4º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B
2Sm
7,l-5.8b-12.14ª 16; SI 88; Rm I6,25-27; Lc 1,26-48
Aproximando-nos do Natal, a liturgia convida-nos olhar a pessoa de Maria.
Substituindo a antiga Arca da Aliança que portava em seu interior as tábuas da
lei, Maria, através de seu sim, porta em seu ventre Jesus, cuja vida e atuação
recriará a humanidade na ordem da graça. Jesus é a nova lei, não mais
fundamentada em regras e normas, mas expressa e vivencjada em atitudes de
misericórdia e de acolhida aos pequenos e excluídos da convivência social e
religiosa.
A liberdade de Deus
Após
processo de conquista e expansão do território de Israel em sua máxima
fronteira, o reino de Davi começa a viver um período de paz (política). Nessa
conformação política, são encontradas as condições para o desenvolvimento
econômico e a consolidação das classes políticas. A resistência inicial dos
juíze e profetas em relação à realeza reside na tentação dos governantes em
querer controlar Deus. A reação de Natã ante o desejo de Davi em construir um
lugar para a arca da aliança mostra que ele estava, convencido de que toda a
ação do rei contava com a aprovação divina.
O Segundo
Livro de Samuel destaca que nem toda ação do ei automaticamente esteja de
acordo com a vontade de Deus. Embora o texto faça uma ponte para o futuro
templo a ser construído por Salomão, ele ressalta o caráter itinerante de Deus
ao acompanhar o povo. Tal itinerância já é indicadora da liberdade absoluta de
Deus que não poderá ser dominado ou controlado nem mesmo pela realeza de
Israel.
Focado na perspectiva da aliança, o autor sagrado reforça
que a fonte de estabilidade de Israel é Deus. A vitória sobre os inimigos é
fruto da ação dele junto ao povo, e não meramente da estratégia dos governantes
ou de seu poder de fogo. Essa é uma correção pedagógica, porque por trás da
construção de um templo sempre reside o interesse de controlar o aparelho
religioso e, “controlando Deus”, dessa forma, controlar o povo. Nessa passagem
de Samuel, embora a promessa refira-se de imediato a Salomão, podemos ver
refletida aí uma referência a Jesus, cuja vinda ao mundo será fonte da paz
verdadeira.
Bendita entre as mulheres
A cena da
anunciação desperta nossa sensibilidade para a bondade divina e para beleza de
Maria que, em sua simplicidade, dá sua adesão ao projeto de salvação desejado
por Deus. A figura do Anjo revela o que Deus prepara para a humanidade. Maria
representa a humanidade que se dispõe a Deus, e a referência a José como
descendente de Davi revela a fidelidade de Deus à sua aliança. Ele mantém
intacto seu projeto de salvação para a humanidade, gestado desde toda a
eternidade.
A
proposta de salvação não é uma ação unidirecional, vinda de Deus sem
participação da humanidade. Embora o elemento humano seja prescindível, Deus
quis precisar de nossa humanidade para realizar seus desígnios salvíficos. Ao
dirigir a palavra a Maria, a figura do Anjo revela que a iniciativa é sempre de
Deus. A confusão de Maria mostra o inesperado da ação de Deus. Ele é graça que
se doa. Por isso, a salvação é fruto de um dkilogo estabelecido entre Deus e a
humanidade, em que Deus dá o primeiro passo.
A graça
de Deus, por força do Espírito, agirá em Maria e ela conceberá um Filho na
linhagem de Davi, isto é, na linhagem da salvação que Deus realizará por meio
dele. A partir da limitação humana, Maria não vê a possibilidade de isso
ocorrer no nível humano: não conheço homem algum. Essa inquietação de
Maria é fundamental para deixar claro que é Deus, por seu poder, que tem a iniciativa
e o desejo de salvar. Dessa forma, a imagem da concepção virginal de Maria
desloca o lugar da manifestação de Deus dos templos e dos locais “sagrados”
para a pessoa humana. Ela será a arca da aliança definitiva.
Cristo,
ao nascer de Maria pela força do Espírito, é o Filho de Deus, cuja humanidade é
a presença real de Deus na história de homens e mulheres de todos os tempos.
Por isso, embora a salvação da humanidade esteja nos desi’gnios de Deus desde
sempre, o assentimento de Maria ao convite do Anjo incorpora a adesão de toda a
humanidade à salvação que nos chega por Cristo.
O relato da anunciação é convite para experimentarmos o
Natal como presença atuante da graça de Deus que nos chega em Jesus. Portanto,
não se trata de uma data cronológica, mas teológica. A memória do nascimento de
Cristo e de sua preparação (Anunciação) reacende em nós a certeza e esperança
que Deus continua fazendo-se presente entre nós a nos oferecer de sua própria
vida.
Gerar e acolher a
salvação na graça
Pela fé
compreendemos que Deus é quem confirma nossa fidelidade ao Evangelho. À medida
que nos aprofundamos em nossa experiência de fé, o mistério da redenção,
escondido desde sempre, vai revelando-se por meio de Cristo. Nesse sentido, a
sagrada escritura prepara mentes e corações para a acolhida de Jesus que, por
sua encarnação, se torna revelação palpável do mistério da salvação. Ela,
portanto, oferece-nos o conhecimento necessário para chegarmos à fé.
Ao nos
preparar para celebrar o memorial do natal, encarnação de Cristo, fica-nos
claro que o verdadeiro louvor a Deus reflete nossa acolhida a seu Filho, que é
a razão do louvor. A liturgia não se vincula ao tempo cronológico, vinculado a
datas. Ela é experiência do kairós, que se refere à qualidade – maturidade que
nos conduz à experiência de encontro com Deus. Nesse sentido, é próprio da
liturgia atualizar o evento salvífico de Cristo no presente da história. A
anunciação, hoje, não se dirige somente a Maria, mas a cada um de nós.
Assumindo Cristo como presença da graça divina que nos chega, somos convocados
a sutentar a esperança humana na salvação que Deus nos oferece.
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