da morte e do inferno (Hades).
João desmaiou. Ele nunca tinha visto o exaltado Jesus. Muitos, hoje, jamais perceberam a glória do Senhor. Eles ainda imaginam Jesus como um recém-nascido numa manjedoura ou uma figura patética na cruz. Mas Cristo está, hoje, exaltado e extraordinariamente poderoso.

Indicações para estudar:
  • Leia o livro de Apocalipse ligeiramente algumas vezes, tentando ver em sua imaginação o que João descreveu. Não se preocupe, desde logo, com a interpretação; veja apenas o quadro.
  • Observe os aspectos de Jesus descritos no capítulo 1. Olhe para os elementos descritivos no resto do livro (especialmente capítulos 2-3).
  • Compare os símbolos usados no capítulo 1 com outras passagens para ajudar a interpretá-los: sete Espíritos (Isaías 11:2-3); pés como bronze polido (Miquéias 4:13; Malaquias 4:3); espada de dois gumes (Hebreus 4:12).
 Apocalipse 2:1 - 3:22
Cartas às Sete Igrejas da Ásia
Jesus incumbiu João de enviar o livro de Apocalipse a sete igrejas. Nos capítulos 2 e 3, o Senhor deu mensagens especiais a cada uma dessas igrejas. Cada carta segue quase o mesmo modelo: ì uma comunicação ao anjo que representava a igreja; í uma frase descrevendo Jesus; î um comentário das boas coisas feitas pela igreja (em um caso nada de bom é mencionado S veja 3:14-22); ï uma repreensão pelas más coisas que Jesus observava (em duas cartas nada de mau é mencionado S veja 2:8-11 e 3:7-13); ð encorajamento para corrigir o erro (exceto para as igrejas em que nada de mau tinha sido notado): ñ uma exortação a ouvir; ò uma promessa àquelas que triunfassem (em alguns casos a ordem destas últimas duas é invertida).
Lições:
Éfeso; uma igreja doutrinariamente sólida e ativa, ainda que seu amor tivesse ficado frio. É perigoso permitir que nosso serviço a Deus se torne mecânico e ritual; o primeiro mandamento é amar a Deus com todo o coração. Quando uma igreja deixa de amar a Deus ela prejudica sua relação com ele.
Esmirna: esses irmãos estavam sofrendo perseguição e dificuldades econômicas, mas Deus estava orgulhoso deles. O mito que a fidelidade a Deus sempre traz prosperidade e termina o sofrimento é falso.
Pérgamo: esse grupo permanecia fiel mesmo quando um membro foi martirizado, mas tinha um grande problema: tolerava o ensino de falsas doutrinas que encorajavam idolatria e imoralidade. O Senhor ameaçou fazer guerra contra ele.
Tiatira: essa congregação estava procedendo bem de todos os modos (2:19), mas foi criticada pelo Senhor porque aceitava uma mulher "que a si mesma se declara profetisa" que promovia pecado sexual. As igrejas têm que rejeitar os membros que encorajam o pecado (Tito 3:10-11).
Sardes: essa igreja tinha grande reputação, mas a realidade desmentia o nome. Não podemos descansar sobre nosso passado. As igrejas vivem por causa de seu atual serviço a Deus.
Filadélfia: as duas igrejas que não foram criticadas (Esmirna e Filadélfia) eram as igrejas que sofriam maior perseguição. O Senhor reassegurou-as de que era ele quem tinha a chave, e que quando ele abrisse a porta para elas, ninguém seria capaz de fechá-la.
Laodicéia: Se autoconfiança fosse o padrão, essa igreja seria proeminente. Sua autoconfiança era imensa, mas sua falta de fervor tinha deixado o Senhor do lado de fora, batendo na porta para entrar em sua própria igreja. Arrogância e prosperidade material freqüentemente produzem cristãos complacentes.
Indicações para Estudar:
  • Usando os sete pontos no começo deste artigo, esboce a carta para cada igreja.
  • Em cada carta, observe as ligações entre a descrição de Cristo e o resto da mensagem.
  • Encontre cumprimentos de promessas feitas aos vencedores (veja capítulos 21-22).
Apocalipse 4:1 - 5:14
Um Vislumbre do Céu
Não seria maravilhoso ver o céu? O apóstolo João viu. No começo de Apocalipse 4, ele foi convidado a subir e ter uma visão da morada de Deus. Através de sua descrição escrita podemos "ver" o trono do Senhor.
O quadro:
O trono de Deus: No centro do universo, tudo o mais irradiando dele. É significativo que aquele que ocupava o trono nunca foi diretamente descrito (veja 1 Timóteo 6:16).
Várias criaturas: Quatro eram semelhantes aos querubins em Ezequiel; elas estavam constantemente louvando a Deus. Vinte e quatro eram anciãos, gloriosos e exaltados; eles lançaram suas coroas diante do Senhor supremo.
Em volta do trono: Como um mar de vidro! Imagine as cores vívidas refletindo desse mar tremeluzente. Luzes celestiais e trovões emanavam do trono.
O livro: Selado, na mão de Deus. Um anjo forte perguntou, mas em todo o céu e a terra não havia ninguém digno de abri-lo. Subitamente, o Cordeiro (Jesus) prevaleceu e veio até aquele que ocupava o trono. Ele tomou o livro e começou a abrir os selos. Isso descreve a perspectiva do céu da ascensão vitoriosa de Jesus de volta para o Pai (veja Atos 1:9-11 para a perspectiva terrestre). Os capítulos subseqüentes informam sobre a abertura desse livro selado.
Orações dos discípulos: Bem no meio desse esplendor empolgante. O grande Deus do universo em toda a sua glória ouve os seus filhos.
Louvor: Um aumento progressivo de adoração ao Cordeiro e seu Pai. Ouçamos com João quando ele ouve, primeiro, as criaturas viventes e os anciãos em volta do trono, depois milhões de anjos com altas vozes, e, finalmente, todas as criaturas do universo juntam-se para honrar e glorificar a Deus.
Sugestões para aplicações:
Esses capítulos requerem mais do que estudo; eles exigem meditação e aplicação em nossas vidas. Imagine João, imediatamente após ele ter visto tudo isso, ou na semana seguinte ... O resto de sua vida deve ter sido profundamente afetado por causa dessa cena. Ele escreveu o que viu para que nós possamos ver e ouvir também. E, assim, precisamos deixar-nos comover profundamente.
Adoração: Devemos participar ansiosamente, de coração, da adoração a Deus, uma vez que partilhamos desse vislumbre da realidade do louvor celestial.
Reverência: Deus é um grande Deus; ele merece e exige respeito. Precisamos respeitar o nome de Deus (nunca usando em vão frases como "meu Deus"), a palavra de Deus (estudando cuidadosamente e obedecendo tudo o que ele diz) e a presença de Deus (reconhecendo que estamos sempre em sua presença e procurando nunca fazer nada que possa ofendê-lo).
Perspectiva: Os cristãos tendem a se distrair com as atividades da vida diária. Precisamos aprender a concentrar o coração e a vida no Senhor.

