O NOVO MANDAMENTO DO AMOR
Ex 22,20-26; SÍ 17; 1Ts 1,5c-10; Mt 22,34.40
A experiência da precariedade da vida deve levar as
pessoas à liberdade do agir.
Quem passa pelo sofrimento e pela experiência da
dor, deseja libertar-se. Todavia, a libertação só será autêntica se,
progredindonà liberdade, a pessoa superar o complexo de vítima e o desejo de
revanche, assumindo a postura de solidariedade ante os sofredores e de
misericórdia ante o arrependimento de quem erra. A prática da justiça, para
quem crê, transita nessas duas bitolas: solidariedade e misericórdia.
Porque misericordioso...
O livro do Êxodo usa o Egito não como
entidade espaço-geográfica, mas como categoria teológica. Entendido sob esse
prisma, o Egito pode existir mesmo em Israel. Esse elemento aparece com força
no texto da liturgia de hoje. Estrangeiro — viúva — órfão são três classes de
pessoas cuja situação socioeconômica e política as iguala à situação de Israel
no Egito. A opressão a essas pessoas desloca o Egito para Israel. Em
consequência, se Deus agiu contra o Egito para libertar Israel, da mesma forma
agirá contra Israel para libertar essas pessoas. Essa advertência do texto
bÍblico não é uma ameaça a Israel. É um chamado à consciência. Por ter passado
pelo sofrimento, Israel é convidado a superar quaisquer formas de opressão e a
viver a solidariedade para com aqueles que em seu meio vivem em condições de
precariedade.
O texto também faz referência às relações econômicas de
empréstimo e penhora de bens. Emerge como objeto de exploração, nessas
relações, o pobre que, tanto no caso de empréstimo, como no de penhora de bens,
entra por necessidade. A exploração dos pobres por juros ou pela expropriação
de seus bens é vista como injustiça. Certamente a referência a esse tipo de
relações evidencia uma realidade que ocorria em Israel. Voltando seu olhar para
o pobre, Deus lê os fatos a partir de sua condição. Eles não devem ser punidos
por sua condição, mas gozarem da misericórdia de quem os socorre. De forma
pedagógica, o autor sagrado quer fazer emergir a imagem e a missão de Israel
como povo de Deus. É sempre importante ter presente que, para ser povo eleito
ou povo de Deus, Israel também tem de escolher Deus e sua justiça, manifestando
isso pela misericórdia e pela prática da caridade para com os pobres.
Amarás...
Jesus
continua sendo desafiado por seus algozes religiosos. “Perfeitos” no
cumprimento da lei, vista como salvadora, os fariseus testam Jesus indagando
sobre o maior mandamento. A resposta. de Jesus toca na raiz de todas as
práticas da fé. Ele não se baseia na lei, porque ela, como mediação, não tem
força de salvação. O que coloca o crente no caminho da salvação é o espírito
com que se abre a Deus e coloca em prática os mandamentos.
Resumir
os mandamentos no amor a Deus e ao próximo reflete o caráter simples de Deus.
Déus salva por amor, por isso vem ao encontro
do ser humano. Nesse sentido, o amor de Deus não é abstrato, mas manifesta-se
na comunicação da vida a cada ser vivo e na aproximação dele em relação à
humanidade. Dessa forma, podemos afirmar a existência do único e fundamental
mandamento do amor. Se Deus nos ama doando-nos a vida e nos salvando, então,
amar a Deus significa amar igualmente ao próximo. Não se ama ao próximo porque
se ama a Deus. Se o amor ao próximo é a expressão concreta do amor a Deus, não
amá-lo significa que-nunca se amou a Deus.
As práticas religiosas têm por finalidade levar à
consciência de Deus e de nossa necessidadede amá-lo. Dessa forma, práticas e
mentalidades religiosas rápidas em julgar e condenar pessoas, utilizando-se
inclusive de violência e de difamação, não passam de um engodo, apresentandô
uma falsa imagem de Deus. O problema do farisaísmo não é a questão do desejo de
Deus, mas o da absolutização de uma imagem de Deus, excluindo todas as outras
experiências de fé, sem abertura para a misericórdia e o diálogo. O amor é
mandamento único, porque jamais exclui alguém, acolhendo a todos os que se
abrem para acolher Deus e o próximo.
Acolher o amor...
A fé manifesta-se como acolhida ao amor de Deus para
conosco. Recusar o amor significa voltar para o Egito e permitir que as
injustiças e as forças de morte atuem na historia. O verdadeiro amor não e uma
ideia abstrata ou sentimentode posse. É atitude de quem vive os valores do
Reino como norma de vida. O testemunho de fé transcende fronteiras, porque,
enquanto acolhida da Palavra na alegria do Espírito de Jesus, leva a conversão,
que e a liberdade em Deus.
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