"A GRAÇA DIVINA FAZ - NOZ TEMPLOS VIVOS DE DEUS"
Leituras: Ezequiel 47,1-2.8-9.12; Salmo 45;
1Coríntios 33,9c-11.16-17. João 2,13-22.
Leituras: Ezequiel 47,1-2.8-9.12; Salmo 45;
1Coríntios 33,9c-11.16-17. João 2,13-22.
Esta
Basílica é um dos primeiros templos que os cristãos puderam erguer depois da
época das perseguições. Foi consagrada pelo Papa Silvestre no dia 9 de novembro
de 324. A festa, que a princípio era celebrada apenas em Roma, passou a ser
festa universal no rito romano, em honra dessa igreja chamada “Mãe e Cabeça de
todas as igrejas de Roma e de todo o mundo” (Urbis et orbis),
como sinal de amor e de unidade para com a Cátedra de São Pedro. A história
desta Basílica evoca a chegada à fé de milhares de pessoas que ali receberam o
Batismo.
I.
OS JUDEUS CELEBRAVAM todos os anos a festa da Dedicação1 em memória da purificação e do
restabelecimento do culto no Templo de Jerusalém, depois da vitória de Judas
Macabeu sobre o rei Antíoco2. O
aniversário era celebrado na Judéia durante uma semana. Chamava-se também Festa das luzes, porque
era costume acender lâmpadas, símbolo da Lei,
e colocá-las nas janelas das casas, em número crescente à medida que passavam
os dias da festa3.
Esta
celebração foi perfilhada pela Igreja para celebrar o aniversário em que os
templos foram convertidos em lugares destinados ao culto. De modo particular,
“todos os anos celebra-se no conjunto do rito romano a dedicação da Basílica de
Latrão, a mais antiga e a primeira em dignidade das igrejas do Ocidente”. Além
disso, “em cada diocese celebra-se a dedicação da catedral, e cada igreja
comemora a data da sua dedicação”4.
A
festa de hoje tem uma especial importância, pois a Basílica de Latrão foi a
primeira igreja sob a invocação do Salvador, levantada em Roma pelo imperador
Constantino. A festa é celebrada em toda a Igreja como sinal de unidade com o
Papa.
O
templo sempre foi considerado entre os judeus como lugar de uma particular
presença de Javé. No deserto, Deus manifestava-se na Tenda do encontro, onde
Moisés falava com o Senhor como
se fala com um amigo; nesses instantes, a coluna de nuvem – sinal
da presença divina – descia e detinha-se à entrada da Tenda5. Era o lugar onde estará presente o meu Nome, o Ser
infinito e inefável, para escutar e atender os seus fiéis. Quando Salomão
construiu o Templo de Jerusalém, pronunciou estas palavras na festa da sua
dedicação: É possível que
Deus habite verdadeiramente sobre a terra? Porque se o céu e os céus dos céus
não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei! Mas atende,
Senhor meu Deus, à oração do teu servo e às suas súplicas; ouve o hino e a
oração que o teu servo faz hoje na tua presença, para que os teus olhos estejam
abertos noite e dia sobre esta casa, da qual disseste: “O meu nome estará
nela”, para que ouças a oração do teu servo e a do teu povo, Israel, em tudo o
que te pedirem neste lugar; sim, tu a ouvirás do lugar da tua morada no céu...6
O
templo, ensina o Papa João Paulo II, “é casa de Deus e vossa casa. Apreciai-o,
pois, como lugar de encontro com o Pai comum”7.
A igreja-edifício representa e significa a Igreja-assembléia, formada pelas pedras vivas que são os
cristãos, consagrados a Deus pelo Batismo8.
“O lugar onde a comunidade cristã se reúne para escutar a palavra de Deus,
elevar preces de intercessão e de louvor a Deus e, principalmente, para
celebrar os sagrados mistérios, e onde se reserva o Santíssimo Sacramento da
Eucaristia, é imagem peculiar da Igreja, templo de Deus, edificado com pedras
vivas; e o altar, que o povo santo rodeia para participar do sacrifício do
Senhor e alimentar-se do banquete celeste, também é sinal de Cristo, sacerdote,
hóstia e altar do seu próprio sacrifício”9.
Temos,
pois, de ir à igreja com toda a reverência, já que não há nada mais respeitável
do que a casa do Senhor: “Que respeito devem inspirar-nos as nossas igrejas,
onde se oferece o sacrifício do Céu e da terra, o Sangue de um Deus feito
Homem?”10
II.
