segunda-feira, 29 de junho de 2015

O SENHOR DA VIDA

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

1ª Leitura – Ez 2,2-5; Salmo 122 (123); 2ª Leitura – 2Cor 12,7-10;  Evangelho – Mc 6,1-6


A liturgia deste domingo revela que Deus chama, continuamente, pessoas para serem testemunhas no mundo do seu projeto de salvação. Não interessa se essas pessoas são frágeis e limitadas; a força de Deus revela-se através da fraqueza e da fragilidade desses instrumentos humanos que Deus escolhe e envia.
A primeira leitura apresenta-nos um extrato do relato da vocação de Ezequiel. A vocação profética é aí apresentada como uma iniciativa de Jahwéh, que chama um “filho de homem” (isto é, um homem “normal”, com os seus limites e fragilidades) para ser, no meio do seu Povo, a voz de Deus.
Na segunda leitura, Paulo assegura aos cristãos de Corinto (recorrendo ao seu exemplo pessoal) que Deus atua e manifesta o seu poder no mundo através de instrumentos débeis, finitos e limitados. Na ação do apóstolo – ser humano, vivendo na condição de finitude, de vulnerabilidade, de debilidade – manifesta-se ao mundo e aos homens a força e a vida de Deus.
O Evangelho, ao mostrar como Jesus foi recebido pelos seus conterrâneos em Nazaré, reafirma uma idéia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Quando os homens se recusam a entender esta realidade, facilmente perdem a oportunidade de descobrir o Deus que vem ao seu encontro e de acolher os desafios que Deus lhes apresenta.
1ª Leitura – Ez 2,2-5