Apocalipse 6:1-7
O Cordeiro Abre os Selos
A hora de abrir o livro tinha chegado. Imagine-se sentado na platéia de um teatro. Quando se descerra a cortina, o Cordeiro abre os primeiros quatro selos e quatro cavalos galopam através do palco. Cada um é de uma cor diferente e tem uma missão diferente. O quinto selo revela as almas dos mártires em baixo do altar clamando por vingança contra aqueles que derramaram seu sangue. Quando o sexto selo foi aberto, houve um terremoto e catástrofes horríveis; os homens estavam tomados de pânico.

Interpretação:

Quatro cavalos. O livro de Apocalipse utiliza freqüentemente sinais do Velho Testamento. Em Zacarias 1 e 6, cavalos coloridos simbolizam forças de reconhe-cimento de Deus e suas armas de punição. É razoável entender os cavalos de Apoca-lipse do mesmo modo. Eles pertencem ao Senhor e através deles ele observa a situa-ção do mundo e exerce sua ira. O cavalo branco é o cavalo conquistador de Deus; o vermelho é o cavalo de guerra do Senhor. O preto traz fome sobre a terra e o cavalo cinza traz a morte. O julgamento que os cavalos executaram não foi total. O cavalo cinza matou um quarto do povo. A fome trazida pelo cavalo preto danificou somente o trigo, porém nem o óleo, nem o vinho (numa seca limitada, os grãos, de raiz mais rasa, serão atacados antes das vinhas e das oliveiras).
Almas sob o altar. Quando eram feitos sacrifícios no Velho Testamento, o sangue (representando a vida ou a alma Levítico 17) do animal era derramado na base do altar. Semelhantemente, a vida ou o sangue dos cristãos que tinham sido sacrificados pelos perseguidores estava na base do altar celestial de Deus, clamando a Deus por vingança contra os inimigos e para que fosse vitorioso sobre a perse-guição feroz. O sangue injustamente derra-mado clama por justiça (veja Gênesis 4:10). Este apelo dos mártires forma o tema central do livro inteiro. O livro de Apocalipse revela Deus castigando os perseguidores e vingando os cristãos.
Eventos cataclísmicos. O sexto selo revela o começo do julgamento de Deus contra os perseguidores dos cristãos. Soa como se fosse o fim do mundo. Mas não pode ser, ainda há 16 capítulos restantes em Apocalipse. De fato, esta linguagem foi usada freqüentemente pelos profetas do Velho Testamento de um modo tocante para simbolizar a queda de uma nação ou uma cidade (veja, por exemplo, Isaías 13:9-13; 34:4-5; Ezequiel 32:7-8). Estes símbolos indicaram o começo do trans-bordamento da ira de Deus contra aqueles que haviam assassinado os cristãos.

