3º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO – B
Jonas 3,1-5.10; Salmo 24 (25); 1 Coríntios
7, 29-31; EVANGELHO – Mc 1,14-20
A liturgia do
3º Domingo do Tempo Comum propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no
passado domingo. Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e
chama-o à vida plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus
passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus.
A primeira
leitura diz-nos – através da história do envio do profeta Jonas a pregar a
conversão aos habitantes de Nínive – que Deus ama todos os homens e a todos
chama à salvação. A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus
e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta
adequada ao chamamento de Deus.
No Evangelho
aparece o convite que Jesus faz a todos os homens para se tornarem seus
discípulos e para integrarem a sua comunidade. Marcos avisa, contudo, que a
entrada para a comunidade do Reino pressupõe um caminho de “conversão” e de
adesão a Jesus e ao Evangelho.
A segunda
leitura convida o cristão a ter consciência de que “o tempo é breve” – isto é,
que as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser
absolutizados. Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de
olhos postos no mundo futuro – quer dizer, a dar prioridade aos valores
eternos, a converter-se aos valores do “Reino”.
1ª Leitura – Jonas 3,1-5.10
«Levanta-te, vai à grande cidade
de Nínive e apregoa nela a mensagem que Eu te direi».
Jonas levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor.
Jonas levantou-se e foi a Nínive, conforme a palavra do Senhor.
Nínive era uma grande cidade aos olhos de Deus;
levava três dias a atravessar.
Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar nestes termos:
«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno.
Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho,
desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou.
Jonas entrou na cidade, caminhou durante um dia e começou a pregar nestes termos:
«Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída». Os habitantes de Nínive acreditaram em Deus, proclamaram um jejum e revestiram-se de saco, desde o maior ao mais pequeno.
Quando Deus viu as suas obras e como se convertiam do seu mau caminho,
desistiu do castigo com que os ameaçara e não o executou.
MENSAGEM
O nosso texto
começa com Jonas a receber o segundo mandato de Jahwéh para ir a Nínive. Jonas
aceita, desta vez, a missão, vai a Nínive e anuncia aos ninivitas a destruição
da sua cidade. Contra todas as expectativas, os ninivitas escutam-no, fazem
penitência e manifestam a sua vontade de conversão. Finalmente, Deus desiste do
castigo.
A primeira
lição da “parábola” é a da universalidade do amor de Deus. Deus ama todos os
homens, sem exceção, e sobre todos quer derramar a sua bondade e a sua
misericórdia. Mais: Deus ama mesmo os maus, os injustos e opressores e até a
esses oferece a possibilidade de salvação. Deus não ama o pecado, mas ama os
pecadores. Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva.
A segunda
lição da nossa “parábola” brota da resposta dada pelos ninivitas ao desafio de
Deus. Ao descrever a forma imediata e radical como os ninivitas “acreditaram em
Deus” e se converteram “do seu mau caminho” (ao contrário do que, tantas vezes,
acontecia com o próprio Povo de Deus), o autor sugere, com alguma ironia, que
esses pagãos, considerados como maus, prepotentes, injustos e opressores são
capazes de estar mais atentos aos desafios de Deus do que o próprio Povo
eleito.
Desta forma,
o autor desta história denuncia uma certa visão nacionalista, particularista,
exclusivista, xenófoba, que estava em moda na sua época entre os seus
contemporâneos. Desafia o seu Povo a aceitar que Jahwéh seja um Deus
misericordioso, que oferece o seu amor e a sua salvação a todos os homens, até
aos maus. Desafia, ainda, os habitantes de Judá a assumirem a mesma lógica de
Deus – lógica de bondade, de misericórdia, de perdão, de amor sem limites – e a
não verem nos outros homens inimigos que merecem ser destruídos, mas irmãos que
é preciso amar.
Salmo 24 (25)
Refrão: Ensinai-me, Senhor, os vossos
caminhos.
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós
sois Deus, meu Salvador.
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças, que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.
O Senhor é bom e reto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a
conhecer os seus caminhos.
2ª Leitura – 1 Coríntios 7, 29-31
O que tenho a dizer-vos, irmãos, é que o
tempo é breve. Doravante,
os que têm esposas procedam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não possuíssem; os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem.
De fato, o cenário deste mundo é passageiro.
os que têm esposas procedam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que andam alegres, como se não andassem; os que compram, como se não possuíssem; os que utilizam este mundo, como se realmente não o utilizassem.
De fato, o cenário deste mundo é passageiro.
MENSAGEM
Na
perspectiva de Paulo, os cristãos não devem esquecer que “o tempo é breve”,
quando tiverem que fazer as suas opções – nomeadamente, quando tiverem que
fazer a sua escolha entre o casamento ou o celibato. Em concreto, o que é que
isto significa?
