quarta-feira, 19 de outubro de 2016

DEUS TORNA JUSTO QUEM O BUSCA COM FÉ

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

1ª Leitura – Eclo 35,15b-17.20-22ª – Sl 33,2-3.17-18.19.23 – 2ª Leitura 2Tm 4,6-8.16-18 – Evangelho – Lc 18,9-14

Todos os homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não pode entrar sozinhos na amizade de Deus. O primeiro ato de verdade que o homem deve fazer é reconhecer-se ser pecador, impotente para se salvar, e abrir-se pois, à ação de Deus.
O fariseu e o publicano: dois modos de dialogar com Deus
Vemos, na parábola, dois modos de conceber o homem e sua relação com Deus. A oração do fariseu é uma ação de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um pretexto para louvar-se a si mesmo e não a Deus, comprazer-se a si mesmo por não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso se considera justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é seu oposto. O publicano, ao contrário, está “na verdade”: consciente de sua culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia A sua é verdadeira oração. Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a oposição entre dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realiza-la pelo comprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé já se encontra delineado nesta parábola.
Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente homem justificado pela fé em Cristo, naquele que é ao mesmo tempo dom substancial do Pai e homem entre os homens e que pôde dar a única resposta agradável a Deus. É este motivo pelo qual a fé em Jesus salva. De fato, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o destino do homem. De si, como, de seus irmãos, Jesus exige renúncia absoluta, que implica na fidelidade à condição de criatura: renúncia até a morte e, se necessário, até à morte de cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; ao mesmo tempo, ele é homem entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade filial. A resposta ativa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa divina da salvação. Como homem,
A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo nos torna capazes da mesma “fidelidade filial” até a cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na qualidade de filho adotivo. A salvação é dom divino; torna-se, no homem, fonte de uma atividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na expectativa da condenação à morte, reflete sobre sua vida. Sua experiência de Cristo termina por um malogro humano: todos abandonaram, nenhum o defendeu em juízo. Mas ele “conservou a fé” combateu por Cristo e permaneceu fiel até a meta final. Sua esperança o leva à certeza da “ recompensa” que receberá de Cristo por sua dedicação e amor a exemplo de Jesus. Hoje a suficiência farisaica
não é mais observância de uma, lei: toma outro nome.
Em muitos ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a mais arte...É por isso mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo, Cristo como salvador. A salvação que traz não se opõe à salvação humana. Mas a conduz à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a ação de Deus presente, com seu espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo, Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos sacramentos com espírito farisaico.