Naqueles dias, depois de me ter falado, entrou em mim um espírito que me pôs de pé. Então, eu ouvi aquele que me falava, qual me disse: 'Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. Eles e seus pais se revoltaram contra mim até ao dia de hoje. A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: 'Assim diz o Senhor Deus. `Quer te escutem, quer não - pois são um bando de rebeldes - ficarão sabendo que houve entre eles um profeta'.
ATUALIZAÇÃO
• Os “profetas” não são um grupo humano extinto há muitos séculos, mas são uma realidade com que Deus continua a contar para intervir no mundo e para recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão eles?
• No Batismo, fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Cada um de nós tem a sua história de vocação profética: de muitas formas Deus entra na nossa vida, desafia-nos para a missão, pede uma resposta positiva à sua proposta. Temos consciência de que Deus nos chama – às vezes de formas bem banais – à missão profética? Estamos atentos aos sinais que Ele semeia na nossa vida e através dos quais Ele nos diz, dia a dia, o que quer de nós? Temos a noção de que somos a “boca” através da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens?
• O profeta é o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a Bíblia, na outra o jornal diário). Vivendo em comunhão com Deus e intuindo o projeto que Ele tem para o mundo, e confrontando esse projeto com a realidade humana, o profeta percebe a distância que vai do sonho de Deus à realidade dos homens. É aí que ele intervém, em nome de Deus, para denunciar, para avisar, para corrigir. Somos estas pessoas, simultaneamente em comunhão com Deus e atentas às realidades que desfeiam o nosso mundo? Em concreto, em que situações sou chamado, no dia a dia, a exercer a minha vocação profética?
• A denúncia profética implica, tantas vezes, a perseguição, o sofrimento, a marginalização e, em tantos casos, a própria morte (Óscar Romero, Luther King, Gandhi…). Como lidamos com a injustiça e com tudo aquilo que rouba a dignidade dos homens? O medo, o comodismo, a preguiça, alguma vez nos impediram de ser profetas?
• É preciso ter consciência, também, que as nossas limitações e indignidades muito humanas não podem servir de desculpa para realizar a missão que Deus quer confiar-nos: se Ele nos pede um serviço, dar-nos-á também a força para superar os nossos limites e para cumprir o que nos pede. As fragilidades que fazem parte da nossa humanidade não podem, em nenhuma circunstância, servir de desculpa para não cumprirmos a nossa missão profética no meio dos nossos irmãos.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 122 (123)
Os nossos olhos, estão fitos no Senhor: tende piedade, ó Senhor tende piedade!
Eu levanto os meus olhos para vós,*
que habitais nos altos céus.
Como os olhos dos escravos estão fitos*
nas mãos do seu senhor.
como os olhos das escravas estão fitos*
nas mãos de sua senhora,
assim os nossos olhos, no Senhor,*
até de nós ter piedade.
Tende piedade, ó Senhor, tende piedade;*
já é demais esse desprezo!
Estamos fartos do escárnio dos ricaços*
e do desprezo dos soberbos!
2ª Leitura – 2Cor 12,7-10
Irmãos: Para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me, a fim de que eu não me exalte demais. A esse propósito, roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. Mas ele disse-me: 'Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta'.
Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. Eis porque eu me comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor a Cristo. Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte.
ATUALIZAÇÃO
• O caso pessoal de Paulo diz-nos muito sobre os métodos de Deus… Para vir ao encontro dos homens e para lhes apresentar a sua proposta de salvação, Deus não utiliza métodos espetaculares, poderosos, majestosos, que se impõem de forma avassaladora e que deixam uma marca de estupefação e de espanto na memória dos povos; mas, quase sempre, Deus utiliza a fraqueza, a debilidade, a fragilidade, a simplicidade para nos dar a conhecer os seus caminhos. Nós, homens e mulheres do séc. XXI, deixamo-nos, facilmente, impressionar pelos grandes gestos, pelos cenários magnificentes, pelas roupagens suntuosas, por tudo o que aparece envolvido num halo cintilante de riqueza, de prestígio social, de poder, de beleza; e, por outro lado, temos mais dificuldade em reparar naquilo que se apresenta pobre, humilde, simples, frágil, débil… A Palavra de Deus que hoje nos é proposta garante-nos que é na fraqueza que se revela a força de Deus. Precisamos de aprender a ver o mundo, os homens e as coisas com os olhos de Deus e a descobrir esse Deus que, na debilidade, na simplicidade, na pobreza, na fragilidade, vem ao nosso encontro e nos indica os caminhos da vida.
• A consciência de que as suas qualidades e defeitos não são determinantes para o sucesso da missão, pois o que é importante é a graça de Deus, deve levar o “profeta” a despir-se de qualquer sentimento de orgulho ou de auto-suficiência. O “profeta” deve sentir-se, apenas, um instrumento humano, frágil, débil e limitado, através do qual a força e a graça de Deus agem no mundo. Quando o “profeta” tem consciência desta realidade, percebe como são despropositadas e sem sentido quaisquer atitudes de vedetismo ou de busca de protagonismo, no cumprimento da missão… A missão do “profeta” não é atrair sobre si próprio as luzes da ribalta, as câmaras da televisão ou o olhar das multidões; a missão do “profeta” é servir de veículo humano à proposta libertadora de Deus para os homens.
• Como pano de fundo do nosso texto, está a polêmica de Paulo com alguns cristãos que não o aceitavam. Ao longo de todo o seu percurso missionário, Paulo teve de lidar frequentemente com a incompreensão; e, muitas vezes, essa incompreensão veio até dos próprios irmãos na fé e dos membros dessas comunidades a quem Paulo tinha levado, com muito esforço, o anúncio libertador de Jesus. No entanto, a incompreensão nunca abalou a decisão e o entusiasmo de Paulo no anúncio da Boa Nova de Jesus… Ele sentia que Deus o tinha chamado a uma missão e que era preciso levar essa missão até ao fim, doesse a quem doesse… Frequentemente, temos de lidar com realidades semelhantes. Todos experimentamos já momentos de incompreensão e de oposição (que, muitas vezes, vêm do interior da nossa própria comunidade e que, por isso, magoam mais). É nessas alturas que o exemplo de Paulo deve brilhar diante dos nossos olhos e ajudar-nos a vencer o desânimo e a tentação de desistir.
• Neste texto de Paulo (como, aliás, em quase todos os textos do apóstolo), transparece a atitude de vida de um cristão para quem Cristo é, verdadeiramente, o centro da própria existência e que só vive em função de Cristo… Nada mais lhe interessa senão anunciar as propostas de Cristo e dar testemunho da graça salvadora de Cristo. Que lugar ocupa Cristo na minha vida? Que lugar ocupa Cristo nos meus projetos, nas minhas decisões, nas minhas opções, nas minhas atitudes?
EVANGELHO – Mc 6,1-6
Naquele tempo: Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: 'De onde recebeu ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Jose, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?' E ficaram escandalizados por causa dele. Jesus lhes dizia: 'Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares'. E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando.
ATUALIZAÇÃO
• O texto do Evangelho repete uma idéia que aparece também nas outras duas leituras deste domingo: Deus manifesta-Se aos homens na fraqueza e na fragilidade. Normalmente, Ele não se manifesta na força, no poder, nas qualidades que o mundo acha brilhantes e que os homens admiram e endeusam; mas, muitas vezes, Ele vem ao nosso encontro na fraqueza, na simplicidade, na debilidade, na pobreza, nas situações mais simples e banais, nas pessoas mais humildes e despretensiosas… É preciso que interiorizemos a lógica de Deus, para que não percamos a oportunidade de O encontrar, de perceber os seus desafios, de acolher a proposta de vida que Ele nos faz…
• Um dos elementos questionantes no episódio que o Evangelho deste domingo nos propõe é a atitude de fechamento a Deus e aos seus desafios, assumida pelos habitantes de Nazaré. Comodamente instalados nas suas certezas e preconceitos, eles decidiram que sabiam tudo sobre Deus e que Deus não podia estar no humilde carpinteiro que eles conheciam bem… Esperavam um Deus forte e majestoso, que se havia de impor de forma estrondosa, e assombrar os inimigos com a sua força; e Jesus não se encaixava nesse perfil. Preferiram renunciar a Deus, do que à imagem que d’Ele tinham construído. Há aqui um convite a não nos fecharmos nos nossos preconceitos e esquemas mentais bem definidos e arrumados, e a purificarmos continuamente, em diálogo com os irmãos que partilham a mesma fé, na escuta da Palavra revelada e na oração, a nossa perspectiva acerca de Deus.
• Para os habitantes de Nazaré Jesus era apenas “o carpinteiro” da terra, que nunca tinha estudado com grandes mestres e que tinha uma família conhecida de todos, que não se distinguia em nada das outras famílias que habitavam na vila; por isso, não estavam dispostos a conceder que esse Jesus – perfeitamente conhecido, julgado e catalogado – lhes trouxesse qualquer coisa de novo e de diferente… Isto deve fazer-nos pensar nos preconceitos com que, por vezes, abordamos os nossos irmãos, os julgamos, os catalogamos e etiquetamos… Seremos sempre justos na forma como julgamos os outros? Por vezes, os nossos preconceitos não nos impedirão de acolher o irmão e a riqueza que Ele nos traz?
• Jesus assume-Se como um profeta, isto é, alguém a quem Deus confiou uma missão e que testemunha no meio dos seus irmãos as propostas de Deus. A nossa identificação com Jesus faz de nós continuadores da missão que o Pai Lhe confiou. Sentimo-nos, como Jesus, profetas a quem Deus chamou e a quem enviou ao mundo para testemunharem a proposta libertadora que Deus quer oferecer a todos os homens? Nas nossas palavras e gestos ecoa, em cada momento, a proposta de salvação que Deus quer fazer a todos os homens?
• Apesar da incompreensão dos seus concidadãos, Jesus continuou, em absoluta fidelidade aos planos do Pai, a dar testemunho no meio dos homens do Reino de Deus. Rejeitado em Nazaré, Ele foi, como diz o nosso texto, percorrer as aldeias dos arredores, ensinando a dinâmica do Reino. O testemunho que Deus nos chama a dar cumpre-se, muitas vezes, no meio das incompreensões e oposições… Frequentemente, os discípulos de Jesus sentem-se desanimados e frustrados porque o seu testemunho não é entendido nem acolhido (nunca aconteceu pensarmos, depois de um trabalho esgotante e exigente, que estivemos a perder tempo?)… A atitude de Jesus convida-nos a nunca desanimar nem desistir: Deus tem os seus projetos e sabe como transformar um fracasso num êxito.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