O cristão vive mergulhado nas realidades terrenas, mas não vive para elas. Ele sabe que as realidades terrenas são passageiras e efêmeras e não devem, em nenhum caso, ser absolutizadas. Para o cristão, o que é fundamental e deve ser posto em primeiro lugar, são as realidades eternas… E o cristão, embora estimando e amando as realidades deste mundo, pode renunciar a elas em vista de um bem maior. O mais importante, para um cristão, deve ser sempre o amor a Cristo e a adesão ao Reino. Tudo o resto (mesmo que seja muito importante) deve subjugar-se a isto.
O cristão vive mergulhado nas realidades terrenas, mas não vive para elas. Ele sabe que as realidades terrenas são passageiras e efêmeras e não devem, em nenhum caso, ser absolutizadas. Para o cristão, o que é fundamental e deve ser posto em primeiro lugar, são as realidades eternas… E o cristão, embora estimando e amando as realidades deste mundo, pode renunciar a elas em vista de um bem maior. O mais importante, para um cristão, deve ser sempre o amor a Cristo e a adesão ao Reino. Tudo o resto (mesmo que seja muito importante) deve subjugar-se a isto.
Na sua
catequese aos coríntios, o apóstolo aplica estes princípios à questão do
casamento/celibato. Para ele, o casamento é uma realidade importante (ele
considera que tanto o casamento como o celibato são dons de Deus – cf. 1 Cor
7,7); mas não deixa de ser uma realidade terrena e efêmera, que não deve, por
isso, ser absolutizada. Paulo nunca diz que o casamento seja uma realidade má
ou um caminho a evitar; mas é evidente, nas suas palavras, uma certa predileção
pelo celibato… Na sua perspectiva, o celibato leva vantagem enquanto caminho
que aponta para as realidades eternas: anuncia a vida nova de ressuscitados que
nos espera, ao mesmo tempo que facilita um serviço mais eficaz a Deus e aos
irmãos (cf. 1 Cor 7,32-38).
Na verdade,
as palavras de Paulo fazem sentido em todos os tempos e lugares; mas elas
tornam-se mais lógicas se tivermos em conta o ambiente escatológico que se
respirava nas primeiras comunidades. Para os crentes a quem a Primeira Carta
aos Coríntios se destinava, a segunda e definitiva vinda de Jesus estava
iminente; era preciso, portanto, relativizar as realidades transitórias e efêmeras,
entre as quais se contava o casamento.
ALELUIA – Mc 1,15
Aleluia. Aleluia.
Está próximo o reino de Deus; arrependei-vos
e acreditai no Evangelho.
EVANGELHO – Mc 1,14-20
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu
para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se
o tempo e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia,
viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia,
viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.
O nosso texto
divide-se em duas partes. Na primeira, Marcos apresenta uma espécie de resumo
da pregação inicial de Jesus (cf. Mc 1,14-15); na segunda, o nosso evangelista
apresenta os primeiros passos da comunidade dos discípulos – a comunidade do
Reino (cf. Mc 1,16-20).
No breve
resumo da pregação inicial de Jesus, Marcos coloca na boca de Jesus as
seguintes palavras: “cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15).
Na expressão
“cumpriu-se o tempo”, a palavra grega utilizada por Marcos e que traduzimos por
“tempo” (“kairós”) refere-se a um tempo bem distinto do tempo material
(“chronos”), que é o tempo medido pelos relógios. Poderia traduzir-se como “de
acordo com o projeto de salvação que Deus tem para o mundo, chegou a altura
determinada por Deus para o cumprimento das suas promessas”.
Que “tempo” é
esse que “se aproximou” dos homens e que está para começar? É o “tempo” do
“Reino de Deus”. A expressão – tão frequente no Evangelho segundo Marcos –
leva-nos a um dos grandes sonhos do Povo de Deus…
A catequese
de Israel (como aliás acontecia com a reflexão teológica de outros povos do
Crescente Fértil) referia-se, com frequência, a Jahwéh como a um rei que,
sentado no seu trono, governa o seu Povo. Mesmo quando Israel passou a ter reis
terrenos, esses eram considerados apenas como homens escolhidos e ungidos por
Jahwéh para governar o Povo, em lugar do verdadeiro rei que era Deus. O exemplo
mais típico de um rei/servo de Jahwéh, que governa Israel em nome de Jahwéh,
submetendo-se em tudo à vontade de Deus, foi David. A saudade deste rei ideal e
do tempo ideal de paz e de felicidade em que Jahwéh reinava (através de David)
sobre o seu povo, vai marcar toda a história futura de Israel. Nas épocas de
crise e de frustração nacional, quando reis medíocres conduziam a nação por
caminhos de morte e de desgraça, o Povo sonhava com o regresso aos tempos
gloriosos de David. Os profetas, por sua vez, vão alimentar a esperança do Povo
anunciando a chegada de um tempo, no futuro, em que Jahwéh vai voltar a reinar
sobre Israel e vai restabelecer a situação ideal da época de David. Essa
missão, na perspectiva profética, será confiada a um “ungido” que Deus vai
enviar ao seu Povo. Esse “ungido” (em hebraico “messias”, em grego “cristo”)
estabelecerá, então, um tempo de paz, de justiça, de abundância, de felicidade
sem fim – isto é, o tempo do “reinado de Deus”.