Sugestões para aplicações:
Aqui estão três lições importantes:
  • Deus está no comando de tudo. Ainda que seus cavalos sejam invisíveis, ele executa seus planos por meio deles, como lhe agrada.
  • Deus corrigirá os agravos que os cristãos sofrem. Ainda que o horário de Deus não seja nosso, no fim ele fará sua causa prevalecer.
  • A ira de Deus é feroz e inescapável. Leia 6:15-17 de novo e observe o terror daqueles que estão enfrentando a fúria de Deus.
Apocalipse 7:1 - 9:21
O Sétimo Selo
No início de Apocalipse 7, seis selos são abertos e um permanece fechado. O sexto selo era especialmente dramático e sem dúvida João estava esperando ansiosamente a abertura do sétimo. Mas permaneceu fechado. Houve um intervalo na ação (compare com os programas de televisão, que fazem intervalos para os comerciais no momento mais emocionante). Pelo menos três cenas ocorrem antes que o conteúdo do sétimo selo fosse revelado: a selagem do povo de Deus na terra, a celebração do povo de Deus no céu e trinta minutos de silêncio. Estas demoras certamente aumentaram a sensação de maravilha e expectativa de João. Finalmente, as sete trombetas (o conteúdo do sétimo selo) começam a soar.

Interpretação:

Observe quatro eventos principais:
Os 144.000 são selados (7:1-8). Antes que Deus permitisse mais destruição na terra, ele selou seu povo; isto é, ele marcou-o como pertencentes a ele, de modo a protegê-los do desastroso julgamento que ele estava impondo sobre e terra. O número 144.000 (12x12x1000) simboliza o total do povo de Deus, uma vez que 12 representa o número especial do povo de Deus (12 tribos, 12 apóstolos, etc), e 1000 é um número significando totalidade.
Celebração da grande multidão (7:9-17). A grande multidão reunida em volta do trono representa aqueles cristãos que tinham morrido. Sua morte não era uma tragédia, pois eles se regozijavam num grande festival em torno do trono de Deus.
Trombetas (8:1-9;19). As primeiras seis trombetas eram julgamento parcial da terra. As trombetas de 1 a 4 revelavam a destruição de um terço da terra, do mar, dos rios e dos corpos celestiais. A quinta era uma horrorosa praga de gafanhotos que resultou no desejo do povo morrer. A sexta era um pavoroso exército de cavalos que expeliam fogo de suas bocas. Todos estes quadros simbolizam a advertência de Deus aos ímpios para que se arrependam. Não devem ser vistos literalmente, mas como meios de representar dramaticamente a poderosa mão de Deus quando castiga aqueles que estavam perseguindo os cristãos
Recusa a arrepender (9:20-21). A reação às trombetas foi surpreendente: nenhum arrependimento. Quando o Senhor adverte, mas os homens recusam arrependerem-se, não há outra alternativa para ele que não seja destruir totalmente os objetos de sua ira.