COMBATERAM O BOM COMBATE

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO ANO B

I. Introdução geral

A Igreja celebra o martírio de Pedro e Paulo na mesma data porque eles estiveram unidos no mesmo propósito: seguir Jesus até a morte. Ambos são alicerces vivos do edifício espiritual que é a Igreja. Pedro evangelizou os judeus; Paulo fez a mensagem de Jesus chegar às demais nações. A incessante pregação de ambos foi fecundada com o martírio. Eles dão provas de até que ponto pode ir o ser humano quando elege o projeto de Deus como opção de vida. Não foram pessoas apenas de palavras, mas testemunhas de que a fé remove montanhas do egoismo. O modo como viveram e como morreram questiona o comodismo de nossa fé.
II. Comentários dos textos bíblicos
1.    Evangelho (Mateus 16,13-19): As portas do inferno não vencerão
         No evangelho de hoje,Jesus faz duas perguntas aos discípulos Na primeira ele quer saber o que as pessoas em geral estão dizendo a respeito dele e. na segunda, o que os discípulos pensam sobre ele.
Com essas perguntas. parece que Jesus está fazendo uma pesquisa de opinião, para ver se a mensagem dele está sendo entendida pelo publico. Ele está ocupado em construir, na consciencia coletiva, a identidade dele, ou seja, quer estabelecer exata compreensão a respeito do Messias e, além disso, do tipo de Messias que ele é. Jesus faz essas perguntas aos discípulos porque sabe que da correta assimilação da identidade dele depende a correta compreensão de sua mensagem. Se alguém entende de forma errada quem é Jesus, compreenderá erroneamente a sua mensagem e terá uma práxis totalmente diferente da que ele espera.
        Nas respostas dos discípulos à primeira pergunta, são explicitadas as diversas esperanças messianicas de Israel.
        Pedro toma a iniciativa de responder à pergunta feita aos discípulos sobre a identidade de Jesus. Mas é a comunidade dos discípulos, representada por Pedro, quem diz corretamente quem é Jesus e qual é sua missão. A resposta da comunidade representada por Pedro é uma profissão de fé no “Cristo, Filho do Deus vivo”.
        Essa profissão de fé não é fruto da lógica e do esforço humano, mas é revelação divina, pois quem o revela à comunidade é o próprio Pai, que está no céu, Foi a abertura da comunidade à revelação divina que possibilitou reconhecer e confessar a fé no Cristo. E é sobre a fé confessada no Cristo, Filho do Deus vivo, que a Igreja é edificada. A expressão “esta pedra” refere-se à confissão de fé e é um trocadilho com a palavra “Pedro”, por cujos lábios ela é pronunciada. O fundamento da Igreja é jesus, pedra angular (Mt 21,42), confessado como Messias! Cristo pela comunidade de seus seguidores.
        Porque a comunidade dos seguidores çonfessou a verdadeira identidade de Jesus como Messias!Cristo, pedra angular ou fundamento, ela recebeu “as chaves do Reino” (e não da Igreja). O termo “chaves” significa ter acesso e, nesse caso, remete Is 22,22. Então, é tarefa da Igreja cuidar da obra divina não como um proprietário, pois o Reino é de Deus, mas como um mordomo ou despenseiro que cuida da casa de seu verdadeiro senhor, ao qual prestará contas de seu serviço. E cuidar do Reino significa fazer que ele cresça neste mundo.
        Então a principal tarefa da comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja, é proporcionar o avanço do Reino dos Céus (ou de Deus). Esse avanço significa uma ofensiva a tudo que se constitui em antirreino (representado pelo termo “inferno”). “As portas”, naquela época como hoje, significavam o poder de defesa, Uma cidade (murada) com portas resistentes tinha grande poder de defesa mima batalha ‘As portas do inferno não resistirão significa que a comunidade dos discípulos de Jesus faz o Reino avançar contra o antirreino (o inferno), e por mais fortes que sejam os poderes de defesa (as portas) do inferno, eles não conseguirão resistir por muito tempo ao ataque da Igreja, a qual por fim verá o Reino vencer e ser instaurado plenamente. As portas do antirreino cairão ao final do ataque feito pela Igreja.
        Em vista do avanço do Reino. uma das tarefas da Igreja e’ “ligar ou desligar”, mas isso não diz respeito a uma autoridade soberana do líder da Igreja. O sentido de “ligar ou desligar” refere-se ao âmbito da comunhão entre o fiel e a comunidade, ou melhor, ao sacramento da reconciliação. É precisamente no âmbito do ministério da reconciliação que a Igreja exerce a tarefa de excluir oficialmente um membro da comunhão plena ou de readmiti-
-lo (reconciliá-lo), uma vez cumpridas certas condições. Desse modo, “ligar ou desligar” significa fundamentalmente a faculdade de perdoar os pecados, reconciliando o pecador com Deus, mediante a visibilidade do sacramento, impondo-lhes condições e obrigações que sejam o sinal da verdadeira conversão.