O “Reino de
Deus” é, portanto, uma noção que resume a esperança de Israel num mundo novo,
de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Esta esperança está
bem viva no coração de Israel na época em que Jesus aparece a dizer: “o tempo
completou-se e o Reino de Deus aproximou-se”. Certas afirmações de Jesus,
transmitidas pelos Evangelhos sinópticos, mostram que Ele tinha consciência de
estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a chegada do Reino dependia da sua ação.
Jesus começa, precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão (“metanoia”) e o acolhimento da Boa Nova (“evangelho”).
Jesus começa, precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão (“metanoia”) e o acolhimento da Boa Nova (“evangelho”).
“Converter-se”
significa transformar a mentalidade e os comportamentos, assumir uma nova
atitude de base, reformular os valores que orientam a própria vida. É
reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência
do homem e ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva de Jesus, não é
possível que esse mundo novo de amor e de paz se torne uma realidade, sem que o
homem renuncie ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência e passe a escutar de
novo Deus e as suas propostas.
“Acreditar” não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida. “Acreditar” é escutar essa “Boa Notícia” de salvação e de libertação (“evangelho”) que Jesus propõe e fazer dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
“Acreditar” não é apenas aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida. “Acreditar” é escutar essa “Boa Notícia” de salvação e de libertação (“evangelho”) que Jesus propõe e fazer dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
“Conversão” e
“adesão ao projeto de Jesus” são duas faces de uma mesma moeda: a construção de
um homem novo, com uma nova mentalidade, com novos valores, com uma postura
vital inteiramente nova. Vai ser isso que Jesus vai propor em cada palavra que
pronuncia: que nasça um homem novo, capaz de amar o próximo (Mt 22,39), mesmo
aquele que é adversário ou inimigo (Lc 10,29-37); que nasça um homem novo, que
não vive para o egoísmo, para a riqueza, para os bens materiais, mas sim para a
partilha (Mc 6,32-44); que nasça um homem novo, que não viva para ter poder e
dominar, mas sim para o serviço e para a entrega da vida (Mc 9,35). Então, sim,
teremos um mundo novo – o “Reino de Deus”.
Depois de
dizer qual a proposta inicial de Jesus, Marcos apresenta-nos os primeiros
discípulos. Pedro e André, Tiago e João são – na versão de Marcos – os
primeiros a responder positivamente ao desafio do Reino, apresentado por Jesus.
Isso significa que eles estão dispostos a “converter-se” (isto é, a mudar os
seus esquemas de vida, de forma a que Deus passe a estar sempre em primeiro
lugar) e a “acreditar na Boa Nova” (isto é, a aderir a Jesus, a escutar a sua
proposta de libertação, a acolhê-la no coração e a transformá-la em vida).
A apresentação feita por Marcos do chamamento dos primeiros discípulos
não parece ser uma descrição fotográfica de acontecimentos concretos, mas antes
a definição de um modelo de toda a vocação cristã. Nesta catequese sobre a
vocação, Marcos sugere que:
1º O chamamento a entrar na comunidade do Reino é sempre uma
iniciativa de Jesus dirigida a homens concretos, “normais” (com um nome, com
uma história de vida, com uma profissão, possivelmente com uma família).
2º Esse chamamento é sempre categórico, exigente e radical (Jesus não
“prepara” previamente esse chamamento, não explica nada, não dá garantias
nenhumas e nem sequer se volta para ver se os chamados responderam ou não ao
seu desafio).
3º Esse chamamento não é para frequentar as aulas de um mestre qualquer, a fim de aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas é um chamamento para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos.
3º Esse chamamento não é para frequentar as aulas de um mestre qualquer, a fim de aprender e depois repetir uma doutrina qualquer; mas é um chamamento para aderir à pessoa de Jesus, para fazer com Ele uma experiência de vida, para aprender com Ele a ser uma pessoa nova que vive no amor a Deus e aos irmãos.
4º Esse
chamamento exige uma resposta imediata, total e incondicional, que deve levar a
subalternizar tudo o resto para seguir Jesus e para integrar a comunidade do
Reino (Pedro, André, Tiago e João não exigem garantias, não pedem tempo para
pensar, para medir os prós e os contras, para pôr em ordem os negócios, para se
despedir do pai ou dos amigos, mas limitam-se a “deixar tudo” e a seguir
Jesus).
O Evangelho
deste domingo apresenta, portanto, o convite que Jesus faz a todos os homens no
sentido de integrarem a comunidade do Reino; e apresenta também um modelo para
a forma como os chamados devem escutar e acolher esse chamamento.
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