segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

EIS QUE CONCEBERÁS O SALVADOR!



4º DOMINGO DO ADVENTO – ANO B

2Sm 7,l-5.8b-12.14ª 16; SI 88; Rm I6,25-27; Lc 1,26-48

Aproximando-nos do Natal, a liturgia convida-nos olhar a pessoa de Maria. Substituindo a antiga Arca da Aliança que portava em seu interior as tábuas da lei, Maria, através de seu sim, porta em seu ventre Jesus, cuja vida e atuação recriará a humanidade na ordem da graça. Jesus é a nova lei, não mais fundamentada em regras e normas, mas expressa e vivencjada em atitudes de misericórdia e de acolhida aos pequenos e excluídos da convivência social e religiosa.
A liberdade de Deus 
Após processo de conquista e expansão do território de Israel em sua máxima fronteira, o reino de Davi começa a viver um período de paz (política). Nessa conformação política, são encontradas as condições para o desenvolvimento econômico e a consolidação das classes políticas. A resistência inicial dos juíze e profetas em relação à realeza reside na tentação dos governantes em querer controlar Deus. A reação de Natã ante o desejo de Davi em construir um lugar para a arca da aliança mostra que ele estava, convencido de que toda a ação do rei contava com a aprovação divina.
O Segundo Livro de Samuel destaca que nem toda ação do ei automaticamente esteja de acordo com a vontade de Deus. Embora o texto faça uma ponte para o futuro templo a ser construído por Salomão, ele ressalta o caráter itinerante de Deus ao acompanhar o povo. Tal itinerância já é indicadora da liberdade absoluta de Deus que não poderá ser dominado ou controlado nem mesmo pela realeza de Israel.
Focado na perspectiva da aliança, o autor sagrado reforça que a fonte de estabilidade de Israel é Deus. A vitória sobre os inimigos é fruto da ação dele junto ao povo, e não meramente da estratégia dos governantes ou de seu poder de fogo. Essa é uma correção pedagógica, porque por trás da construção de um templo sempre reside o interesse de controlar o aparelho religioso e, “controlando Deus”, dessa forma, controlar o povo. Nessa passagem de Samuel, embora a promessa refira-se de imediato a Salomão, podemos ver refletida aí uma referência a Jesus, cuja vinda ao mundo será fonte da paz verdadeira.
Bendita entre as mulheres
A cena da anunciação desperta nossa sensibilidade para a bondade divina e para beleza de Maria que, em sua simplicidade, dá sua adesão ao projeto de salvação desejado por Deus. A figura do Anjo revela o que Deus prepara para a humanidade. Maria representa a humanidade que se dispõe a Deus, e a referência a José como descendente de Davi revela a fidelidade de Deus à sua aliança. Ele mantém intacto seu projeto de salvação para a humanidade, gestado desde toda a eternidade.
A proposta de salvação não é uma ação unidirecional, vinda de Deus sem participação da humanidade. Embora o elemento humano seja prescindível, Deus quis precisar de nossa humanidade para realizar seus desígnios salvíficos. Ao dirigir a palavra a Maria, a figura do Anjo revela que a iniciativa é sempre de Deus. A confusão de Maria mostra o inesperado da ação de Deus. Ele é graça que se doa. Por isso, a salvação é fruto de um dkilogo estabelecido entre Deus e a humanidade, em que Deus dá o primeiro passo.
A graça de Deus, por força do Espírito, agirá em Maria e ela conceberá um Filho na linhagem de Davi, isto é, na linhagem da salvação que Deus realizará por meio dele. A partir da limitação humana, Maria não vê a possibilidade de isso ocorrer no nível humano: não conheço homem algum. Essa inquietação de Maria é fundamental para deixar claro que é Deus, por seu poder, que tem a iniciativa e o desejo de salvar. Dessa forma, a imagem da concepção virginal de Maria desloca o lugar da manifestação de Deus dos templos e dos locais “sagrados” para a pessoa humana. Ela será a arca da aliança definitiva.
Cristo, ao nascer de Maria pela força do Espírito, é o Filho de Deus, cuja humanidade é a presença real de Deus na história de homens e mulheres de todos os tempos. Por isso, embora a salvação da humanidade esteja nos desi’gnios de Deus desde sempre, o assentimento de Maria ao convite do Anjo incorpora a adesão de toda a humanidade à salvação que nos chega por Cristo.
O relato da anunciação é convite para experimentarmos o Natal como presença atuante da graça de Deus que nos chega em Jesus. Portanto, não se trata de uma data cronológica, mas teológica. A memória do nascimento de Cristo e de sua preparação (Anunciação) reacende em nós a certeza e esperança que Deus continua fazendo-se presente entre nós a nos oferecer de sua própria vida.
Gerar e acolher a salvação na graça
Pela fé compreendemos que Deus é quem confirma nossa fidelidade ao Evangelho. À medida que nos aprofundamos em nossa experiência de fé, o mistério da redenção, escondido desde sempre, vai revelando-se por meio de Cristo. Nesse sentido, a sagrada escritura prepara mentes e corações para a acolhida de Jesus que, por sua encarnação, se torna revelação palpável do mistério da salvação. Ela, portanto, oferece-nos o conhecimento necessário para chegarmos à fé.
Ao nos preparar para celebrar o memorial do natal, encarnação de Cristo, fica-nos claro que o verdadeiro louvor a Deus reflete nossa acolhida a seu Filho, que é a razão do louvor. A liturgia não se vincula ao tempo cronológico, vinculado a datas. Ela é experiência do kairós, que se refere à qualidade – maturidade que nos conduz à experiência de encontro com Deus. Nesse sentido, é próprio da liturgia atualizar o evento salvífico de Cristo no presente da história. A anunciação, hoje, não se dirige somente a Maria, mas a cada um de nós. Assumindo Cristo como presença da graça divina que nos chega, somos convocados a sutentar a esperança humana na salvação que Deus nos oferece.

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