2. 1 leitura (Atos 12,1-11): Foi lançado na prisão

        Na primeira leitura, Pedro é envolvido no mesmo destino de jesus, primeiramente porque foi preso na festa dos pães sem fermento (a Páscoa). Além disso, o texto começa com a decisão do rei Herodes de tentar destruir a Igreja, prendendo e matando seus líderes, O rei deseja remover os pilares da casa para fazer a construção inteira niir. A prisão de Pedro não é um fato isolado na mesma época, Tiago (filho de Zebedeu) foi martirizado, O govemante condena pessoas inocentes para garantir a própria popularidade, algo semelhante ao que foi feito a Jesus.
        Os detalhes de como Pedro estava sendo guardado pelos soldados romanos apenas asseguram que uma fuga seria impossível. Enquanto Pedro estava preso, a Igreja reunida orava incessantemente, solidarizando-se com a situação dele, pois constituíam um só corpo no Senhor. E ao fervor da oração, Deus respondeu com a libertação. Na noite anterior ao dia em que Herodes apresentaria Pedro ao sinédrio para ser condenado, Deus agiu em resposta à oração da Igreja.
        O texto enfatiza que Pedro dormia enquanto esperava o próprio julgamento e condenação. Pedro teve dificuldade de saber se o que estava acontecendo era real; isso significa que ele não esperava uma libertação. E se mesmo assim conseguia dormir, fazia-o porque confiava plenamente em Deus e estava preparado para morrer por sua fé. Enquanto Pedro está sendo libertado, o texto faz questão de mencionar novamente que a prisão era de segurança máxima e, apesar de todas as precauções, Herodes não conseguiu o seu intento de destruir a Igreja.

3. II leitura (2Tm 4,6-8.17-18): Terminei minha carreira, guardei a fé

        O texto da segunda leitura se refere ao momento em que Paulo estava preso e pensava que seria condenado ã morte. Suas palavras não revelam nenhuma amargura, mas a serenidade de quem se abandonou nas mãos de Deus, O apóstolo estava pronto para ser imolado, isto é, estava à disposição para ser morto por causa do Evangelho. Além disso, considera que a morte por causa do Evangelho é aceita por Deus como verdadeira oferta ou sacrifício.
A vida do cristão é comparada a uma batalha e a um esporte de Olimpíada: “Combati o bom combate, terminei minha carreira” (v. 7), mas em tudo a fé saiu vitoriosa, faltava apenas subir ao pódio e receber a coroa de louros que confirmava a vitória. Isso significa que o apóstolo sabe que Deus não deixará sua morte sem resposta. A última palavra não é a morte, a última palavra é de Deus, que dá vida plena àqueles que nele se abandonam. A ressurreição não significa um premio, mas sim que Deus partilha a vida que lhe é própria (eterna) com aqueles que a ele doaram a vida humana e efémera. A ressurreição é grande dom de Deus, e não simples troca de uma vida por outra. A vida que doamos a Deus em nada se compara à vida eterna que ele gratuitamente nos dá. Por isso não é um prêmio. A coroação de que o apóstolo fala significa que a última ação é de Deus e não do carrasco.

III. Pistas para reflexão

        A prisão dos, dois apóstolos atesta que somente é verdadeiro discípulo de Cristo quem por ele enfrenta perseguições e martírios, mantendo a fé/fidelidade. Os exemplos de Pedro e de Paulo mostram que a lgreja não é edificada sobre pessoas, mas sobre a confissão de fé no Cristo ressuscitado e ressuscitador. Tal confissão de fé não é apenas um discurso de belas palavras, mas testemunho de vivência na fidelidade a Deus, custe o que custar, mesmo que seja a própria vida. Muitas pessoas se orgulham de que Cristo tenha entregado as chaves do Reino a Pedro e não se lembram de que as chaves significam serviço. Outras pessoas se ufanam de que Pedro tenha recebido a missão de “ligar e deligar” e não sabem que o objetivo disso é manter a Igreja numa fé auténtica e operante no mundo.
        

segunda-feira, 15 de junho de 2015

NÃO TENHAM MEDO!

12º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Jô 38, 1.8-11; Salmo 106; 2Cr 5,14-17; Marcos 4,35-41


As leituras deste 12º domingo do tempo comum, nos convidam a deixar nossos lugares costumeiros, a perder o medo e partir para outra margem, Enquanto estivermos dando demasiada atenção aos nossos problemas pessoais, não teremos abertura par evangelizar o mundo, O mundo parece estar no caos, as ondas se lançam contara a barca, mas Deus está no controle; é necessário arriscar-se em direção do novo.

1ª Leitura Jô 38, 1.8-11
Leitura do Livro de Jó

O Senhor respondeu a Jó, do meio da tempestade, e disse: Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas, e disse: 'Até aqui chegarás, e não além; aqui cessa a arrogância de tuas ondas?

O Senhor está no controle
Esse trecho curtinho do livro de Jó parece incompreensível. Mas, na verdade, é de uma profundidade admirável. Jó tinha acabado de exigir uma audiência com Deus para perguntar-lhe  sobre os motivos dos sofrimentos pelos quais estava passando. Jó não conseguia entender a ação de Deus, parecia que o Soberano estava muito mudado. Jó tinha muitas perguntas a fazer a Deus. Quem de nós, na hora do sofrimento, deixou de perguntar. “Porque, meu Deus”.         
Deus responde a Jó do meio da tempestade, mostrando que nenhum caos na nossa vida ou na natureza está acima dele. Ele é o Senhor do céu, da terra e do mar. Isso significa que Deus está no controle do universo. Não devemos ter medo, não devemos desanimar quando o sofrimento ou o pânico quiserem se apoderar de nós.
Devemos estar atentos a essa conversa que Deus tem com Jó. Ela é bem didática. Ao chamar a atenção para os poderes da natureza e colocar-se acima deles. Deus leva Jó a considerar suas próprias limitações, pois o ser humano não é Deus, mas sim uma criatura entre as outras. E assim, do meio de suas crises, Jó é levado a considerar que sua efêmera existência é marcada por limites, por isso lhe é possível o sofrimento.
            Ao constatar a grandeza do universo e o poder de Deus, Jó para de centralizar-se em si mesmo e realiza um êxodo existencial em direção ao outro. Deus conduz Jó para fora de si mesmo. E assim Deus faz com cada um de nós.

Salmo 106
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, porque eterna é a sua misericórdia!

Os que sulcam o alto-mar com seus navios,*
para ir comerciar nas grandes águas, 
testemunharam os prodígios do Senhor*
e as suas maravilhas no alto-mar.