AS IGREJAS são o lugar de reunião dos membros do novo
Povo de Deus, que se congregam para rezar juntos. Mas são sobretudo o lugar em
que encontramos Jesus, real e substancialmente presente na Sagrada Eucaristia;
está presente com a sua Divindade e com a sua Santíssima Humanidade, com o seu
Corpo e a sua Alma. Ali nos vê e nos ouve, e nos socorre como socorria aqueles
que chegavam, necessitados, de
todas as cidades e aldeias11.
Podemos
manifestar a Jesus presente no Sacrário todos os nossos anelos e preocupações,
as nossas dificuldades e fraquezas, os nossos desejos de amá-lo cada dia mais.
O mundo seria muito diferente se Jesus não tivesse ficado entre nós. Como não
havemos de amar os nossos templos e oratórios, onde Jesus nos espera? Quantas
alegrias não teremos recebido junto do Sacrário! Quantas penas que nos
atormentavam não teremos deixado ali! Em quantas ocasiões não teremos voltado à
azáfama da vida diária fortalecidos e cheios de esperança, depois de passarmos
por uma igreja! Todos os dias, nesses lugares dedicados ao culto e à oração,
descem sobre nós incontáveis graças da misericórdia divina.
Quando
uma pessoa ilustre se hospeda numa casa, seria uma falta de cortesia não
atendê-la bem ou fazer caso omisso dela. Somos sempre conscientes de que Jesus
é nosso Hóspede aqui na terra, de que necessita das nossas atenções? Examinemos
hoje se, ao entrarmos numa igreja, nos dirigimos imediatamente a Jesus no
Sacrário, se nos comportamos com a consciência de estarmos num lugar onde Deus
habita de modo particular, se as nossas genuflexões diante de Jesus
Sacramentado são um verdadeiro ato de fé, se nos alegramos sempre que passamos
por uma igreja, onde Cristo se encontra realmente presente. “Não te alegras
quando descobres no teu caminho habitual, pelas ruas da cidade, outro
Sacrário?”12 E continuamos os nossos
afazeres com mais alegria e paz.
III.
NA NOVA ALIANÇA, o verdadeiro templo já não é produto
de mãos humanas: o Templo de Deus por excelência é a santa Humanidade de Jesus.
Ele mesmo tinha dito: Destruí
este templo, e eu o reedificarei em três dias. E o Evangelista
explica: Ele falava do
templo do seu corpo13.
E
se o Corpo físico de Jesus é o novo Templo de Deus, também o é a Igreja, Corpo
Místico de Cristo, em que Cristo é a pedra
angular sobre a qual se apóia a nova construção. “Desprezado,
rejeitado, abandonado, dado por morto – então como agora –, o Pai o constituiu
e sempre o constitui como base sólida e inamovível da nova construção. E fá-lo
pela sua ressurreição gloriosa [...].
“O
novo templo, Corpo de Cristo, espiritual, invisível, está construído por todos
e cada um dos batizados sobre a viva pedra
angular, Cristo, na medida em que aderem a Ele e nEle crescem até a plenitude de Cristo. Neste
templo e por ele, morada de
Deus no Espírito, Ele é glorificado, em virtude do sacerdócio santo que
oferece sacrifícios espirituais (1 Pe 2, 5), e o seu Reino estabelece-se neste
mundo”14. São Paulo recordava-o
freqüentemente aos primeiros cristãos: Não
sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?15
Temos
de considerar freqüentemente que a Santíssima Trindade “por meio da graça de
Deus, habita na alma justa como num templo, de um modo íntimo e singular”16. A meditação desta realidade maravilhosa
ajuda-nos a ser mais conscientes da transcendência de vivermos na graça de
Deus, e a sentir profundo horror pelo pecado, “que destrói o templo de Deus”,
privando a alma da graça e da amizade divinas. Por essa morada de Deus na nossa
alma, podemos fruir de uma antecipação do que será a visão beatífica no céu, já
que “esta admirável união só na condição e no estado é que se diferencia
daquela de que Deus cumula os bem-aventurados, beatificando-os”17.
A
presença de Deus na nossa alma convida-nos a procurar um trato mais pessoal e
direto com o Senhor, que presencia por dentro, na raiz, todos os nossos
pensamentos, palavras e ações.
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