Sugestões para estudar:
  • Estude Ezequiel 9 para ver um paralelo ao episódio da selagem e considere o motivo porque os servos de Deus foram marcados.
  • Observe a localização dos 144.000 e da grande multidão. Como isto se compara com o ensinamento das Testemunhas de Jeová que 144.000 estarão no céu e uma grande multidão restará na terra?
  • Faça uma lista dos aspectos maravilhosos da comemoração celestial (7:9-17).
  • Considere a localização das orações dos santos e como são relacionadas com os acontecimentos descritos nos capítulos 8 e 9.
  • Veja como as trombetas mostram o domínio soberano de Deus.
Apocalipse 10:1 - 11:19
A Sétima Trombeta
O que o Senhor pode fazer com aqueles que se recusam a arrepender?
Depois de ter visto o arsenal de armas de Deus (Apocalipse 6:1-8) e o desesperado apelo dos cristãos perseguidos (6:9-11), João presenciou devastadores julgamentos de advertência do Senhor (6:12-17; 8:1-9:19). Através de todo o sexto selo e as primeiras seis trombetas do sétimo, os perseguidores experimentaram todos os dolorosos chamados de Deus ao arrependimento. O resultado: teimosa recusa a mudar (9:20-21).
O verdadeiro castigo tinha que vir, e não podia esperar mais. Ainda que houvesse sete trovões prontos para fazer mais advertências, eles foram selados (10:4) pois não poderia haver mais demora (10:6). O livro dos julgamentos foi dado a João para comer e ele foi mandado profetizar contra as nações e os reis que se tinham aliado contra o povo de Deus (10:8-11).
Mas, antes que o julgamento fosse revelado, houve um intervalo para mostrar o que estava acontecendo ao povo de Deus durante sua terrível perseguição. O templo deles foi medido e assim protegido por Deus, ainda que o átrio externo fosse pisoteado por incrédulos durante três anos e meio (11:1-2; veja as sugestões para estudo). Eles profetizaram com tristeza durante este período, foram brevemente dominados, mas Deus os reergueu tomando sua causa e derrotou seus inimigos (11:3-13). Conquanto houvesse dor, perseguição e aflição, no final o povo de Deus sairia vitorioso.
Finalmente, a sétima trombeta soou e Deus manifestou sua soberania sobre o mundo, obteve a vitória e derrotou os perseguidores (11:14-19). O apelo dos mártires foi atendido (6:9-11). Deus reina supremo.

Sugestões para estudar:
  • Leia Ezequiel 2:8 - 3:3. Observe as semelhanças e medite por que o livro era doce na boca e amargo no estômago.
  • Lembre-se de que o templo significa o lugar onde Deus mora. Examine 1 Coríntios 3:16-17; 6:19-20 para ajudar no entendimento do que é o templo hoje. Como Mateus 10:28 faz distinção entre o templo e o átrio externo? Assim, qual parte de nós o Senhor protege? Que parte ele permite que seja perseguida?
  • Há muita especulação quanto à identidade das duas testemunhas. Uma comparação de Apocalipse 1:20 e 11:4 ajuda no entendimento do que elas representam? Quanto às "duas" testemunhas, pense na importância de duas testemunhas para confirmação em textos como Deuteronômio 19:15; Mateus 18:16; 2 Coríntios 13:1; 1 Timóteo 5:19; Hebreus 10:28.
  • Faça uma lista das coisas que haveriam de acontecer em 3½ anos = 42 meses = 1260 dias = tempo, tempos e meio tempo: Daniel 7:25; 12:7; Apocalipse 11:2,3; 12:6,14; 13:5. Examine a relação entre 3½ e o número completo, 7.
  • Volte e percorra através de Apocalipse 1-11. Tente memorizar os eventos chaves em cada capítulo.
Apocalipse 12:1-17
A Derrota do Diabo
No fim de Apocalipse 11 a sétima trombeta soou, marcando o fim da primeira metade do livro. Nos capítulos 12-22 os mesmos eventos são apresentados de um ponto de vista diferente. A atenção muda para os instrumentos específicos que o diabo usa para atacar os cristãos e o modo com que Cristo derrota cada um.
As personagens (12:1-6)
Uma mulher deu à luz um menino a quem o dragão tentou devorar. A mulher representa o povo de Deus (veja Miquéias 4:9 - 5:4). A criança é o Cristo (veja Salmo 2:7-9). O dragão é Satanás (12:9). Durante a vida terrestre de Jesus o diabo tentou repetidamente destruí-lo matando os recém nascidos em torno de Belém, tentando-o, e pregando-o na cruz. Deus protegeu seu Filho e todo esforço do diabo não teve sucesso.
A batalha celestial (12:7-11)
Este parágrafo pinta a derrota de Satanás, quando Miguel e seus anjos arremessaram do céu o diabo e seus anjos. Esta cena não é uma descrição de alguma queda do diabo no começo dos tempos, mas descreve a vitória decisiva contra o diabo através da morte, sepultamento e ressurreição de Jesus. Esta vitória ocorreu no tempo quando a salvação e o reino de Cristo vieram (12:10).
Satanás trabalha para acusar os homens de pecado e provocar sua morte. Antes da vinda de Jesus ele tinha pleno sucesso ("todos pecaram," Romanos 3:23). Mas a morte, o sepultamento e a ressurreição de Cristo derrotaram Satanás (note Mateus 12:28-29; João 12:31; 14:30; 16:11; Colossenses 2:15; 1 Pedro 3:22), porque sua morte expiou o pecado (João 1:29) e sua ressurreição deu-lhe as chaves da morte (2 Timóteo 1:10; Apocalipse 1:17-18). Agora, acusação contra o povo de Deus é impossível; o diabo está vencido (Romanos 8:33; Hebreus 2:14-15; 1 João 3:8). A vitória de Miguel simboliza os resultados do sacrifício de Cristo.
A batalha terrestre (12:12-17)
Porque Jesus venceu Satanás, o diabo ficou furioso e desceu à Terra para tentar destruir a mulher e seus filhos. Os cristãos primitivos sentiram em primeira mão a ferocidade da ira do diabo perseguindo-os. Alguns deles talvez imaginassem que a intensidade dos ataques fosse um sinal da vitória iminente de Satanás; de fato, era um sinal da enormidade de sua derrota. Ele não mais podia acusar os homens diante do Pai; tudo o que lhe resta é tentar desviá-los do Senhor na terra.