Ele ordenou, e levantou-se o furacão,*
arremessando grandes ondas para o alto;
aos céus subiam e desciam aos abismos,*
seus corações desfaleciam de pavor.

Mas gritaram ao Senhor na aflição,*
e ele os libertou daquela angústia.
Transformou a tempestade em bonança,*
e as ondas do oceano se calaram.

Alegraram-se ao ver o mar tranqüilo,*
e ao porto desejado os conduziu.
Agradeçam ao Senhor por seu amor*
e por suas maravilhas entre os homens!

2ª Leitura  2Cr 5,14-17
Leitura da Carta de São Paulo aos Coríntios

Irmãos: O amor de Cristo nos pressiona, pois julgamos que um só morreu por todos, e que, logo, todos morreram. De fato, Cristo morreu por todos, para que os vivos não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim, doravante, não conhecemos ninguém conforme a natureza humana. E, se uma vez conhecemos Cristo segundo a carne, agora já não o conhecemos assim. Portanto, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo.

Tudo agora é novo

            Paulo chama atenção dos coríntios para o sentido mais profundo da fé pascal. Afirma o póstolo que o “amor de Cristo constrange”. Cristo morreu por nós, e pouca coisa fazemos para corresponder a tão grande dom. Se Cristo morreu por nós, conclui-se que o antigo modo de viver deve ser abandonado e que assumimos uma nova vida, nos mesmos moldes da vida de Cristo. É necessário sair dos nossos túmulos do egoísmo, remover a pedra do comodismo, para raiar do dia novo da ressurreição.
            Paulo havia mudado radicalmente de vida, por isso tinha autoridade para exortar seus compatriotas a não se apegar ao fato de terem convivido com Jesus pelos caminhos da Galileia. O mais importante não é ter conhecido Cristo segundo a carne, ter sido testemunha ocular ou ser parente de Jesus. O mais importante e viver vida nova que o Ressuscitado nos trouxe. O mais importante para Cristo não é estarmos na Igreja católica somente por tradição. É assumirmos o projeto missionário que ele nos confiou.
            Saiamos do fechamento das estruturas conservadoras, pois, “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisa antigas já passara,, eis que novas são todas as coisas”.

Evangelho de Marcos 4,35-41

Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: 'Vamos para a outra margem!' Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: 'Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?' Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: 'Silêncio! Cala-te!' O ventou cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: 'Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?' Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: 'Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?'

Vamos para a outra margem

            No trecho proclamado no domingo anterior, Jesus permanecia no barco, ensinando ás multidões por meio de parábolas. Mas no final do dia ele convocou seus discípulos pra dirigirem á outra margem do mar da Galileia.
            Do outro lado do mar estavam cidades de culturas helenistas, a maioria das cidade da Decápole. Jesus diz a seus discípulos que assumam o rico de sair de seu habitat original e o levem a lugares diferentes, a pessoas de outra cultura. Através de águas bravas e dos perigos costumeiros de uma viagem. Sair de si é sempre arriscado, e é comum sentir medo do desconhecido.
            As tempestades simbolizam as dificuldades de uma jornada que leva para outra margem. As multidões ficaram pata trás, pessoas que poderiam dar apoio permaneceram do outro lado, agora é a vez de contatar diferes culturas, religiões, tradições e costumes. Uma nova etapa, um novo começo na vida das comunidades. Trata-se simbolicamente do inicio da longa marcha da missão universal da Igreja que temos de estar dispostos a continuar, até que Cristo venha.
            Ás vezes a barca parece afundar, sentimos pânico, mas Cristo está na popa. Pode parecer que Cristo dorme enquanto corremos o risco de perecer, mas ele continua lá no controle do barco, das ondas e do vento.
            Não tenhamos medo, vamos á outra margem. Cristo está no barco, este jamais afundará. Vamos sair do nosso comodismo, há um mundo a ser evangelizado.
            Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!!!


segunda-feira, 8 de junho de 2015

O CRESCIMENTO OCULTO E EXPONTÂNEO

11º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Ezequiel 17,22-24; Salmo 91 (92); Coríntios 5,6-10; EVANGELHO – Mc 4, 26-34

A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum convida-nos a olhar para a vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela razão que dura pouco tempo, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa atual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.

1ª Leitura da Profecia de Ezequiel 17,22-24

Assim diz o Senhor Deus: 'Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um cedro majestoso. Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de sua ramagem as aves farão ninhos.E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço.

ATUALIZAÇÃO

Essencialmente, o texto de Ezequiel que a liturgia deste domingo nos propõe garante que Deus conduz sempre a história humana de acordo com o seu projecto de salvação e mantém-se fiel às promessas feitas ao seu Povo. Esta “lição” não pode ser esquecida e essa certeza deve levar-nos a encarar os dramas e desafios do tempo atual com confiança e esperança. Não estamos abandonados à nossa sorte; Deus não desistiu desta humanidade que Ele ama e continua a querer salvar. É verdade que a hora atual que a humanidade atravessa está marcada por sombras e graves inquietações; mas também é verdade que Deus continua a acompanhar cada passo que damos e a apontar-nos caminhos de vida. A última palavra – uma palavra que não pode deixar de ser de salvação e de graça – será sempre de Deus. Ancorados nessa certeza, temos de vencer o medo e o pessimismo que, por vezes, nos paralisam e dar aos homens nossos irmãos um testemunho de esperança, de serena confiança.
A referência – mil vezes repetida ao longo da Bíblia – à tal “estranha lógica” de Deus, que se serve do que é débil e frágil para concretizar os seus projetos de salvação, convida-nos a mudar os nossos critérios de avaliação e a nossa atitude face ao mundo e face aos que nos rodeiam. Por um lado, ensina-nos a valorizar aquilo e aquelas pessoas que o mundo, por vezes, marginaliza ou despreza; ensina-nos, por outro lado, que as grandes realizações de Deus não estão dependentes das grandes capacidades dos homens, mas antes da vontade amorosa de Deus; ensina-nos ainda que o fundamental, para sermos agentes de Deus, não é possuir brilhantes qualidades humanas, mas uma atitude de disponibilidade humilde que nos leve a acolher os apelos e desafios de Deus.

