terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A MORADA DE DEUS ENTRE OS POVOS



SAGRADA FAMILIA

Eclo 3,26.12.14; SI 127; CI 3,12-21; Lc 2,22-40
A Festa da Sagrada Família, no ciclo do Natal, desloca a exclusividade do lugar do culto e da presença de Deus do templo, compartilhando-o também com o ambiente familiar. Onde residem o amor, o diálogo e o respeito mútuo, Deus se faz presente. Dessa forma, a vivência do amor em família representa o culto vivencial a Deus que concretiza o mistério celebrado nos ritos.
Família na reciprocidade e respeito
O texto do Eclesiástico se detém na relação entre pais e filhos. Embora para muitos a imagem da família com esposo, esposa e filhos seja ultrapassada, o texto sagrado tem como pano de fundo que a família nasce da relação de amor, o qual abre a experiência da relação homem- -mulher para a acolhida da vida. Sem o princípio do amor torna-se impossível pensar um conceito de família.
Muitas vezes lido a partir da submissão da mulher e dos filhos ao pai, o texto do Eclesiástico acaba sendo mal-interpretado. O primeiro nível do relacionamento entre os pares na família é a reciprocidade. Essa é a razão pela qual o autor sagrado vê os(as) filhos(as) como bênção de Deus. A dignidade e autoafirmação dos filhos nascem numa relação de igualdade e complementaridade, que expressa o amor entre seus pais. Essa é a relação que Deus abençoa e que é celebrada como sacramento.
O texto fala mais das atitudes dos filhos em relação aos pais. Compreende que, para ser lugar da presença de Deus, o lar não se estrutura em cima de capacidades, mas sobre o substrato do amor-acolhida a cada um, segundo seu perfil e dignidade. Quando se olha -a família sob essa perspectiva, o cuidado e o carinho entre seus membros não se limitam aos momentos felizes, mas se estendem também aos momentos difíceis e de necessidade. As feridas que os relacionamentos po-dem produzir serão curadas pelo perdão, e a maldade, pela bondade e beleza do conviver, do reconciliar. Nesse sentido, quando se vive o amor, não há distância entre o culto a Deus, celebrado no templo, e o culto vivencial, vivido como experiência de comunhão na família.
A salvação se concretiza
A apresentação de Jesus no templo e os ritos de purificação de sua mãe estão associados à estrutura do culto do templo. As figuras de Simeão e Ana simbolizam a antiga aliança, que cumpriu sua missão e agora cede lugar à nova que será instaurada por Jesus. O texto deixa a impressão de que Maria e José assistem às reações ante o Menino de uma maneira passiva, como se as atitudes de Simeão e Ana retomassem toda a esperança alimentada ao longo da história do povo de Israel. Eles são idosos, o que poderia sugerir desânimo. Todavia, eles são tomados da alegria da fé e veem em Jesus cumprir-se a salvação esperada.
O fato de serem idosos traz duas implicações importantes. São maduros suficientes para adquirir aquela sabedoria que os leva a relativizar as aparências e a perceber o essencial. Por isso, enxergam; em Jesus o cumprimento das promessas de salvação. Também por esse fato eles adquirem aquela liberdade de espíritoque os torna capazes de, na humildade, retirarem-se e ceder lugar ao novo. Nesse sentido os dois protagonizam a passagem para a nova aliança, que, em jesus, retoma e aperfeiçoa em plenitude à primeira.
O texto parece atingir seu apice no retorno dos três para Nazare É no calor- do lar, ambiente discreto e até meio escondido, que viverão a experiência do novo. Deus estará presente no seio dessa família humilde. Ali será o novo templo, onde o menino crescerá na sabedoria e - graça necessárias para sua missão.
Partindo-se desse pressuposto, a família de Nazaré torna-se mais referencial às famílias por sua vivência do amor e da fé do que propriamente por sua composição (estrutura). Há uma profunda interação entre seus membros Maria e Jose, como pais que amam verdadeiramente o filho, comunicam os valores humanos a Jesus e, este, por sua natureza (divina), faz Deus chegar até eles. Por essa razão, a nova aliança em Jesus universaliza o culto e a presença de Deus, partindo do templo para a família (pessoas) e da família para o templo. Em Jesus toda a nossa vida e história serão assumidas por Deus.
A nova morada de Deus
A celebração da Sagrada Familia reforça que o lugar onde se acolhe e sustenta a vida torna presente o amor de Deus Por essa razão a defesa da famiha esta estreitamente vinculada a defesa da vida e da dignidade humana A experiência cristã não parte do principio da condenação aos erros ou mesmo da estrutura familiar, mas dos valores a serem cultivados em família. A vivência da fé não se restringe ao âmbito dos templos e comunidades. Deus extrapola sempre nõssas medidas, porque quer habitar em nossos corações. Assim, viver o amor em família torna o ambiente familiar lugar do culto vivencial, porque o amor será sempre a have para que Deus venha habitar em nossos corações, em nossas vidas.
A festa de hoje, no espírito do Natal, associa o tema da família à vivência da fé. Quando se retoma o tema da familia e do matrimônio, depara-se sempre com as criticas das diferentes ideologias Na maior parte das vezes,fala-se do machismo e, por conseguinte, que o modelo da família tradicional reforça a submissão da mulher e a discriminação das minorias. Todavia, a dimensão da complementaridade da relação mulher-homem, que encontramos nos relatos bíblicos, não se pauta na perspectiva da dominação de um sobre o outro. Tudo o que é verdadeiramente humano, segundo a visão bíblica, nasce numa relação de igualdade, complementaridade e solidariedade fundamental entre homem e mulher.

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