segunda-feira, 22 de junho de 2015

COMBATERAM O BOM COMBATE

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO ANO B

I. Introdução geral

A Igreja celebra o martírio de Pedro e Paulo na mesma data porque eles estiveram unidos no mesmo propósito: seguir Jesus até a morte. Ambos são alicerces vivos do edifício espiritual que é a Igreja. Pedro evangelizou os judeus; Paulo fez a mensagem de Jesus chegar às demais nações. A incessante pregação de ambos foi fecundada com o martírio. Eles dão provas de até que ponto pode ir o ser humano quando elege o projeto de Deus como opção de vida. Não foram pessoas apenas de palavras, mas testemunhas de que a fé remove montanhas do egoismo. O modo como viveram e como morreram questiona o comodismo de nossa fé.
II. Comentários dos textos bíblicos
1.    Evangelho (Mateus 16,13-19): As portas do inferno não vencerão
         No evangelho de hoje,Jesus faz duas perguntas aos discípulos Na primeira ele quer saber o que as pessoas em geral estão dizendo a respeito dele e. na segunda, o que os discípulos pensam sobre ele.
Com essas perguntas. parece que Jesus está fazendo uma pesquisa de opinião, para ver se a mensagem dele está sendo entendida pelo publico. Ele está ocupado em construir, na consciencia coletiva, a identidade dele, ou seja, quer estabelecer exata compreensão a respeito do Messias e, além disso, do tipo de Messias que ele é. Jesus faz essas perguntas aos discípulos porque sabe que da correta assimilação da identidade dele depende a correta compreensão de sua mensagem. Se alguém entende de forma errada quem é Jesus, compreenderá erroneamente a sua mensagem e terá uma práxis totalmente diferente da que ele espera.
        Nas respostas dos discípulos à primeira pergunta, são explicitadas as diversas esperanças messianicas de Israel.
        Pedro toma a iniciativa de responder à pergunta feita aos discípulos sobre a identidade de Jesus. Mas é a comunidade dos discípulos, representada por Pedro, quem diz corretamente quem é Jesus e qual é sua missão. A resposta da comunidade representada por Pedro é uma profissão de fé no “Cristo, Filho do Deus vivo”.
        Essa profissão de fé não é fruto da lógica e do esforço humano, mas é revelação divina, pois quem o revela à comunidade é o próprio Pai, que está no céu, Foi a abertura da comunidade à revelação divina que possibilitou reconhecer e confessar a fé no Cristo. E é sobre a fé confessada no Cristo, Filho do Deus vivo, que a Igreja é edificada. A expressão “esta pedra” refere-se à confissão de fé e é um trocadilho com a palavra “Pedro”, por cujos lábios ela é pronunciada. O fundamento da Igreja é jesus, pedra angular (Mt 21,42), confessado como Messias! Cristo pela comunidade de seus seguidores.
        Porque a comunidade dos seguidores çonfessou a verdadeira identidade de Jesus como Messias!Cristo, pedra angular ou fundamento, ela recebeu “as chaves do Reino” (e não da Igreja). O termo “chaves” significa ter acesso e, nesse caso, remete Is 22,22. Então, é tarefa da Igreja cuidar da obra divina não como um proprietário, pois o Reino é de Deus, mas como um mordomo ou despenseiro que cuida da casa de seu verdadeiro senhor, ao qual prestará contas de seu serviço. E cuidar do Reino significa fazer que ele cresça neste mundo.
        Então a principal tarefa da comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja, é proporcionar o avanço do Reino dos Céus (ou de Deus). Esse avanço significa uma ofensiva a tudo que se constitui em antirreino (representado pelo termo “inferno”). “As portas”, naquela época como hoje, significavam o poder de defesa, Uma cidade (murada) com portas resistentes tinha grande poder de defesa mima batalha ‘As portas do inferno não resistirão significa que a comunidade dos discípulos de Jesus faz o Reino avançar contra o antirreino (o inferno), e por mais fortes que sejam os poderes de defesa (as portas) do inferno, eles não conseguirão resistir por muito tempo ao ataque da Igreja, a qual por fim verá o Reino vencer e ser instaurado plenamente. As portas do antirreino cairão ao final do ataque feito pela Igreja.
        Em vista do avanço do Reino. uma das tarefas da Igreja e’ “ligar ou desligar”, mas isso não diz respeito a uma autoridade soberana do líder da Igreja. O sentido de “ligar ou desligar” refere-se ao âmbito da comunhão entre o fiel e a comunidade, ou melhor, ao sacramento da reconciliação. É precisamente no âmbito do ministério da reconciliação que a Igreja exerce a tarefa de excluir oficialmente um membro da comunhão plena ou de readmiti-
-lo (reconciliá-lo), uma vez cumpridas certas condições. Desse modo, “ligar ou desligar” significa fundamentalmente a faculdade de perdoar os pecados, reconciliando o pecador com Deus, mediante a visibilidade do sacramento, impondo-lhes condições e obrigações que sejam o sinal da verdadeira conversão.

