AMOR AOS POBRES, HUMILDES E PEQUENOS
Zc 9,9-10 – Sl 144 – Rm 8,9.11-13 – Ev Mt
11,25-30
As leituras de hoje são um conjunto de paradoxos. O rei messiânico,
cujo “domínio se estenderá de mar a mar” (1ª
leitura), se manifesta manso e indefeso, montando um jumentinho e não um
fogoso cavalo de guerra. Sua “epifania” não é a fulgurante e triunfal do rei
guerreiro e vitorioso, que arrasta após si colunas de prisioneiros, como presa
de guerra, É rei de paz, que destrói os símbolos e instrumentos de guerra. Sua
pessoa e seu programa evocam mais a figura do Servo de Javé que, como lemos em
Is 42,1-4, se apresenta como modelo dos “pobres de Javé”.
É o paradoxo de rei humilde, embora dominador do mundo. Lembra inevitavelmente
Jesus, que no dia de ramos faz ingresso triunfal em Jerusalém, como rei
pacífico montando um manso jumento.
Igualmente
paradoxais são as afirmações do evangelho.
Parece ouvir-se o eco do sermão da montanha. Lá, o gênero literário era das
vem-aventuranças; aqui, é o da bênção de graças ao Pai. Lá, os pobres, os
humildes e os perseguidos são chamados bem-aventurados, porque deles é o Reino
dos céus; aqui, são ainda os humildes, os ignorantes e os oprimidos, a quem
Deus revela os segredos do seu reino.
A lei do Reino
Em realidade,
nós o sabemos, Deus se revela a todos, mas os sábios tornam muitas vezes
ineficaz e vã a revelação de Deus. Os inteligentes e os sábios são aqui, os
mestres religiosos do tempo: os escribas, os fariseus, conhecedores da lei e
hábeis manipuladores das tradições. Possuindo o conhecimento da Lei, tornam-se
opressores e sobrecarregam os ombros dos pobres e dos ignorantes “de pesos
insuportáveis, os quais vós mesmos não tocais nem com um dedo!”. Jesus, ao
contrário, chama a si os que estão fatigados e oprimidos, e o jugo que lhes
impõe é suave e leve. Seu jugo, porém, não é leve por ser ele menos exigente,
como de sua moralidade fosse permissiva e licenciosa, mas porque ele, com sua
solidariedade e participação concreta, o torna leve. Ele é o primeiro dos
pobres, dos simples, dos mansos. Carrega, na frente á cruz sobre seu ombros; é
sua proximidade que torna suportável e leve a cruz de que o segue. A lei do
Reino de Deus é a lei do mais pequenino, do mais pobre. Deus escolhe os humildes, os simples, os ignorantes. É a lei do grão de
mostarda, dos inícios humildes e ocultos...Paulo o faz notar aos coríntios,
enfermos da sabedoria do mundo. “Considerai, de fato, o vosso chamado, irmãos:
não entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos. Me muitos
nobres. Deus escolheu o que é tolo, no mundo, para confundir os sábios; Deus
escolheu o que é fraco, no mundo, para confundir os fortes, Deus escolheu o que
é ignóbil e desprezado e o que nada é, para reduzir a nada as coisas que são, a
fim de que ninguém possa gloriar-se diante de Deus”.
Obstáculo ao Reino
É preciso não
confundir a pobreza coma situação descrita por Jesus no evangelho, como se
pobres e os oprimidos fossem automaticamente sinônimos de filhos do Reino.
Certamente Jesus que dizer que a riqueza, a sabedoria, a grandeza, “segundo a
avaliação terrena”, podem constituir graves obstáculos ao Reino de Deus, no
sentido de que dão segurança, confiança nas próprias forças, autonomia, isto é,
aquelas atitudes, e que dão origem á sua recusa do reino. Certamente Jesus quis
ainda afirmar que os pobres, os últimos estão em condições ideais para acolher
sua mensagem de libertação, mas têm também necessidade, para vivê-la, de passar
pelo processo de libertação pascal.
Disponibilidade para a esperança
A capacidade
de acolher a mensagem evangélica está ligada a certa liberdade que provém do
não possuir, mas o não possuir não
gera espontaneamente uma consciência evangélica. Os pobres têm as condições
para viver o evangelho, porque estão disponíveis à esperança, mas não o vivem
se não tomarem consciência, através de opções sempre renovadas, de quem o homem
é filho de Deus, não quando possui mais, mas quando é solidário com os outros
homens e considera a vida como uma edificação, na esperança.
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