Salmo 91 (92)
Como é bom agradecermos ao Senhor.

Como é bom agradecermos ao Senhor*
e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo!
Anunciar pela manhã vossa bondade,*
e o vosso amor fiel, a noite inteira.

O justo crescerá como a palmeira,*
florirá igual ao cedro que há no Líbano;
na casa do Senhor estão plantados,*
nos átrios de meu Deus florescerão.

Mesmo no tempo da velhice darão frutos,*
cheios de seiva e de folhas verdejantes;
e dirão: 'É justo mesmo o Senhor Deus:*
meu Rochedo, não existe nele o mal!'.

2ª Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 5,6-10

Irmãos: Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; pois caminhamos na fé e não na visão clara. Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor. Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada. Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa - prêmio ou castigo - do que tiver feito ao longo de sua vida corporal.

ATUALIZAÇÃO

A cultura atual é uma cultura do provisório, que dá prioridade ao que é efêmero sobre as realidades perenes com a marca da eternidade: propõe que se viva ao sabor do imediato e do momento, e subalterniza as opções definitivas e os valores duradouros. É também uma cultura do bem-estar material: ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis, ao potenciar o reinado do “ter” sobre o “ser”, escraviza o homem e relativiza a sua busca de eternidade. É ainda uma cultura da facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e luta: produz pessoas incapazes de lutar por objetivos exigentes e por realizar projetos que exijam esforço, fidelidade, compromisso, sacrifício. Neste contexto, a palavra de Paulo aos cristãos de Corinto soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre diante dos olhos a nossa condição de “peregrinos” nesta terra e que aprendamos a dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros – e não nos valores efêmeros e passageiros – que encontramos a vida plena. O fim último da nossa existência não está nesta terra; o nosso horizonte e as nossas apostas devem apontar sempre para o mais além, para a vida plena e definitiva.
Contudo, o fato de vivermos a olhar para o mais além não pode levar-nos a ignorar as realidades terrenas e os compromissos com a construção da cidade dos homens. O Reino de Deus – que atingirá a sua plena maturação quando tivermos ultrapassado o transitório e o efêmero da vida presente – começa a ser construído nesta terra e exige o nosso compromisso pleno com a construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais verdadeiro. Não há comunhão com Cristo se nos demitimos das nossas responsabilidades em testemunhar os gestos e os valores de Cristo.

EVANGELHO – Mc 4, 26-34

Naquele tempo: Jesus disse à multidão: 'O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou'. E Jesus continuou: 'Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra'. Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.

ATUALIZAÇÃO

Antes de mais, o Evangelho deste domingo garante-nos que Deus tem em marcha um projeto destinado a oferecer aos homens a vida e a salvação. Pode parecer que a nossa história caminha entregue ao acaso ou aos caprichos dos líderes; pode parecer que a história humana entrou em derrapagem e que, no final do caminho, nos espera o abismo; mas é Deus que conduz a história, que lhe imprime o seu dinamismo, que está presente em todos os passos do nosso caminho. Deus caminha conosco e, garantidamente, leva-nos pela mão ao encontro de um final feliz. Num tempo histórico como o nosso, marcado por “sombras”, por crises e por graves inquietações, este é um dos testemunhos mais importantes que podemos, como crentes, oferecer aos nossos irmãos escravizados pelo desespero e pelo medo.
O projeto de salvação que Deus tem para a humanidade revela-se no anúncio do Reino, feito por Jesus de Nazaré. Nas suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova realidade; lançou a semente da transformação dos corações, das mentes e das vontades, de forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de acordo com os esquemas de Deus. Essa semente não foi lançada em vão: está entre nós e cresce por ação de Deus. Resta-nos acolher essa semente e deixar que Deus realize a sua ação. Resta-nos também, como discípulos de Jesus, continuar a lançar essa semente do Reino, a fim de que ela encontre lugar no coração de cada homem e de cada mulher.
Os que, continuando a missão de Jesus, anunciam a Palavra (que lançam a semente) não devem preocupar-se com a forma como ela cresce e se desenvolve. Devem, apenas, confiar na eficácia da Palavra anunciada, conformar-se com o tempo e o ritmo de Deus, confiar na ação de Deus e no dinamismo intrínseco da Palavra semeada. Isso equivale a respeitar o crescimento de cada pessoa, o seu processo de maturação, a sua busca de caminhos de vida e de plenitude. Não nos compete exigir que os outros caminhem ao nosso ritmo, que pensem como nós, que passem pelas mesmas experiências e exigências que para nós são válidas. Há que respeitar a consciência e o ritmo de caminhada de cada homem ou mulher – como Deus sempre faz.
 A referência à pequenez da semente (segunda parábola) convida-nos – como já o havia feito a primeira leitura deste domingo – a rever os nossos critérios de atuação e a nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Por vezes, é naquilo que é pequeno, débil e aparentemente insignificante que Deus Se revela. Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é deles que Deus Se serve para transformar o mundo. Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, estamos a frustrar o projeto de Deus, a impedir que o Reino de Deus se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

O HOMEM DIVIDIDO

10º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B

Gn 3, 9-15; Salmo 129 (130); 2Cr 4, 3-18-5,1; Marcos 3, 20-35.

Nesta Eucaristia, Jesus nos diz que a sua família são todos aqueles e aquelas que fazem a vontade de Deus, e que por isso estão fortes e firmes para lutarem contra toda força do mal. O reino da maldade chega ao fim para dar início ao Reino de Deus. Esta vitória só é possível com a nossa ajuda. Peçamos a Deus que esta celebração nos torne cada vez mais fortes para ajudar nesta luta contra o mal.