2. 1 leitura (Atos 12,1-11): Foi lançado na prisão

        Na primeira leitura, Pedro é envolvido no mesmo destino de jesus, primeiramente porque foi preso na festa dos pães sem fermento (a Páscoa). Além disso, o texto começa com a decisão do rei Herodes de tentar destruir a Igreja, prendendo e matando seus líderes, O rei deseja remover os pilares da casa para fazer a construção inteira niir. A prisão de Pedro não é um fato isolado na mesma época, Tiago (filho de Zebedeu) foi martirizado, O govemante condena pessoas inocentes para garantir a própria popularidade, algo semelhante ao que foi feito a Jesus.
        Os detalhes de como Pedro estava sendo guardado pelos soldados romanos apenas asseguram que uma fuga seria impossível. Enquanto Pedro estava preso, a Igreja reunida orava incessantemente, solidarizando-se com a situação dele, pois constituíam um só corpo no Senhor. E ao fervor da oração, Deus respondeu com a libertação. Na noite anterior ao dia em que Herodes apresentaria Pedro ao sinédrio para ser condenado, Deus agiu em resposta à oração da Igreja.
        O texto enfatiza que Pedro dormia enquanto esperava o próprio julgamento e condenação. Pedro teve dificuldade de saber se o que estava acontecendo era real; isso significa que ele não esperava uma libertação. E se mesmo assim conseguia dormir, fazia-o porque confiava plenamente em Deus e estava preparado para morrer por sua fé. Enquanto Pedro está sendo libertado, o texto faz questão de mencionar novamente que a prisão era de segurança máxima e, apesar de todas as precauções, Herodes não conseguiu o seu intento de destruir a Igreja.

3. II leitura (2Tm 4,6-8.17-18): Terminei minha carreira, guardei a fé

        O texto da segunda leitura se refere ao momento em que Paulo estava preso e pensava que seria condenado ã morte. Suas palavras não revelam nenhuma amargura, mas a serenidade de quem se abandonou nas mãos de Deus, O apóstolo estava pronto para ser imolado, isto é, estava à disposição para ser morto por causa do Evangelho. Além disso, considera que a morte por causa do Evangelho é aceita por Deus como verdadeira oferta ou sacrifício.
A vida do cristão é comparada a uma batalha e a um esporte de Olimpíada: “Combati o bom combate, terminei minha carreira” (v. 7), mas em tudo a fé saiu vitoriosa, faltava apenas subir ao pódio e receber a coroa de louros que confirmava a vitória. Isso significa que o apóstolo sabe que Deus não deixará sua morte sem resposta. A última palavra não é a morte, a última palavra é de Deus, que dá vida plena àqueles que nele se abandonam. A ressurreição não significa um premio, mas sim que Deus partilha a vida que lhe é própria (eterna) com aqueles que a ele doaram a vida humana e efémera. A ressurreição é grande dom de Deus, e não simples troca de uma vida por outra. A vida que doamos a Deus em nada se compara à vida eterna que ele gratuitamente nos dá. Por isso não é um prêmio. A coroação de que o apóstolo fala significa que a última ação é de Deus e não do carrasco.

III. Pistas para reflexão

        A prisão dos, dois apóstolos atesta que somente é verdadeiro discípulo de Cristo quem por ele enfrenta perseguições e martírios, mantendo a fé/fidelidade. Os exemplos de Pedro e de Paulo mostram que a lgreja não é edificada sobre pessoas, mas sobre a confissão de fé no Cristo ressuscitado e ressuscitador. Tal confissão de fé não é apenas um discurso de belas palavras, mas testemunho de vivência na fidelidade a Deus, custe o que custar, mesmo que seja a própria vida. Muitas pessoas se orgulham de que Cristo tenha entregado as chaves do Reino a Pedro e não se lembram de que as chaves significam serviço. Outras pessoas se ufanam de que Pedro tenha recebido a missão de “ligar e deligar” e não sabem que o objetivo disso é manter a Igreja numa fé auténtica e operante no mundo.
        

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