terça-feira, 9 de setembro de 2014

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


A Igreja universal celebra neste domingo a festa da Exaltação da Santa Cruz.

É uma festa que se liga à dedicação de duas importantes basílicas construídas em Jerusalém por ordem de Constantino, filho de Santa Helena. Uma foi construída sobre o Monte do Gólgota; por isso, se chama Basílica do Martyrium ou Ad Crucem. A outra foi construída no lugar em que Cristo Jesus foi sepultado pelos discípulos e foi ressuscitado pelo poder de Deus; por isto é chamada Basílica Anástasis, ou seja, Basílica da Ressurreição.

A dedicação destas duas basílicas remonta ao ano 335, quando a Santa Cruz foi exaltada ou apresentada aos fiéis. Encontrada por Santa Helena, foi roubada pelos persas e resgatada pelo imperador Heráclio. Segundo contam, o imperador levou a Santa Cruz às costas desde Tiberíades até Jerusalém, onde a entregou ao Patriarca Zacarias, no dia 3 de Maio de 630. A partir daí a Festa da Exaltação da Santa Cruz passou a ser celebrada no Ocidente. Tal festividade lembra aos cristãos o triunfo de Jesus, vencedor da morte e ressuscitado pelo poder de Deus.
A leitura do Livro dos Números, (21, 4b-9), nos fala de uma cruz erguida por ordem de Deus, em determinado momento da história da salvação e que tornou-se sinal e garantia de vida para o povo de Deus a caminho. Não é difícil compreender que aquela cruz, sinal de vida e instrumento de salvação para o povo a caminho, foi somente imagem ou figura da cruz de Cristo, sinal e instrumento de vida e da salvação definitiva do novo povo de Deus a caminho. De fato, no altar da cruz, Cristo ofereceu o sacrifício único e definitivo pela salvação de todos os filhos de Deus. Além disso, a presente leitura descreve com simplicidade as principais características do relacionamento mútuo entre Deus e os homens. 
O diálogo salvífico entre Deus e os homens, é aqui apresentado com duas características básicas:Da parte de Deus: amor, perdão, compaixão, misericórdia. Mesmo depois de tamanha ingratidão demonstrada pelo seu povo, Deus acolhe a intercessão do seu servo Moisés e perdoa todos os seus filhos.Da parte do homem: a ingratidão e a insatisfação.De fato, logo depois que Deus os perdoou e interveio em favor da salvação deles, o povo revoltou-se contra Deus e por motivos tão banais, se comparados com o que Deus havia operado gratuitamente em favor de todos. O povo impacientou-se contra Deus e contra Moisés e se pôs a falar: Por que nos fizestes sair do Egito para morrermos no deserto?

Não há pão, falta água e já estamos fartos e com nojo deste alimento miserável. Com extrema rapidez o povo esqueceu os grandes feitos de Deus em favor de sua libertação e, diante das primeiras pequenas dificuldades do caminho para a vida, rebela-se contra Deus, dando uma grande demonstração de sua ingratidão para com o Deus Salvador.

A primeira vista, podemos até nos sentir encorajados a criticar a atitude ingrata do antigo povo, mas certamente encontraremos coisas muito semelhantes em nosso relacionamento pessoal e comunitário com Deus. Ele é nosso tudo. Dele recebemos todas as coisas. Desde a nossa concepção, Deus vem realizando grandes milagres em nosso favor. É muito comum esquecermos de manifestar nossa gratidão por tudo o que recebemos gratuitamente, mas com freqüência, diante das primeiras dificuldades do nosso caminho para a plenitude da vida em Deus, esquecemos toda a bondade de Deus para conosco e nos rebelamos, somos ingratos.

São Paulo em sua carta aos filipenses (2,6-11), quer mostrar-nos como foi o momento da cruz, lugar e situação em que Deus, na pessoa do Filho amado, nos deu sua maior prova de amor. Ainda que nós homens não fôssemos merecedores de nada da parte de Deus, dada nossa condição de escravos do pecado, Jesus esvaziou-se inteiramente de sua condição e humilhou-se, assumindo nossa condição humana e carregou sobre si o peso de nossos pecados, redimindo com sua cruz a humanidade decaída e restaurando em todos nós a dignidade de filhos perdida com o pecado. Naquele gesto da cruz, Jesus além de nos dar a maior prova de amor, dá o exemplo do perfeito relacionamento entre nós filhos e Deus nosso Pai: total obediência e acolhida da sua vontade; perfeito abandono e total confiança no amor misericordioso do Pai.

No Evangelho de João (3,13-17), encontraremos uma releitura, à luz de Cristo, daquela cruz erguida por Moisés no deserto e que foi sinal e instrumento de salvação para o povo de Deus a caminho. São João coloca na boca de Jesus a afirmação: "do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem, tenham a vida eterna". Com estas palavras, Jesus confirma que a cruz não é um simples acidente de caminho, mas uma necessidade na vida de qualquer um de seus seguidores de todos os tempos, pois no plano salvífico do Pai, a plenitude da vida virá somente depois da cruz e da ressurreição. É preciso abraçar com coragem e dignidade a cruz de cada dia, para poder ter a esperança e um dia contemplar Deus face-a-face. Para o novo e definitivo povo de Deus, os batizados, a cruz também é sinal e instrumento de salvação. Nela, todo filho pode saciar sua sede de perdão, misericórdia e reconciliação.

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