Sugestões para aplicações:
  • O diabo foi chicoteado. Não há desculpa para os cristãos serem vencidos na batalha da tentação por alguém que já perdeu a guerra!
  • Observe o versículo 11 e exatamente o que é necessário para sobrepujar Satanás.
  • Considere quanto encorajamento este capítulo dá aos cristãos que enfrentam oposição do diabo. A força dos ataques dele é um mero sinal da frustração por ter sido vencido.
Apocalipse 13:1-18
As Bestas do Mar e da Terra
Satanás quer desesperadamente vencer os cristãos. Por causa do sacrifício de Jesus ele não pode mais acusá-los de pecado; assim sendo, agora ele só pode perseguir, enganar e seduzir. Para fazer isto, ele convoca todos os aliados possíveis.
A Besta do Mar
A primeira besta surgiu do mar e guerreou contra os cristãos durante quarenta e dois meses. Esta besta representa a persegui-ção, que é uma das táticas do diabo para tentar render-nos. Toda oposição nos aflige, mas o ataque físico é uma prova especialmente severa. Somente pela fé e pela perseverança podemos permanecer fortes (Apocalipse 13:10).
Sabemos que esta besta do mar é o "monstro" de Daniel 7 por causa das semelhanças: emergência do mar (7:3), dez chifres (7:7), nomes blasfemos (7:8, 21), leopardo/urso/leão (7:4-6, 12), grande poder (7:7), palavras arrogantes (7:8, 21), período de tempo (7:25), guerra contra os santos (7:21, 25), etc. Estas comparações são tão próximas que não poderia haver dúvida de que a besta do mar em Apocalipse 13 é a mesma besta monstruosa de Daniel 7. Desde que a besta de Daniel é a quarta na série de impérios mundiais (os três primeiros são Babilônia, 2:37-38; Medo-Pérsia, 8:20; e Grécia, 8:21), ela deve ser o Império Romano. Durante os primeiros dias da igreja Satanás usou o Império Romano para perseguir os cristãos.

A Besta da Terra
A segunda besta saiu da terra. Esta besta produziu grandes sinais para fazer os homens adorarem a primeira besta. A besta da terra ilustra a segunda arma que o diabo usa para tentar conquistar os cristãos: a falsa religião. Observe como a besta da terra imitou Cristo: o cordeiro (Apocalipse 5:6), os sinais (11:4-5), marca nos seguidores (7:1-8), número seis (o número de Deus através de todo o livro é sete). Satanás é um mestre do disfarce (2 Coríntios 11:13-15). E procura constante-mente falsificar as verdades de Deus.
Neste contexto histórico, a besta da terra simbolizava provavelmente a adoração do imperador Romano. Muitos dos impera-dores consideravam-se divindades e exi-giam que seus súditos se prostrassem diante da imagem deles e lhes oferecessem incenso. Aqueles que se recusassem eram perseguidos.

