30º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C
1ª Leitura – Eclo 35,15b-17.20-22ª – Sl 33,2-3.17-18.19.23 – 2ª Leitura 2Tm 4,6-8.16-18 – Evangelho – Lc 18,9-14
Todos os
homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de
ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não pode entrar
sozinhos na amizade de Deus. O primeiro ato de verdade que o homem deve fazer é
reconhecer-se ser pecador, impotente para se salvar, e abrir-se pois, à ação de
Deus.
O fariseu e o publicano: dois modos de
dialogar com Deus
Vemos, na
parábola, dois modos de conceber o homem e sua relação com Deus. A oração do
fariseu é uma ação de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um
pretexto para louvar-se a si mesmo e não a Deus, comprazer-se a si mesmo por
não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso se considera
justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é
seu oposto. O publicano, ao contrário, está “na verdade”: consciente de sua
culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia A sua é verdadeira
oração. Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a
oposição entre dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realiza-la
pelo comprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se
reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé
já se encontra delineado nesta parábola.
Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente homem justificado pela fé em Cristo, naquele que
é ao mesmo tempo dom substancial do Pai e homem entre os homens e que pôde dar
a única resposta agradável a Deus. É este motivo pelo qual a fé em Jesus salva.
De fato, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o
destino do homem. De si, como, de seus irmãos, Jesus exige renúncia absoluta,
que implica na fidelidade à condição de criatura: renúncia até a morte e, se
necessário, até à morte de cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode
esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição
humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há
uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto
o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; ao mesmo tempo, ele é homem
entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade
filial. A resposta ativa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa
divina da salvação. Como homem,
A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo nos torna capazes da mesma “fidelidade filial” até a
cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na
qualidade de filho adotivo. A salvação é dom divino; torna-se, no homem, fonte
de uma atividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova
lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande
testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na
expectativa da condenação à morte, reflete sobre sua vida. Sua experiência de
Cristo termina por um malogro humano: todos abandonaram, nenhum o defendeu em
juízo. Mas ele “conservou a fé” combateu por Cristo e permaneceu fiel até a
meta final. Sua esperança o leva à certeza da “ recompensa” que receberá de
Cristo por sua dedicação e amor a exemplo de Jesus. Hoje a suficiência
farisaica
não é mais observância de uma, lei: toma outro nome.
Em muitos ela
é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente
para seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a
mais arte...É por isso mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao
mundo, Cristo como salvador. A salvação que traz não se opõe à salvação humana.
Mas a conduz à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da
eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na
vida do homem, põem-se sob a ação de Deus presente, com seu espírito, e fazem a
experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo,
Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos
sacramentos com espírito farisaico.
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