Pistas para reflexão

O Senhor nos reúne em sua casa que é a comunidade onde somos acolhidos, batizados, irmãos e irmãs, ouvintes da Palavra, proclamadores das maravilhas da salvação, aprendizes da partilha e do perdão, e sempre enviados em missão. A assembléia é convocada para ser enviada.
A comunidade, a casa de Jesus, comprometida com o bem e a fraternidade, vive em tempos de ganância, violência, corrupção, impunidade, enfim, um rosário de coisas que fazem o povo sofrer. E, ainda, tantas vezes, é vítima de calúnias e suas lideranças são ameaçadas, perseguidas e até mortas violentamente.
A Palavra de Deus vem ao encontro das comunidades e as motiva a continuarem na luta e a melhorarem as condições de moradia, de emprego, de salários e de pão para todos. A Palavra ajuda a identificar os responsáveis por essa triste situação de fome, de injustiças, de violência e de agressão à vida. Deus mesmo não quer o mal e muito menos compactua com ele. Jesus veio para amarrar satanás e tirar do seu poder o povo explorado, injustiçado e sem dignidade e liberdade.
Jesus constitui uma nova família com os que fazem a vontade de Deus e entram no seu projeto de vida, aceita viver a fraternidade, romper os padrões envelhecidos e carcomidos pelo tempo que não mais se colocam a serviço do bem comum da população: a nossa comunidade.

1ª Leitura Gn 3, 9-15;

Depois que o homem comeu da fruta da árvore, o Senhor Deus chamou Adão, dizendo: 'Onde estás?' E ele respondeu: 'Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo, porque estava nu; e me escondi'. Disse-lhe o Senhor Deus: 'E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer? Adão disse: 'A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi'. Disse o Senhor Deus à mulher: 'Por que fizeste isso? E a mulher respondeu. A serpente enganou-me e eu comi. Então o Senhor Deus disse à serpente: Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.

E, chamando-os, disse o Senhor: “Onde estás?”

O livro do Gênesis lembra o pecado de Adão e Eva. A palavra Adão vem significar homem. Seu pecado, como o nosso, nos dias de hoje, é: o orgulho de ser igual a Deus, querer ser seu próprio deus ou fabricar deuses à sua imagem e semelhança. E, quando os olhos de Adão se abrem, constata que está nu, ou seja, desprotegido e com medo diante de Deus.
Mesmo no pecado e no afastamento, Deus não o rejeita, mas castiga a serpente, símbolo do mal e mais tarde identificada com o demônio, autor e princípio de todo o pecado. No futuro, a descendência humana vai esmagar a sua cabeça, uma referência a Jesus Cristo que vence o demônio pela sua morte e ressurreição.
O mal, portanto, não vem de Deus, mas do homem. Deus fez todas as coisas perfeitas, mas os humanos subvertem o seu plano, pensam conseguir a felicidade dando asas às suas paixões e interesses, virando as costas para Deus.
Ou seja, o homem e a mulher “comeram” do fruto, isto é, deram livre curso à ganância e ao orgulho, tornando-se eles próprios o critério para decidir o que é bem e o que mal. Com isso, as pessoas acham que podem fazer o bem entendendo-o como  um “salve-se quem puder”. E a sociedade torna-se um campo de batalha, onde reina o medo de ser devorado ou explorado pelo outro (“fiquei com medo, porque estava nu e me escondi”).
Medo, nudez e fuga são esconderijos quando as pessoas são lobos umas para as outras. E ninguém quer ser responsável por seus atos e manipulações. Adão culpa Eva e Eva responsabiliza a serpente. Medo e acusação estão introjetados nas relações humanas.
Em vez de optar em colocar limites ao desejo de “comer”, o homem deixou-se possuir pelos seus desejos e paixões e permitiu que a serpente decidisse em seu lugar, tornando-se a pedra de tropeço nos caminhos da verdadeira felicidade.
Mas, Deus aponta um caminho de esperança: a certeza da vitória está na descendência justa, que fere mortalmente a cabeça da serpente. Deus quer uma geração nova que será a família de Jesus (conforme o Evangelho). Uma família, comunidade que lute contra tudo o que divide e escraviza as pessoas. Uma comunidade de irmãos, de mães e de filhos, que faz do relacionamento fraterno e amigo o centro de suas alegrias e esperanças.

Salmo - Sl 129 (130)
No Senhor toda graça e redenção!

Das profundezas eu clamo a vós, Senhor,*
escutai a minha voz!
Vossos ouvidos estejam bem atentos*
ao clamor da minha prece!.

Se levardes em conta nossas faltas,*
quem haverá de subsistir?
Mas em vós se encontra o perdão,*
eu vos temo e em vós espero.

No Senhor ponho a minha esperança,*
espero em sua palavra.
A minh'alma espera no Senhor*
mais que o vigia pela aurora.

Espere Israel pelo Senhor,*
pois no Senhor se encontra toda graça
e copiosa redenção.
Ele vem libertar a Israel*
de toda a sua culpa.

O Salmo 129 (130) é a súplica de uma pessoa em grave situação, que clama por Javé que se mostra ao Deus da aliança. O salmo respira temor, confiança e esperança em Deus. Era cantado pelos israelitas na peregrinação anual para Jerusalém. O salmista fala em nome de todo o povo que se reconhece pecador e invoca Deus do profundo abismo que se encontra. Tem consciência que somente Deus o pode perdoar e espera com fé a sua palavra de paz.

2ª Leitura – 2Cr 4, 3-18-5,1

Irmãos: Sustentados pelo mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Eu creio e, por isso, falei, nós também cremos e, por isso, falamos, certos de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também com Jesus e nos colocará ao seu lado, juntamente convosco. E tudo isso é por causa de vós, para que a abundância da graça em um número maior de pessoas faça crescer a ação de graças para a glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia. Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável. E isso acontece, porque voltamos os nossos olhares para as coisas  invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno. De fato, sabemos que, se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá uma outra moradia no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna.

