VII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
Lv 19,1-2.17-18 – Sl 102 – 1 Cor 3,16-23 – Mt
5,138-48
O mandamento do amor ao
próximo não era desconhecido antes de Jesus. De fato, no Antigo Testamento
nunca se havia pensado em amar a Deus sem se interessar pelo próximo (1ª
leitura). Nos Provérbios encontra-se até uma passagem que ressoa quase com as
mesmas palavras do mandamento de Cristo: “Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de
comer; se tem sede dá-lhe de beber...” Mas é necessário acrescentar que a frase
surge ali inteiramente isolada das demais.
Um mandamento paradoxal
Em sua formulação, em se
conteúdo em sua forte exigência, o mandamento de Jesus é novo e revolucionário.
É novo pelo se universalismo, por sua
extensão em sentido horizontal: não conhece restrições de classe, não leva em
conta exceções, limitações, raça, religião; dirige-se ao homem nas unidade e na
igualdade de sua natureza. É novo pela medida,
pela intensidade, por sua dimensão vertical. A medida é dada pelo próprio
modelo que nos é apresentado: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns
aos outros; como eu vos amei, assim amai-vos uns aos outros”. A medida de nosso
amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós; ou melhor, o mesmo amor que o Pai tem por Cristo:
porque “Como o Pai me amou também eu vos amei”. Deus é amor e nisto se
manifestou o seu amor: ele nos amou primeiro e enviou seu Filho para expiar
nossos pecados. É novo pelo motivo
que nos propõe: amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus;
exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação.
Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não
o nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria
nela o bem, amado-a. É novo porque Cristo o eleva
ao nível do próprio amor de Deus. Se a concepção judaica podia deixar crer
que o amor fraterno, se põe no mesmo plano dos outros mandamentos, a visão
cristã lhe dar um lugar central, único. No Novo testamento o amor do próximo
está indissoluvelmente ligado ao preceito do amor de Deus.
Temos inimigos a perdoar?
“A fé... lembra ao cristão
os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bens-aventuranças; convida a
ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, á maledicência, a
violência; ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca
passará”.Mas insiste ainda: “Ama teu inimigo..., oferece a outra face...Não
pagues co o mal o mal”. Quantos cristãos fizeram da palavra de Jesus a lei da
sua vida! Q eu perdoa, Poe amor de Cristo crucificado, o assassino do seu
irmão; pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos que
superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas
calúnias, difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho
que tentou arruiná-los etc...
Não devemos também pedir perdão?
Em nome da religião e de
Cristo, os cristãos se dividiram , dilacerando assim o corpo de Cristo. Viram
no irmão um inimigo, se “excomungaram” reciprocamente, chamando-se hereges,
queimando, queimando livros e imagens... Derramou-se sangue, explodiu ódio em
guerras de religião. O orgulho, o desprezo e a falta de caridade caracterizaram
as diatribes teológicas e os escritos apologéticos. Os inimigos de Deus e da
Igreja, da religião combatidos com armas e com ódio. Travaram-se lutas,
organizaram-se cruzadas. Hoje, a Igreja superou, ou encaminha para superar,
muito dessas limitações. Não mais hereges, mas irmãos separados; não há mais
adversários, mas interlocutores; não consideramos mais o que divide, mas antes
de tudo o que une; não condenamos em bloco e a priori as grandes religiões não
cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos
permitem entrar em diálogo. Mas a intolerância e a polêmica estão sempre de
atalaia. Não estaremos acaso usando dentro da própria Igreja, aquela
agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos como os de fora da
Igreja, aquela agressividade e polêmica
excessivas que outrora usávamos com os de fora da Igreja? Quantos cristãos
engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar como “inimigos”
os próprio irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor! E sem perdão!
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