Aplicação
É uma infelicidade que o sensacionalismo domine a interpretação de Apocalipse. Alguns imaginam a marca da besta e o número 666 espreitando em cada esquina. Fazendo assim, eles não somente não entendem o significado do livro, mas também se descuidam das reais ameaças de Satanás hoje em dia. A marca da besta não era mais literal do que o selo de Deus (Apocalipse 7); 6 (repetido três vezes para ressaltar) é principalmente uma referência ao fracasso, em contraste com 7, que representa o sucesso. Tudo isto tinha referência principalmente aos aconteci-mentos daqueles dias e se aplica a nós somente no sentido que o diabo continua a usar os aliados da perseguição e falsa religião em suas batalhas contra nós. Fiquemos firmes: assim como Jesus derrotou o diabo, assim nós também podemos (17:14).

Apocalipse 14:1 - 16:21
A Batalha do Armagedom
Conflito! O livro de Apocalipse está cheio de guerras: o dragão contra o filho varão, Miguel contra os anjos de Satanás, as bestas contra os cristãos. Quando cada lado é descrito, a tensão aumenta. Qual será o resultado da batalha? Quando as almas sob o altar serão vingadas (6:9-11)? Seja bem vindo ao Apocalipse 14-16.
Pré-estréia
No capítulo 14 os anjos anunciam as manchetes dos próximos capítulos. A primeira (14:6-7) revela que a hora do julgamento de Deus chegou, que é o tema dos capítulos 15-16. A segunda (14:8) declara a queda de Babilônia (capítulos 17-18). A terceira (14:9-11) descreve o castigo dos adoradores da besta (capítulos 19-20). A quarta (14:12-13) comemora a vitória dos santos (capítulos 21-22). Finalmente, a ceifa (14:14-16) e a vindima das uvas (14:17-20) simbolizam o julgamento de Deus contra os perseguidores.
Execução de julgamento
Os capítulos 15-16 descrevem as taças da ira, que completam o julgamento abrasador de Deus (15:1). Enquanto os selos feriram 1/4 e as trombetas destruíram 1/3, as taças devastam tudo. Cada praga continua quando a próxima começa: ferimentos em todos os ímpios, o mar se torna sangue, rios viram sangue, o sol abrasa os homens, há trevas sobre o reino da besta, os exércitos do oriente marcham.
Qual foi o efeito destas taças? O altar regozijou porque o apelo dos mártires por vingança foi respondido. Desde que seus perseguidores "derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso" (16:5-6). Os ímpios, por outro lado, não se arrependeram, mas blasfemaram contra Deus. Pessoas castigadas deveriam desistir, mas estes apoiaram o esforço do diabo para retaliar quando enviou três espíritos imundos semelhantes a rãs para reunir tropas para a batalha do Armagedom. A imagem de rãs convocando o exército é para provocar riso; ela simboliza a impotência das forças do mal.
Uma estreita passagem entre montanhas, Megido serviu como uma localização ideal para emboscadas. Débora, Saul e Josias lutaram ali em tempos críticos na história de Israel; portanto, Armagedom (a montanha de Megido) tornou-se um símbolo de batalhas decisivas. Quando o exército do Senhor enfrenta o de Satanás em Megido o suspense é grande, na expectativa de ataque e contra-ataque, de estratégia e táticas, de montes de mortos e feridos, finalmente um lado emergindo como vitorioso de uma batalha sangrenta. Mas o texto não descreve nenhuma ação militar. Logo que os exércitos se reúnem, o anjo anuncia, "Feito está!" (16:17). O que aconteceu com a batalha? Quando Deus e o diabo se encontram para uma demonstração, o Senhor vence sem luta. A batalha termina antes de começar. A terra treme e o céu deixa cair pedras de granizo de 35 quilos. Mas nenhum julgamento jamais muda os corações dos ímpios incorrigíveis; apesar do granizo, eles continuam blasfemando contra Deus.

Apocalipse 17:1 - 18:24
A Grande Meretriz
Em Apocalipse 17, João viu uma prostituta, vestida sensualmente, seduzindo os reis da terra. Seu nome era Babilônia, a Grande, e ela representa a terceira maior ferramenta que o diabo maneja em sua luta para conquistar a humanidade. Em capítulos anteriores foram apresentadas a besta do mar, representando a perseguição, e a besta da terra, representando a falsa religião. A prostituta representa a imoralidade, uma das ferramentas mais eficazes de Satanás, uma que ele jamais hesitou em usar.
Cada uma das ferramentas do diabo tinha uma manifestação concreta nos dias de João. A besta do mar era o Império Romano; a besta da terra era a adoração do imperador. Não é difícil ver quem era Babilônia. Era uma grande cidade que dominava sobre os reis da terra (17:18), construída sobre sete colinas (17:9). Ela era rica (18:11-13), arrogante (18:7) e absolutamente ímpia (17:5). Ela era a cidade de Roma.
A história da queda de Babilônia, narrada em Apocalipse 18, mostra a derrota de um dos principais aliados do diabo. No capítulo 19, a queda das bestas será descrita e no capítulo 20 o próprio diabo será amarrado. Desde que Babilônia estava embriagada com o sangue dos santos (17:6), o julgamento contra ela respondia aos gritos dos mártires (6:9-11). Finalmente, a espera terminou e Deus vingou o sangue de seus servos (18:20; 19:2).