O Senhor nos dará o perdão e a sustentação

A carta aos Coríntios, escrita num momento difícil na vida de Paulo, mostra o “espírito de fé”, a força carismática que leva o apóstolo a testemunhar sua fé sustentada pela esperança do encontro com o Ressuscitado no final da caminhada. Enquanto o homem exterior vai caducando e se deteriorando, o interior se renova em e para Cristo.
Da aflição e dos sofrimentos atuais, passamos à glória eterna. Isto tem sentido quando lembramos o relacionamento tenso de Paulo com a comunidade de Corinto, onde havia numerosos adversários que faziam de tudo para criar-lhe complicações e atrapalhar a sua vida de missionário dedicado e carinhoso.
Os bens materiais não podem ser considerados como os únicos objetivos na vida. O homem se serve deles para poder viver e não para acumular riquezas e poder. A vida presente não é definitiva, tem um começo e tem um fim. Por isso, Paulo se alegra, pois, quando se desfizer este corpo, receberemos um corpo nos céus, não feito por mãos humanas.

Evangelho Marcos 3, 20-35.

Naquele tempo: Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si. Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: 'Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno'. Jesus falou isso, porque diziam: 'Ele está possuído por um espírito mau'. Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: 'Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura'. Ele respondeu: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe'.

Tudo vos será perdoado

O Evangelho de Marcos tem uma solicitude básica que procura responder à pergunta: Quem é Jesus? Ele não apresenta apenas uma resposta teórica, mas fundamentada no seguimento e engajamento nas práticas de Jesus. Na perícope de hoje, trabalha a reposta através dos exorcismos e indica como as pessoas vão se definindo contra ou a favor de Jesus. Marcos apresenta Jesus, tantas vezes, no meio da multidão, onde Ele se sente “em casa”, ao que parece. Nesta casa, Ele vai mostrando quem é. A casa de Jesus , local da sua morada, repouso do seu coração e missão, é o lugar onde se reúnem os sofredores e os discriminados de toda espécie, a ponto de Ele e seus discípulos não terem tempo para comer e dormir. Mas a missão de Jesus encontra obstáculos de toda ordem, mesmo no seio da sua família. Os seus parentes saem de casa para agarrá-lo e o chamam de louco. Procuram recolhê-lo. Realizar as obras de Jesus e proclamar o Evangelho é muito perigoso, pois mexe com muita gente, mina as seguranças e relativiza as instituições religiosas do tempo.
A arma dos inimigos é desmoralizar ou rebaixar quem age desse jeito. E os doutores da lei vêm como enviados de Jerusalém, interessados em não mudar nada. Toda situação econômica e religiosa lhes era muito favorável.
Acusam Jesus de endemoninhado e parceiro de satanás, príncipe dos demônios. E o pecado deles é muito grave. Fecham-se em sua ganância e prepotência. Estão cegos pelo “brilho” do seu orgulho. Não são capazes de ver e ouvir os sinais dos tempos, nem sequer de dialogar com quem vinha com outra proposta e outro projeto de sociedade, de economia e de convivência entre as pessoas.  

Atualizando a Palavra

Quem pratica o mal não se encontra mais no lugar que lhe foi designado e confiado na criação. Deus o procura e chama… e não o encontra. “Onde está?” Está, portanto, fora do lugar, longe do projeto original e distante da bênção de Deus, que é vida e paz para todos.
O local previsto e preparado por Deus não é o pecado, o orgulho e a dominação, que distanciam os homens uns dos outros. Os que pecam se sentem nus, como os escravos, despojados da liberdade e da dignidade humana.
Ao deixar conduzir pelo egoísmo, o homem destrói a si mesmo e abala a ordem da natureza, que se revolta, perde a fertilidade, chama catástrofes produz cardos e espinhos.
A verdade continua a mesma: quem julga poder proclamar sua independência diante de Deus, quem pretende construir seu próprio mundo, quem se isola em seu egoísmo não considera Deus como seu amigo, mas como um adversário a ser temido, evitado, mantido à distância.
“Ouvi o barulho dos teus passos no jardim e tive medo”: ou seja, a presença de Deus incomoda, coloca ruídos na consciência e atrapalha o sossego do paraíso. Deus criou os homens para se ajudarem. O pecado, ao contrário, os desune, os afasta uns dos outros e os torna inimigos.
Colocados, nesta celebração, frente a frente do Evangelho, concluímos como é importante cada um descobrir e assumir a sua missão, contribuindo com a sua parte na construção de uma nova sociedade, que é a família de Jesus, cujo espelho é a comunidade litúrgica, a verdadeira mãe e irmã do Senhor, onde se cultiva o bem, se vive a fraternidade, se partilha os bens e se luta para melhorar a qualidade de vida de todos e para todos. Essa convicção da missão ajudará a sair do comodismo, a vencer críticas e superar todo tipo de dificuldades.

Ligando a Palavra e a Eucaristia

Talvez nem sempre consigamos avaliar o valor e a importância da celebração em nossas vidas e no crescimento espiritual da comunidade, discípula missionária, enviada ao mundo para fazê-lo mais bonito, mais humano e tornar-se mais sensível aos problemas e dificuldades das pessoas, especialmente dos pobres, marginalizados e rejeitados.
E acolher a Palavra de Deus é permitir que a ação do Espírito nos transforme e que Jesus nos introduza no seu jeito de viver a obediência ao Pai e de servir a humanidade. A celebração faz memória e atualiza em nossas vidas a prática de Jesus. Nela nos envolve e com ela nos compromete. Pelo ritual da celebração, entramos e comungamos na prática libertadora e caritativa de Jesus.
A força e o poder de Deus não estão na violência nem na organização de uma cidade. Jesus demonstra isso: aceitou ser homem frágil, mas uma fraqueza que vence o demônio. Contemplando essa pedagogia e os ensinamentos de Jesus, nos acercamos da mesa eucarística, reunidos em comunidade, em torno do pão e do vinho, numa atitude de paz, imbuídos pela oração do salmista: “espere Israel pelo Senhor pois nele se encontram toda graça e copiosa redenção. Ele vem libertar Israel de toda a sua culpa”.