BATISMO DO SENHOR
Is 42,1-4.6-7; Sl 28 (29); At 10,34-38; Mc
1,7-11
A liturgia
deste domingo tem como cenário de fundo o projeto salvador de Deus. No batismo
de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao
mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo
o projeto do Pai, Ele fez-se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e
humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos,
para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.
A primeira
leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens
para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de
Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer
ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
No Evangelho,
aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/ “Servo”
enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a
libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se
com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e
de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
A segunda
leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para
concretizar um projeto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o
bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os
discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os
povos da terra.
MENSAGEM
1ª Leitura – Is 42,1-4.6-7
O nosso texto
pertence ao “Livro da Consolação” do Deutero-Isaías (cf. Is 40-55).
“Deutero-Isaías” é um nome convencional com que os biblistas designam um
profeta anônimo da escola de Isaías, que cumpriu a sua missão profética na
Babilônia, entre os exilados judeus. Estamos na fase final do Exílio, entre 550
e 539 a.C.; os judeus exilados estão frustrados e desorientados, pois, apesar
das promessas do profeta Ezequiel, a libertação tarda… Será que Deus se
esqueceu do seu Povo? Será que as promessas proféticas eram apenas “conversa
fiada”?
O
Deutero-Isaías aparece então com uma mensagem destinada a consolar os exilados.
Começa por anunciar a iminência da libertação e por comparar a saída da
Babilônia ao antigo êxodo, quando Deus libertou o seu Povo da escravidão do
Eleito (cf. Is 40-48); depois, anuncia a reconstrução de Jerusalém, essa cidade
que a guerra reduziu a cinzas, mas à qual Deus vai fazer regressar a alegria e a
paz sem fim (cf. Is 49-55).
No meio desta
proposta “consoladora” aparecem, contudo, quatro textos (cf. Is 42,1-9;
49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) que fogem um tanto a esta temática. São cânticos
que falam de uma personagem misteriosa e enigmática, que os biblistas designam
como o “Servo de Jahwéh”: ele é um predileto de Jahwéh, a quem Deus chamou, a
quem confiou uma missão profética e a quem enviou aos homens de todo o mundo; a
sua missão cumpre-se no sofrimento e numa entrega incondicional à Palavra; o sofrimento
do profeta tem, contudo, um valor expiatório e redentor, pois dele resulta o
perdão para o pecado do Povo; Deus aprecia o sacrifício deste “Servo” e
recompensá-lo-á, fazendo-o triunfar diante dos seus detratores e adversários.
O texto que
hoje nos é proposto é parte do primeiro cântico do “Servo” (cf. Is 42,1-9). É
possível que a personagem referenciada neste primeiro cântico seja Ciro, rei
dos persas, o homem a quem Deus confiou à libertação do seu Povo…
Salmo 28 (29)
Refrão: O Senhor abençoará o seu povo na
paz.
2ª Leitura – Atos 10,34-38
Os “Atos dos
Apóstolos” são uma catequese sobre a “etapa da Igreja”, isto é, sobre a forma
como os discípulos assumiram ou continuaram o projeto salvador do Pai e o
levaram – após a partida de Jesus deste mundo – a todos os homens.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. At 1-12), a reflexão apresenta-nos a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por ação de Pedro e dos Doze; a segunda (cf. At 13-28) apresenta-nos a expansão do Evangelho fora da Palestina (até Roma), sobretudo por acão de Paulo.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. At 1-12), a reflexão apresenta-nos a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por ação de Pedro e dos Doze; a segunda (cf. At 13-28) apresenta-nos a expansão do Evangelho fora da Palestina (até Roma), sobretudo por acão de Paulo.
O nosso texto
de hoje está integrado na primeira parte dos “Atos”. Insere-se numa preocupa
que descreve a atividade missionária de Pedro na planície do Sharon (cf. At
9,32-11,18) – isto é, na planície junto da orla mediterrânica palestina. Em
concreto, o texto propõe-nos o testemunho e a catequese de Pedro em Cesárea, em
casa do centurião romano Cornélio. Convocado pelo Espírito (cf. At 10,19-20),
Pedro entra em casa de Cornélio, expõe-lhe o essencial da fé e baptiza-o, bem
como a toda a sua família (cf. At 10,23b-48). O episódio é importante porque
Cornélio é o primeiro pagão a cem por cento a ser admitido ao cristianismo por
um dos Doze: significa que a vida nova que nasce de Jesus se destina a todos os
homens.
ALELUIA – cf. Mc 9,6
Aleluia. Aleluia.
Abriram-se os céus e ouviu-se a
voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado:
escutai-O».
Evangelho – Mc 1,7-11
O Evangelho deste domingo apresenta o encontro entre Jesus e João
Baptista, nas margens do rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi batizado por
João.
João Baptista foi o guia carismático de um
movimento de carisma popular, que anunciava a proximidade do “juízo de Deus”. A
sua mensagem estava centrada na urgência da conversão (pois, na opinião de João,
a intervenção definitiva de Deus na história para destruir o mal estava
iminente) e incluía um rito de purificação pela água.
O “batismo”
proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo
conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos de
purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um rito usado na integração
dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de
Deus.
Na
perspectiva de João, provavelmente, este “batismo” é um rito de iniciação à
comunidade messiânica: quem aceitava este “batismo”, renunciava ao pecado,
convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias.
O que é que
Jesus tem a ver com isto? Que sentido faz apresentar-Se a João para receber
este “batismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados?
O texto que
hoje nos é proposto faz parte de um conjunto de três cenas iniciais (cf. Mc
1,2-8; 1,9-11; 1,12-13) nas qual Marcos apresenta Jesus como o Messias, Filho
de Deus. Nesse trítico, fica desde logo definida a missão específica e a
verdadeira identidade de Jesus. Estas indicações iniciais irão depois ser
desenvolvidas e completadas ao longo do Evangelho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário