Mateus 13,24-30: Joio e
trigo crescem juntos
O evangelho para a liturgia deste domingo nos leva
a meditar sobre a parábola do joio e do trigo. Tanto na sociedade como na
comunidade e na vida de todos nós, existe tudo misturado: qualidades boas e
incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades, reúnem-se pessoas que
vêm dos vários cantos do Brasil, cada uma com a sua história, com a sua vivência,
a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Existem pessoas que não
sabem conviver com as diferenças. Querem ser juízes dos outros. Acham que só
elas estão certas, e os outros errados. A parábola do joio e do trigo ajuda a
não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como
nós.
Os empregados que aparecem na parábola representam
certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Prestemos
atenção nas atitudes dos empregados e na reação do Dono da terra.
O lugar da parábola no Sermão das Parábolas
O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas.
Seguindo o texto de Marcos (Mc 4,1-34), Mateus omitiu a parábola da semente que
germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas
(Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do
fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede
(Mt 13,47-50). Com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt
13,31-32), são ao todo sete parábolas. Estamos aqui no centro do Evangelho de
Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que
aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.
Durante séculos, por causa da observância das leis
de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento
marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta
mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total.
Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver
tolerância com o pecado”, diziam eles. Mas outro, como Paulo, ensinava que a
Nova Lei de Deus, trazida por Jesus, pedia o contrário. Eles diziam: “Não pode
haver tolerância com o pecado, mas deve haver tolerância com o pecador!” A
comunidade deve vencer a tentação de querer excluir os que pensam de modo
diferente. Este é o pano de fundo da parábola do joio e do trigo.
1. Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo
crescem juntos
A palavra de Deus que faz nascer à comunidade
é semente boa, mas nas comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à
palavra de Deus. De onde vêm? Essa era a discussão.
2. Mateus 13,27-28a: A causa da mistura
que existe na vida
Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O
inimigo, o adversário, Satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que
desvia. A tendência de divisão existe dentro de cada um de nós. O desejo de
dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos
interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de
nós.
3. Mateus 13,28b-30: A reação diferente diante da ambigüidade
Diante dessa mistura do bem e do mal, alguns queria
arrancar o joio. Pensavam: “Se deixarmos todo o mundo na comunidade, perdemos
nossa razão de ser! Perdemos a identidade!” Queriam expulsar os que pensavam de
modo diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: “Deixa-os
crescerem juntos até a colheita!” O que vai decidir não é o que cada um fala e
diz, e sim o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos
julgará. A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo
sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é
dona do Reino, nem pode considerar-se justa. A parábola do joio e do trigo explica
a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter paciência e
aprender a conviver com as contradições e as diferenças, mesmo tendo uma opção
clara pela justiça do Reino.
Ensino em parábolas
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o
quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade
transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta
para as coisas da vida e, por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das
coisas da vida todo o mundo tem alguma experiência. O ensinamento por parábolas
faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor,
passarinho, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida
quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não
costumava explicar as parábolas. Geralmente, terminava com esta frase: “Quem
tem ouvidos, ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43). Ou seja: “É isso! Vocês ouviram! Agora
tratem de entender!” Jesus deixava o sentido da parábola em aberto e não o
determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o
sentido da parábola, baseado na sua experiência de vida.
De vez em quando, a pedido dos discípulos,
ele explicava o sentido (Mt 13,10.3). Por exemplo, os versículos 36-43 trazem a
explicação da parábola do joio e do trigo. Ela mostra como se fazia catequese
naquele tempo. As comunidades se reuniam e discutiam as parábolas de Jesus,
procurando saber o que ele queria dizer. Assim, pouco a pouco, o ensinamento
aberto de Jesus começava a ser afunilado na catequese da comunidade que
aceitava apenas uma explicação da parábola. Ela não tinha a mesma confiança de
Jesus na capacidade do povo de entender as coisas do Reino.
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