O DEUS PERTO DE NÓS
CONTEXTO
A nossa leitura situa-nos no
Reino do Norte (Israel), durante o reinado de Acab (873-853 a.C.). No país
multiplicam-se os lugares sagrados onde se adoram deuses estrangeiros. De
acordo com 1 Re 16,31-33, o próprio rei – influenciado por Jezabel, a sua
esposa fenícia – erige altares a Baal e Asserá e presta culto a esses deuses.
Por detrás deste quadro está, provavelmente, a tentativa de Acab em abrir
Israel a outras nações, a fim de facilitar o intercâmbio cultural e comercial.
Mas essas razões políticas não são entendidas nem aceites pelos círculos
religiosos de Israel.
Contra estes desvios à fé
tradicional, levanta-se o profeta Elias. Ele aparece como o representante
desses israelitas fiéis, que recusam a substituição de Jahwéh por deuses
estranhos ao universo religioso de Israel. Num episódio dramático cuja memória
é conservada no primeiro Livro dos Reis, o próprio Elias desafia os profetas de
Baal para um duelo religioso, que termina com o massacre de quatrocentos
profetas de Baal, no monte Carmelo (cf. 1 Re 18). Esse episódio é, certamente,
uma representação teológica dessa luta sem tréguas que se trava entre os fiéis
a Jahwéh e os que abrem o coração às influências culturais e religiosas de
outros povos.
O texto que nos é proposto como
primeira leitura aparece, precisamente, na sequência do massacre do Carmelo.
Jezabel, informada da morte dos profetas de Baal, promete matar Elias; e o
profeta foge para o sul, a fim de salvar a vida. Atravessa o Reino do Sul
(Judá), passa por Beer-Sheva e dirige-se para o deserto, em direcção ao monte
Horeb/Sinai (cf. 1 Re 19,1-8). É aí que o nosso texto nos situa.
2ª Leitura Rm 9,1-5
CONTEXTO
Depois de apresentar, nos
primeiros oito capítulos da Carta aos Romanos, uma catequese sobre a salvação
(apesar do pecado que submerge todos os homens e desfeia o mundo Deus, na sua
bondade, oferece gratuitamente a todos os homens, através de Jesus Cristo, a
salvação), Paulo vai referir-se, agora, a um problema particular, mas que o
preocupa a ele e a todos os cristãos: que acontecerá a Israel que, apesar de
ser o Povo eleito de Deus e o Povo da Promessa, recusou essa salvação que
Cristo veio oferecer? Israel ficará, devido a essa recusa, definitivamente à
margem da salvação? Na verdade, Deus jurou ao seu Povo, em vários momentos da
história, libertá-lo e salvá-lo; ora, se Israel ficar excluído da salvação,
podemos dizer que Deus falhou? Podemos continuar a confiar na sua Palavra? É a
estas questões que, genericamente, Paulo procura responder nos capítulos 9-11
da Carta aos Romanos.
O texto que nos é proposto como segunda leitura deste domingo é a introdução a esta questão.
O texto que nos é proposto como segunda leitura deste domingo é a introdução a esta questão.
Evangelho Mt 14,22-33
CONTEXTO
No passado domingo, Jesus foi-nos
apresentado como o novo Moisés, que conduz “ao deserto” um povo de coração
escravo. Aí, liberta-o da opressão do egoísmo, ao mostrar-lhe que os bens são
um dom de Deus, destinados a ser partilhados com todos os homens. Nasce, assim,
a comunidade do Reino – isto é, essa comunidade fraterna de amor e de partilha,
que se senta à mesa de Deus e que d’Ele recebe vida em abundância (cf. Mt
14,13-21).
O texto do Evangelho que hoje nos é proposto vem na sequência desse episódio. Mateus começa por observar que, depois desses sucessos, Jesus “obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão” (Mt 14,22). Esta nota pode indicar que Jesus quis arrefecer o entusiasmo excessivo dos discípulos (o autor do quarto Evangelho, a propósito do mesmo episódio, refere que Jesus Se retirou sozinho para o monte, pois sabia que “viriam arrebatá-l’O para O fazerem rei” – Jo 6,15).
O texto do Evangelho que hoje nos é proposto vem na sequência desse episódio. Mateus começa por observar que, depois desses sucessos, Jesus “obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão” (Mt 14,22). Esta nota pode indicar que Jesus quis arrefecer o entusiasmo excessivo dos discípulos (o autor do quarto Evangelho, a propósito do mesmo episódio, refere que Jesus Se retirou sozinho para o monte, pois sabia que “viriam arrebatá-l’O para O fazerem rei” – Jo 6,15).
O episódio situa-nos na área do
lago de Tiberíades ou da Genesaré, esse lago de água doce com 21 quilometros de
comprimento e 12 de largura situado na Galileia e que é o grande reservatório
de água doce da Palestina.
Para os judeus, o mar – e o lago de Tiberíades ou de Genesaré é considerado, para todos os efeitos, um “mar” – era o lugar onde habitavam os monstros, os demonios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da teologia judaica, no mar o homem estava à mercê das forças demoníacas; e só o poder de Deus podia salvá-lo…
Para os judeus, o mar – e o lago de Tiberíades ou de Genesaré é considerado, para todos os efeitos, um “mar” – era o lugar onde habitavam os monstros, os demonios e todas as forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da teologia judaica, no mar o homem estava à mercê das forças demoníacas; e só o poder de Deus podia salvá-lo…
Recordemos, ainda, que o nosso
texto está incluído numa seção (cf. Mt 13,1-7,27) do Evangelho segundo Mateus,
a que poderíamos chamar “instrução sobre o Reino”. Aí, Mateus põe Jesus a
dirigir-Se sobretudo aos discípulos e a instruí-los sobre os valores e os
mistérios do Reino. É neste contexto de catequese sobre o Reino que devemos
situar o episódio que hoje nos é proposto.
Lembremos, finalmente, que o Evangelho segundo Mateus – escrito durante a década de 80 – se destina a uma comunidade cristã que já esqueceu o seu entusiasmo inicial por Jesus e pelo seu Evangelho e que vive uma fé comoda, instalada, pouco exigente. Para os crentes, avizinham-se grandes contrariedades e perseguições… A comunidade só poderá subsistir se confiar em Jesus, na sua presença, na sua proteção.
Lembremos, finalmente, que o Evangelho segundo Mateus – escrito durante a década de 80 – se destina a uma comunidade cristã que já esqueceu o seu entusiasmo inicial por Jesus e pelo seu Evangelho e que vive uma fé comoda, instalada, pouco exigente. Para os crentes, avizinham-se grandes contrariedades e perseguições… A comunidade só poderá subsistir se confiar em Jesus, na sua presença, na sua proteção.
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