CRISTO PERMANECE CONOSCO NO SINAL DA SUA PÁSCOA
1.ª Leit. – Deut
8, 2-3. 14b-16a; Sal – 147, 12-13. 14-15. 19-20; 2.ª Leit. – 1 Cor 10, 16-17; Evangelho
– Jo 6, 51-58.
A festa que hoje celebramos é um convite a
decifrar a mistério que se esconde por detrás do “Pão e Vinho repartidos”.
Na primeira leitura o Povo de
Deus experimentou a presença e a bondade do Senhor na caminhada pelo deserto,
durante quarenta anos, quando as dificuldades o atormentavam e recebia do Céu
pontualmente a resposta às suas carências. A vida de fé ensina-nos que também
nós, muitas vezes na vida, experimentamos a bondade de Deus para conosco.
O salmo 147 que a Liturgia nos
convida a cantar como resposta à interpelação que o Senhor nos com a primeira
leitura, combina o louvor com o reconhecimento da ação divina sobre a criação e
o Seu Povo.
Na segunda leitura, S. Paulo
dá resposta à questão posta sobre se podiam comer ou não as carnes de animais
que antes tinham sido imoladas nos templos idolátricos e depois comidas em
banquetes sacrificiais promovidos pelos devotos, ou vendidas no mercado e
diz-nos que a Sagrada Eucaristia não é mero sinal significativo de unidade –
todos comem do mesmo pão –, mas é sobretudo um sinal que produz a unidade;
precisamente porque contém Jesus Cristo, cimenta a unidade inaugurada no
Batismo.
No Evangelho Jesus
apresenta-Se-nos no discurso à multidão para quem multiplicara miraculosamente
os pães e os peixes, como o verdadeiro alimento do Céu que o pai nos dá.
REFLEXÃO
HOMILÉTICA
“Hoje a Igreja nos
convida: ao pão vivo que dá vida vem com ela celebrar!” É, precisamente,
este o sentido da solenidade de hoje: celebrar, proclamar, professar, expressar
a nossa fé inabalável na presença real do Cristo morto e ressuscitado nas
espécies eucarísticas do Pão e do Vinho!
Esta é a nossa fé: acreditamos com todo o
nosso coração e com toda a nossa mente que, nas espécies eucarísticas
oferecidas como Sacrifício de Cristo – sacrifício único, perfeito, eterno – o
Senhor Jesus está realmente presente no seu Corpo e no seu Sangue, alma e
divindade, tão perfeito e real como está no céu. Diante do pão e do vinho
consagrados, podemos cantar, como o povo cristão canta: “Deus está aqui! Ó
vinde, adoradores, adoremos a Cristo redentor!”. Nas espécies consagradas
já não há mais pão, já não há mais vinho: há somente o Corpo e o Sangue do
Senhor morto e ressuscitado, todo no que era vinho, todo no que era pão. É Ele:
adorável, amável, Vida para nossa vida! Trata-se de um Mistério de fé que só
pode ser compreendido de joelhos! Trata-se de uma realidade concreta que só
pode ser apreendida se abrirmos o coração ao desígnio amoroso e salvífico de
Deus! Não há como perceber, não há como provar, não há como demonstrar
cientificamente! Não podemos apreendê-lo, capturá-lo com a nossa razão e os
nossos sentidos: o paladar falha, pois saboreia pão e vinho; o tacto falha,
pois toca pão e vinho; a visão falha, pois vê apenas pão e vinho; o olfato
falha, pois cheira só pão e vinho... Só pelo ouvido, que crê o que escuta,
podemos perceber o Mistério; só a audição não falha:
“Isto é o Meu
corpo; isto é o Meu sangue! Eu sou o pão vivo descido do céu. O pão que Eu
darei é a minha carne dada para a vida do mundo!”.
Que mistério tão
grande: o pão que Cristo dá é a carne dada, a carne sacrificada, entregue na
cruz, para a vida do mundo! Que mistério! Que amor!
Os judeus entenderam, os judeus contestaram,
os judeus escandalizaram-se, os judeus abandonaram-n’O! Infelizmente, há
cristãos que não entendem, que contestam, que se escandalizam e não comem nem
bebem a Vida que dura eternamente!
Mas, Jesus insiste: “Em verdade, em
verdade os digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu
sangue, não tereis a vida em vós! Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue
tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei!”
– São palavras impressionantes, quase que
inacreditáveis: o corpo e sangue de Jesus devem ser comidos como fonte de vida!
Não de qualquer vida, mas da vida eterna, vida de Deus! Esta vida é o próprio Espírito
Santo, que ressuscitou Jesus e que impregna o Seu Corpo e Sangue nas espécies
eucarísticas! Por isso, na comunhão, recebemos, comemos a Vida já agora e
plantamos esta Vida para a ressurreição final!
“Porque a Minha
carne é verdadeira comida e o Meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a Minha
carne e bebe o Meu sangue permanece em mim e Eu nele!”
– O que mais Jesus poderia dizer para deixar
mais claro e patente que a Sua presença na Eucaristia é realmente real?
É “verdadeiramente comida, é verdadeiramente
bebida!” “Como o Pai que Me enviou vive – é o Deus vivente e pleno de
vida –, e Eu vivo pelo Pai, o que come de mim viverá por mim!”
– Que dom, que graça: viver por Jesus, viver
com a mesmíssima vida que Jesus ressuscitado recebeu do Pai: viver daquela vida
escondida no pão e no vinho! Eis o dom que o Senhor faz de si mesmo! E Jesus
conclui, no Evangelho de hoje:
“Este é o pão que
desceu do céu, não é um simples pão deste mundo! Não é como aquele que os
vossos pais comeram. Eles morreram! O maná não dava a vida divina, o maná não
era transfigurado pelo Espírito Santo, Senhor que dá a vida! Aquele que come
este pão viverá para sempre!”
Na travessia do deserto da vida, o Senhor
conduz-nos entre humilhações e provas, que nos revelam quem somos, o que temos
no coração... O Senhor não nos infantiliza, não nos livra dos embates da
existência, mas permanece conosco:
“Não te esqueças
do Senhor teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa de escravidão, e
te conduziu através do imenso e temível deserto, entre serpentes venenosas e
escorpiões,terreno árido e sem águas. Foi Ele quem, da rocha dura, fez nascer
água para ti e, no deserto, te deu a comer o maná, que teus pais não tinham
conhecido” para te mostrar que “nem só de pão vive o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus!”
Nos nossos desertos,
neste deserto da longa história humana, que a Igreja vai atravessando,
nutramo-nos desse pão e bebamos da bebida que sai do Cristo, nossa Rocha! Este
alimento verdadeiro, de vida verdadeira, temo-lo no altar.
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