A CONFIANÇA EM DEUS
1ª Leitura Is 49, 14-15
• A um Povo
que vive numa situação dramática de frustração, de desorientação, de total
incerteza em relação ao futuro, que olha à volta e não vê Deus presente na sua
caminhada, que começa a duvidar do amor e da fidelidade de Deus, o profeta diz:
“não desanimeis: apesar da aparente ausência, Deus ama-vos ainda mais do que
uma mãe ama o filho; por isso, Ele continua comprometido convosco, continua a
percorrer convosco esse caminho histórico que, dia a dia, vos leva ao encontro
da vida plena”. É uma mensagem eterna, consoladora e repousante… Num mundo em
que as referências se alteram rapidamente, em que o futuro é incerto e a
humanidade não sabe exactamente para onde caminha, em que o terrorismo, a
guerra, as ameaças ambientais, o totalitarismo dos bens materiais ameaçam o
frágil equilíbrio da humanidade, somos convidados a descobrir o amor materno de
Deus, a sua solicitude nunca desmentida, a sua presença protectora. Temos medo
de quê, se Deus é a mãe que nos ama de forma absoluta, que vigia o berço onde
nós dormimos, que vela e nos serena com a sua presença e a sua solicitude
maternal?
• A fotografia
de Deus que o profeta nos apresenta convida-nos a descobrir um Deus que não é
interesseiro, chantagista, negociante… O nosso Deus é um Deus que nos ama,
gratuitamente, de forma absoluta e eterna – como uma mãe ama o filho, mesmo
quando ele é rebelde. Qual é, na verdade, o Deus em quem acreditamos?
• O amor de
Deus não é condicional e não espera nada em troca. É este amor desinteressado
que procuramos testemunhar, ou os nossos gestos de bondade, de amizade, de
misericórdia são um negócio em que esperamos ganhar?
2ª Leitura 1Cor 4,1-5
• A reflexão
de Paulo convida-nos, em primeiro lugar, a tomar consciência daquilo que é
essencial na nossa fé: a proposta de salvação/libertação que, em Jesus, Deus
oferece aos homens. É isso e apenas isso que deve atrair o nosso olhar e encher
o nosso coração. Não convém perder isto de vista: o cristianismo não é a adesão
a uma determinada filosofia ou estilo de vida, nem a aceitação de uma moda que
agora está “in” mas a qualquer momento pode ficar “out”; mas é o abrir o
coração à oferta de salvação que, em Jesus, Deus nos faz.
• Portanto,
não interessam muito os “invólucros”, através dos quais a proposta de salvação
de Deus nos chega: se o padre é simpático ou não, se o seu discurso é cativante
ou não, se temos razões de queixa contra ele ou não, se ele tem muitos defeitos
ou muitas virtudes… O essencial é a mensagem; os mensageiros são apenas
veículos mais ou menos imperfeitos dessa mensagem eterna.
• Os veículos
da mensagem – sejam eles padres ou leigos – devem ter consciência de que não
estão a anunciar-se a si próprios… Por isso, devem evitar atrair sobre si as
luzes da ribalta; devem apresentar a proposta salvadora de Deus com fidelidade
e coerência – sem adoçar as palavras e sem procurar fazer jogos de “charme”;
devem assumir-se como discretos e fiéis “servos de Cristo e administradores dos
mistérios de Deus”.
• Paulo refere
o seu desinteresse em relação ao julgamento dos homens; só lhe interessa o
julgamento de Deus. Estas palavras, no entanto, não podem servir para
justificar comportamentos arbitrários ou prepotentes por parte dos animadores
das comunidades cristãs (“faço o que me apetece e não tenho de dar satisfações
a ninguém”…). Devem ser entendidas no contexto em que se apresentam: Paulo
está, apenas, a dizer que não lhe interessam os juízos dos homens acerca do seu
jeito para brilhar com as palavras; só lhe interessa ser fiel à missão que Deus
lhe confiou.
Evangelho Mt 6,24-34
• A primeira
grande questão que, neste texto, Jesus nos coloca é a questão das nossas
prioridades. Dia a dia somos bombardeados com um conjunto de propostas mais ou
menos aliciantes, que nos oferecem a chave da felicidade e da vida plena: o
dinheiro, o êxito profissional, a progressão na carreira, a beleza física, os
aplausos das multidões, o poder… E estes ou outros valores semelhantes –
servidos por técnicas de publicidade enganosa – tornam-se o “objectivo final”
na vida de tantos dos nossos contemporâneos. No entanto, Jesus garante-nos que
a vida plena não está aqui e que, se estes valores se tornam a nossa prioridade
fundamental, a nossa vida terá sido um tremendo equívoco. Para Jesus, é no
“Reino” – isto é, na aposta incondicional em Deus e no acolhimento do seu
projecto de salvação/libertação – que está o segredo da nossa realização plena.
Quais são as minhas prioridades? Em que é que eu tenho apostado
incondicionalmente a minha vida?
• As propostas
equívocas de felicidade criam, muitas vezes, desorientação e confusão. Ao
encherem o coração do homem de ídolos com pés de barro, afastam o homem de Deus
e deixam-no perdido e sem referências, só diante de um mundo hostil – como
criança perdida, indefesa, impotente. Jesus lembra-nos, porém, que Deus é um
Pai cheio de solicitude e de amor, permanentemente atento às necessidades dos
filhos (Ele até veste os lírios do campo e alimenta as aves do céu…). Ele
convida-nos a colocar a nossa confiança e a nossa esperança nesse Pai que nos
ama e a enfrentar o dia a dia com essa serena confiança que nos vem da certeza
de que Deus é nosso Pai, conhece as nossas dores e necessidades e nos pega ao
colo nos momentos mais dramáticos da nossa caminhada.
• A referência
à incompatibilidade entre Deus e o dinheiro convida-nos a uma particular
reflexão neste campo… O dinheiro é, hoje, o verdadeiro centro do poder no
mundo. Ele compra consciências, poder, bem-estar, projecção social,
reconhecimento e até compra amor. Por ele mata-se, calcam-se aos pés os valores
mais fundamentais, renuncia-se à própria dignidade, envenena-se o ambiente (que
interessa o buraco do ozono, a poluição dos rios, o desaparecimento das
florestas, se isso fizer mais ricos os donos do mundo…), escravizam-se os
irmãos. Quando a lógica do “ter mais” entra no coração do homem e o domina, o
homem torna-se escravo e, por sua vez, leva a escravidão aos outros homens.
Torna-se injusto, prepotente e explorador, passa indiferente ao lado dos irmãos
que vivem abaixo do limiar da dignidade humana, deixa de ter tempo para gastar
com aqueles que ama (o amor do dinheiro sobrepõe-se a todos os outros amores),
relega Deus para a lista dos valores secundários, acha o “Reino” proposto por
Jesus “uma absurda quimera”. Como nos situamos face a isto? Se tivermos que
optar (não em termos teóricos, mas nas situações concretas da vida) entre o
dinheiro e os valores do “Reino”, qual é que escolhemos?