segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A FORÇA DE QUEM TEM FÉ

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Hab 1,2-3;2,2-4 – Sl 94 – 2Tm 1,6-8.13-14 – Lc17,5-10

Cristianismo é fé é característica específica. “Nós afirmamos muito facilmente, com pressuposto, que religião e fé são a mesma coisa. Mas isso só é verdade até certo ponto...Por exemplo, o Antigo Testamento se apresentou, em seu conjunto, não sob o conceito de fé, mas de lei. Encarna primariamente um gênero de vida, no âmbito do qual o ato de fé vai continuamente adquirindo maior importância. Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se emita um ato de fé no sobrenatural; ele pode, decerto,faltar sem. Por isso, diminui a religião. Sendo a religião essencialmente um sistema de ritos, o elemento determinante é representado a seu olhos pela minuciosa observância das cerimônias”.
O justo viverá pela fé
A história da fé começa em Abraão. Sua atitude diante de Deus é de fé. Ainda que nosso pai nafé não tenha percebido distintamente o objeto de sua fé, teve, entretanto, todas as condições pessoais necessárias a fé. Respondeu prontamente “sim” ao chamado de Deus, que derruba seus planos, disposto a dar-lhe tudo, até o filho, desprezando todo cálculo humano. Superou as aparentes contradições para entregar-se somente à palavra de Deus, e nela viu a verdade que salva. Durante toda história do povo de Deus, os profetas foram os arautos da fé; convidaram a superar as seguranças e alianças humanas para se apegar com confiança à palavra dada pó Deus. Crer é dar-se a Deus, Vemo-lo na 1ª leitura: Deus “parece” ausente da história. O profeta o interroga sobre o enigma da opressão e da injustiça que invadem a sociedade em que vive, tanto dentro de Israel como entre as nações pela quais os fracos são esmagados. Deus responde que a fé e o único caminho para compreender o mistério da história. A resposta de Deus, porem, não é fácil consolação: fala de espera ainda longa. O que importa é permanecer firmemente ancorados só em Deus; crer no seu amor apesar de todas as aparência contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar.
A fé é adesão incondicional à pessoa de Jesus
No Novo Testamento o objeto da fé atinge a plenitude: o Filho de Deus se manifesta a seu reino é constituído. Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos para entregar-se a Deus com toda fidelidade. A fé não consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstratas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. A fé é, portanto obediência a Deus, comunhão com ele, vitória sobre a solidão. É dom de Deus, mas dom que espera nossa livre resposta, que quer torna-se a alma da nossa vida cotidiana e da comunidade cristã.
Fé como libertação de todos os ídolos
É também conhecimento novo, modo de ler a realidade com olhar de Cristo. “A fé é virtude, atitude habitual da lama, inclinação permanente a julgar e agir segundo o pensamento de Cristo com espontaneidade e vigor”. O cristão animado pela fé, nela encontra a crítica permanente a todas as ideologias e a libertação de todos os ídolos. “Esta é a vitoria que venceu o mundo, a nossa fé. O cristão vive hoje num mundo secularizado do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele. Com sua fé, tem o cristão neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos sua grande esperança. A fé cristã é posta diante de um desafio: torna-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo. Portanto, é mais do que atual para os cristãos a invocação dos discípulos; “Senhor, aumentai a nossa fé”
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo...

terça-feira, 20 de setembro de 2016

A RIQUEZA QUE ALIENA DOS BENS DO REINO

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C


Am 6,1ª. 4-7 – Sl 145 - 1Tm 6, 11-16 – Lc 16,19- 31

Pobreza e riqueza são tão antigas no mundo. Mas sempre constituíram problemas. As interpretações e soluções são várias. Há os que ligam pobreza e riqueza à sorte e ao acaso. Os que veem na pobreza o sinal da incapacidade e da desordem moral, e na riqueza e o prêmio da inteligência e da virtude. Para outros, é precisamente o contrário: os honestos não enriquecem, porque para enriquecer é preciso ser um tanto inescrupuloso. Riqueza coincide com exploração do homem pelo homem; o rico é ladrão, pronto para tudo a fim de defender privilégios. Surge a desordem, a sociedade violenta. E surge o problema: como fazer justiça? Como dividir com justiça os bens da terra e o fruto do trabalho do homem? Como mudar a ordem das coisas?
Felizes os pobres, ai dos ricos
Na Bíblia também encontramos dupla leitura da pobreza e da riqueza. Por um lado, a pobreza é escândalo, um mal a ser eliminado, um mal que é como cristalização do pecado, enquanto há na riqueza o sinal da bênção de Deus. O amigo de Deus é o homem dotado de todos os bens. O pobre é aquele no qual se manifesta a desordem do mundo.
Mas há também toda uma linha profética que termina no ai de vós os ricos! De Jesus e que vê na riqueza o perigo mais grave de auto -suficiência e de afastamento de Deus e insensibilidade para com o próximo. E em contraposição ao ai de vós, os ricos! Há o felizes os pobres: a pobreza se torna uma espécie de zona privilegiada para a experiência religiosa. O pobre é o amado de Deus; a ele é anunciado o Reino. O pobre é o primeiro destinatário da Boa-nova. A pobreza não é mais a desgraça ou escândalo, mas bem-aventurança. A bem-aventurança do pobre será plenamente revelada depois da morte, com uma inversão da situação (evangelho).

O evangelho é denúncia profética de toda ordem injusta

A parábola do rico e do pobre Lázaro ser considerada então como a aceitação fatalista de uma desordem constituída, na qual os ricos se tornam sempre mais ricos e pobres mais pobres, e em que o rico oprime o pobre? Como consolação alienante para os pobres deste mundo? A religião será o ópio que entorpece e mantém inquietos os pobres? Não é evangélico esse modo de ler a parábola; é uma caricatura do evangelho. O evangelho é denúncia profética de qualquer ordem injusta, e é revelação das causas profundas da injustiça. O pobre pode ser também rico em potencial, e lutar não pela justiça, mas para tomar o lugar dos patrões. O evangelho é apelo à conversão radical para todos, pobres e ricos, conversão a ser feita imediatamente.

...e força de transformação do mundo

A parábola mostra como perspectiva do futuro tem influência sobre o hoje e como relação do homem com o homem incide na sua vida definitiva na presença de Deus. O evangelho é uma força dinâmica de transformação continua. A aventura do amor, inaugurada por Cristo e prosseguida depois dele, convidando o homem a consentir ativamente na lei da liberdade, causou, de fato, mudança progressiva nas relações dos homens...Não é, porém, um manifesto revolucionário nem um programa de reforma em matéria social. É algo maior mais essencial. O evangelho não nos ensina nada sobre revolução. Tentar construir uma teologia da revolução a partir do evangelho é iludir-se e não captar o essencial. No plano dos objetivos e dos meios, os cristãos e os não-cristãos devem apelar para os recursos da razão humana, científica e moral; uns e outros devem procurar soluções eficazes, ainda que os comportamentos concretos possam divergir. Mas os cristãos, conquistados pela aventura do amor e só na medida que aceitam vive-la como Cristo e em seu seguimento, estarão mais atentos em fazer com que ela não degenere em novas opressões e novo legalismo.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo...