SAGRADA FAMILIA
Eclo 3,26.12.14; SI 127; CI 3,12-21; Lc 2,22-40
A Festa da Sagrada
Família, no ciclo do Natal, desloca a exclusividade do lugar do culto e da
presença de Deus do templo, compartilhando-o também com o ambiente familiar.
Onde residem o amor, o diálogo e o respeito mútuo, Deus se faz presente. Dessa
forma, a vivência do amor em família representa o culto vivencial a Deus que
concretiza o mistério celebrado nos ritos.
Família na
reciprocidade e respeito
O texto do Eclesiástico se detém na relação entre pais e
filhos. Embora para muitos a imagem da família com esposo, esposa e filhos seja
ultrapassada, o texto sagrado tem como pano de fundo que a família nasce da
relação de amor, o qual abre a experiência da relação homem- -mulher para a
acolhida da vida. Sem o princípio do amor torna-se impossível pensar um
conceito de família.
Muitas vezes lido a partir da submissão da mulher e dos
filhos ao pai, o texto do Eclesiástico acaba sendo mal-interpretado. O primeiro
nível do relacionamento entre os pares na família é a reciprocidade. Essa é a
razão pela qual o autor sagrado vê os(as) filhos(as) como bênção de Deus. A
dignidade e autoafirmação dos filhos nascem numa relação de igualdade e
complementaridade, que expressa o amor entre seus pais. Essa é a relação que
Deus abençoa e que é celebrada como sacramento.
O texto fala mais das atitudes dos filhos em relação aos
pais. Compreende que, para ser lugar da presença de Deus, o lar não se
estrutura em cima de capacidades, mas sobre o substrato do amor-acolhida a cada
um, segundo seu perfil e dignidade. Quando se olha -a família sob essa
perspectiva, o cuidado e o carinho entre seus membros não se limitam aos
momentos felizes, mas se estendem também aos momentos difíceis e de
necessidade. As feridas que os relacionamentos po-dem produzir serão curadas
pelo perdão, e a maldade, pela bondade e beleza do conviver, do reconciliar.
Nesse sentido, quando se vive o amor, não há distância entre o culto a Deus,
celebrado no templo, e o culto vivencial, vivido como experiência de comunhão
na família.
A salvação se
concretiza
A apresentação de Jesus no templo e os ritos de
purificação de sua mãe estão associados à estrutura do culto do templo. As
figuras de Simeão e Ana simbolizam a antiga aliança, que cumpriu sua missão e
agora cede lugar à nova que será instaurada por Jesus. O texto deixa a
impressão de que Maria e José assistem às reações ante o Menino de uma maneira
passiva, como se as atitudes de Simeão e Ana retomassem toda a esperança
alimentada ao longo da história do povo de Israel. Eles são idosos, o que
poderia sugerir desânimo. Todavia, eles são tomados da alegria da fé e veem em
Jesus cumprir-se a salvação esperada.
O fato de serem idosos traz duas implicações importantes.
São maduros suficientes para adquirir aquela sabedoria que os leva a
relativizar as aparências e a perceber o essencial. Por isso, enxergam; em
Jesus o cumprimento das promessas de salvação. Também por esse fato eles
adquirem aquela liberdade de espíritoque os torna capazes de, na humildade,
retirarem-se e ceder lugar ao novo. Nesse sentido os dois protagonizam a
passagem para a nova aliança, que, em jesus, retoma e aperfeiçoa em plenitude à
primeira.
O texto parece atingir seu apice no retorno dos três para
Nazare É no calor- do lar, ambiente discreto e até meio escondido, que viverão
a experiência do novo. Deus estará presente no seio dessa família humilde. Ali
será o novo templo, onde o menino crescerá na sabedoria e - graça necessárias
para sua missão.
Partindo-se desse pressuposto, a família de Nazaré
torna-se mais referencial às famílias por sua vivência do amor e da fé do que
propriamente por sua composição (estrutura). Há uma profunda interação entre
seus membros Maria e Jose, como pais que amam verdadeiramente o filho,
comunicam os valores humanos a Jesus e, este, por sua natureza (divina), faz
Deus chegar até eles. Por essa razão, a nova aliança em Jesus universaliza o
culto e a presença de Deus, partindo do templo para a família (pessoas) e da
família para o templo. Em Jesus toda a nossa vida e história serão assumidas
por Deus.
A nova morada de
Deus
A celebração da Sagrada Familia reforça que o lugar onde
se acolhe e sustenta a vida torna presente o amor de Deus Por essa razão a defesa
da famiha esta estreitamente vinculada a defesa da vida e da dignidade humana A
experiência cristã não parte do principio da condenação aos erros ou mesmo da
estrutura familiar, mas dos valores a serem cultivados em família. A vivência
da fé não se restringe ao âmbito dos templos e comunidades. Deus extrapola
sempre nõssas medidas, porque quer habitar em nossos corações. Assim, viver o
amor em família torna o ambiente familiar lugar do culto vivencial, porque o
amor será sempre a have para que Deus venha habitar em nossos corações, em
nossas vidas.
A festa de hoje, no espírito do Natal, associa o tema da
família à vivência da fé. Quando se retoma o tema da familia e do matrimônio,
depara-se sempre com as criticas das diferentes ideologias Na maior parte das
vezes,fala-se do machismo e, por conseguinte, que o modelo da família
tradicional reforça a submissão da mulher e a discriminação das minorias.
Todavia, a dimensão da complementaridade da relação mulher-homem, que
encontramos nos relatos bíblicos, não se pauta na perspectiva da dominação de
um sobre o outro. Tudo o que é verdadeiramente humano, segundo a visão bíblica,
nasce numa relação de igualdade, complementaridade e solidariedade fundamental
entre homem e mulher.
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