Lições
Os fiéis serão vitoriosos. Não importa o que possa parecer a qualquer tempo, aqueles que estão com o Senhor vencerão, porque Ele é Senhor de senhores e Rei de reis (17:14). Mas para estar com o Senhor precisamos separar-nos do mundo e de suas más influências (18:4). É perigoso se permitirmos que riqueza e cobiça nos atraiam para longe de Deus.
O egoísmo .penetra por todo o caráter dos ímpios. A lamentação pela queda de Babilônia (18:9-19) mostra os reis, os negociantes e a indústria de navegação lamentando seu falecimento porque ela lhes dava lucro e prazer. Eles eram tão "amigos leais" que, quando ela começou a cair, ficaram à distância porque temiam serem feridos pela queda. Não pode haver amor verdadeiro, lealdade ou amizade entre os ímpios. Cedo ou tarde o mal se destrói (observe 17:12-13,16-17).
Para mais estudo
  • Faça uma lista de comparações e contrastes entre a mulher do diabo, Babilônia, e a mulher de Deus, descrita nos capítulos 12 e 21.
  • Percorra o livro e faça uma lista das referências ao quinto selo, que é o tema do livro (6:9-11). Inclua passagens que mencionem o altar, aqueles que foram martirizados por causa de Cristo, o curto tempo durante o qual a perseguição continuaria, a vingança do sangue dos mártires, etc. Ver o quinto selo como o princípio de organização do livro ajuda a interpretar o Apocalipse corretamente.
  • Considere a identidade dos reis em 17:10-11 (para auxílio, veja "Entendendo o Livro de Apocalipse" por Dennis Allan).
Apocalipse 19:1 - 22:21
A Vitória dos Santos
As visões de Apocalipse começam com os santos sendo martirizados sob o altar no céu, clamando por vingança (6:9-11). Eles tinham sido derrotados; Satanás tinha vencido. O livro termina com Satanás amarrado e com os santos martirizados erguidos para sentarem-se em tronos (20:1-4?). Em Cristo os vencidos vencem.
Apocalipse 19 - 22 não pode ser entendido fora do contexto. Muitos usam este texto para sustentar sua doutrina de um reino de Cristo de um milênio na terra. Mas cada ponto desta doutrina é errado. O reino não é de Cristo, mas dos mártires com Cristo. Não é na terra, mas no céu. Os 1000 anos não são literais, mas simbolizam uma vitória completa. A ressurreição não é de corpos, mas das almas dos mártires que são erguidos de debaixo do altar para reinar em tronos.
Apocalipse 19-22 se ajusta ao resto do livro como uma luva. Depois de guerrear com o Cordeiro e Seus seguidores, o diabo e seus instrumentos são esmagados. O livro começou com o grito angustiado dos cristãos derrotados implorando justiça. Foi-lhes dito que esperassem um pouco. Os capítulos 6-18 descreveram esse pouco tempo. Agora o clamor deles é respondido; eles estão se regozijando (19:1-10) e reinando (20:4-6), tendo conseguido a vitória através de Jesus Cristo (note 19:11-21). Quando o Senhor escreveu a cada uma das sete igrejas, Ele prometeu que os vencedores seriam abençoados. Agora eles o são, e quase todas as promessas são especialmente cumpridas nos capítulos 19 - 22. A mulher de Deus do capítulo 12 foi perseguida no deserto; no capítulo 17 a mulher/cidade do diabo estava embriagada com o sangue dos santos. Agora a mulher do diabo é destruída em uma hora (capítulo 18) e a mulher de Deus é uma cidade majestosa, vitoriosa (21:9-27). Arrancando estes capítulos de seu contexto de modo a "provar" algum esquema de eventos do fim dos tempos destrói a unidade do livro.
Deus é um Deus de reversões. Nele, os humildes são exaltados, os pobres são enriquecidos, os loucos recebem sabedoria e os derrotados reinam (veja 1 Samuel 2:1-10). Mas a vitória em Cristo não é imediata. A curto prazo, o povo de Deus freqüentemente sofre. Mesmo depois de sua derrota e de ser amarrado, Satanás voltaria e usaria Gogue e Magogue para assediar o campo dos santos. Gogue e Magogue simbolizam os inimigos que o diabo usaria contra o povo de Deus. Mas assim como Deus derrotou-o na batalha do livro de Apocalipse, assim ele derrotará o diabo novamente e conquistará até estes terríveis reinos mítológicos. Não importa quanto os cristãos sofram, eles sempre vencem em Cristo, no final.

Indicações para estudar
  • Note as duas ceias descritas no capítulo 19. Quem é convidado a cada uma e o que elas simbolizam? Compare com Ezequiel 39.
  • Mostre o cumprimento (capítulos 19-22) de cada promessa aos vencedores (capítulos 2-3).
  • Faça uma lista de itens mencionados na introdução (1:1-11) que são repetidos na conclusão (22:6-21).
  • Observe as comparações e os contrastes entre a mulher de Deus (capítulos 12, 21) e a mulher do diabo (capítulos 17-18).
O Livro de Apocalipse (Conclusão)
A Revelação de Cristo 
O maior perigo no estudo de Apocalipse é ficar-se desencaminhado por assuntos de menor importância. Esta é uma revelação de Jesus Cristo (1:1): Ele é tanto o revelador da mensagem como o centro dela. Muitos, em suas explicações de Apocalipse, chamam a atenção para o diabo e fazem dele o personagem principal. Mas o papel do diabo nessa profecia serve para ressaltar a glória e a grandeza do Cordeiro, pois este derrota Satanás. Outros olham mais para a terra, mas João viu estas cenas no céu. Ele estava vendo a perspectiva espiritual, simbólica, celestial. O estudo de Apocalipse não nos deve direcionar para o jornal diário, mas para o trono de Deus. Muitos usam as visões para incentivar a especulação sobre o fim dos tempos, e assim desviam a atenção das pessoas da soberania do Senhor para a engenhosidade do especulador. Se entendemos corretamente esse livro maravilhoso, vemos Cristo.
O que você vê quando olha para Jesus? Uma criancinha numa manjedoura? Um meigo pastor? Uma figura trágica na cruz? Nenhuma dessas coisas está completamente errada, mas todas estão desatualizadas. Jesus está hoje exaltado e glorioso. Queira ler novamente os retratos de Cristo em 1:12-18; 5:1-14; 19:11-16. Feche seus olhos e tente ver o Jesus que João viu. A emocionante majestade de Jesus deve inspirar-nos, fortalecer-nos e levar-nos à adoração.
O Apocalipse significa guerra. Batalha no passado: Cristo venceu a morte, o hades e expulsou Satanás do céu (veja 1:17-18; 12:7-12). Batalha no presente: o diabo, enfurecido como um tirano derrotado, veio para a terra com grande ira porque ele sabe que seu tempo é curto. Batalha no futuro: a vitória de Jesus. Apocalipse começa com os cristãos sofrendo grande tribulação; termina com os cristãos triunfantes. Apocalipse começa com Satanás perseguindo os cristãos e termina com Satanás amarrado durante mil anos. Foi Jesus que obteve essa notável vitória.
Os mitos correntes sobre Jesus enganam. De algum modo, chegamos a ver Jesus como um avô brando, indulgente, que raramente altera sua voz acima de um sussurro e está sempre sorrindo. Apocalipse ajuda a corrigir esse retrato distorcido. E ajuda a refutar a noção popular de que o Deus do Velho Testamento era um Deus de ira, mas o Deus do Novo Testamento é um Deus de amor. Em nenhum lugar da Bíblia a ira de Deus é mostrada mais claramente do que no livro de Apocalipse (veja especialmente 14:9-11; 19:1-4, 15-21).
Apocalipse revela Jesus. Não deveria causar especulação, mas inspirar adoração, admiração e confiança.

Indicações para estudar
  • Reveja e anote os elementos da descrição de Jesus (especialmente capítulos 1, 5, 19); medite sobre cada ponto.
  • Leia de novo através do livro, anotando os vários aspectos de Deus que são mencionados. Faça algumas anotações de tudo que você entenderia sobre ele, caso esse livro fosse o único na Bíblia.